20 dezembro 2006

Removido

Manhê, eu tô na página 31 da Seção 2 do D.O.U. !!

03 dezembro 2006

Campanha

Sigo minha campanha pela melhoria da qualidade de vida individual por meio do mais restrito controle de natalidade. Ainda que isso leve ao fim dos dias.

17 novembro 2006

Fenômenos da Internet IV

Esse videozinho tá fazendo sucesso no SêoTubo. Achei bacaninha.

04 novembro 2006

Boas lembrancas

Estou exatamente no mesmo cybercafeh no fim do mundo onde oito meses atrás recebi a confirmacao definitiva de que nao voltaria a BSB, ficaria pelo caminho em BsAs...me deu uma sensacao boa: duas vezes em Ushuaia no mesmo ano, algo correto devo estar estou fazendo...

Tirei o dia para ficar à toa enquanto nao chega a hora de embarcar de novo para o Prata. Depois de uma semana de viagem, estou bem cansado, nao serah agora que vcs lerao sobre esta viagem, tenho muitas notas para fazer antes de publicar algo aqui. Por enquanto fica soh o registro de que o lejano sur é um lugar fantástico, me dá ganas de voltar, e o conselho: brasileiros, esquecam Brasiloche, o melhor da Argentina está ao sul do Rio Negro.

26 outubro 2006

Due South

Faz tempo que não faço nenhum post, pura preguiça, porque tenho anotações para vários. De qualquer forma, vai ficar para depois, parto amanhã outra vez para o lejano sur, acompanhando meus colegas argentinos em sua viagem de fim de curso - Patagônia na conta da viuda.

Durante os próximos oito dias passarei pelo Glaciar Perito Moreno, pelo Monte Fitz Roy, ou El Chalten no dialeto dos locais e, depois de uma breve escala em Río Gallegos, de volta aonde o vento faz a volta, o fim do mundo, Ushuaia. Quem ficou curioso pode ter um gostinho consultando www.parquesnacionales.gov.ar, visitando as páginas do Parque Nacional Glaciares e o Parque Nacional da Terra do Fogo. Não sei se terei muita chance de postar no caminho, mas prometo que tento. De qualquer forma, fico devendo um relato completo da Patagônia, com fotos, ainda em novembro - me cobrem.

27 setembro 2006

Des-homenagem póstuma

Um colega me enviou um email com esta reportagem do NoMínimo, parece que vão promover postumamente Vinícius de Moraes a embaixador.

A desgraça de ser contra o sistema, de ser um rebelde, um maldito, é que eventualmente o sistema o coopta. Com essa promoção póstuma, a instituição mais monárquica da república finalmente consegue fagocitar seu mais ilustre rebelde. É triste, suas lendas perderão a graça.

Se ele se importasse em ser embaixador, não teria sido quem foi. Não ter chegado a embaixador por ter sido um barnabé boêmio e relapso faz parte da mitologia Vinícius de Moraes. Por que então reincorporá-lo a uma instituição na qual nunca se sentiu totalmente integrado? É tão ruim assim admitir que um dos "gênios nacionais" considerava o Merré apenas como seu day job, algo para pagar as contas e financiar seu notório alcoolismo enquanto ele dava prioridade a outras coisas?

A não ser, é claro, que isso faça parte de uma iniciativa maior e o Itamaraty busque se redimir da caça aos "bêbados, viados e comunistas" promovida nos corredores da casa durante a ditadura (reza a lenda que a caçada parou quando perceberam que não sobraria ninguém). Se a reincorporação, ainda que póstuma, alcançar os demais demitidos que não alcançaram a fama, bacana.

PS1: O texto da reportagem é para lá de forçado...chamar a demissão de Vinícius de Moraes de "um dos atos mais brutais da ditadura militar" é de uma falta de noção...quem dera tivesse sido assim...

PS2: Me irrita essa glorificação de Garota de Ipanema por ser uma das músicas mais gravadas do mundo. A música é sinônimo de recepção de dentista e viagem de elevador - e é exatamente por isso que ela é tão gravada!!! Quem é que tem orgulho de música de elevador??

19 setembro 2006

Alienação total

Diálogo com colega brasileiro responsável hoje de manhã:

Colega - Tu viu o que está acontecendo no Brasil?
Eu - O vídeo?
Colega - É, tá no YouTube já.
Eu - É, mas tiraram...
Colega - Tem gente já comparando ao Watergate, dizendo que há base para impedir a reeleição...
Eu - Do que c@%$&#* você tá falando?
Colega - Ué, do vídeo do Verdoim...você não?
Eu - Que mané vídeo do Verdoim, rapá! Tou falando do vídeo da Ciccarelli transando na praia que eu vi ontem no PornoTube!

É bom manter a perspectiva do que é realmente importante nesta vida...

10 setembro 2006

Post Scriptum

O post "post scriptum" vai com considerável atraso porque somente agora tive acesso ao vídeo. No dia do meu aniversário meus colegas argentinos me deram este presentinho maneiro. As coisas que eu faço pela integração regional...


05 setembro 2006

Eleições 2006

Como perdi o prazo para cadastramento no Cartório ZZ para eleitores no exterior, estava cogitando seriamente fazer um bate e volta em Brasília para cumprir meu dever cívico e votar, apesar de nem ter considerado seriamente em quem (a escolha óbvia está restringida por razões de motivação pessoal). Porém, mesmo se a promoção da Varig não tivesse já esgotado todas as passagens entre BsAs e BSB por todo o mês de setembro e início de outubro, acho que esta figura aqui me convenceria a não ir:



Toooooooooooooossssccccooooooooo.....

Via Kibeloco

22 agosto 2006

27

Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio
Como zune um novo sedã

Tempo, tempo, tempo mano velho
Tempo, tempo, tempo mano velho
Vai, vai, vai, vai, vai, vai

Tempo amigo seja legal
Conto contigo pela madrugada
Só me derrube no final


Pato Fu no ohrwurm.

De hoje a um ano.

13 agosto 2006

Virgen de Lujan


Originally uploaded by Explorador deitado na rede.

Praça do Congresso. Marco zero das rodovias federais argentinas (rutas nacionales), alterado por um vândalo de bom humor.

Tem novas fotos no meu Flickr.

08 agosto 2006

Cacerolazo

Na segunda de noite, por volta das 21h00, houve um panelaço de 15 minutos aqui na minha rua.

No dia seguinte saí por aí perguntando o que houve até que o jornaleiro da esquina me informou que uma madame distribuiu folhetos pela vizinhança clamando a um cacerolazo para protestar por mais segurança. Era a única pessoa batendo panela na rua, todos os outros estavam em suas sacadas. Falta de segurança é o tema do momento por aqui - lembro do PCC e de São Paulo e tenho vontade de rir. Meus colegas argentinos também caíram na risada, o análogo brasileiro de um cacerolazo na esquina de Arroyo e Alvear seria usar a Oscar Freire em São Paulo ou o Pier 21 em Brasília como passarela de protesto. A madame deve ter sido assaltada recentemente.

Cheguei a ligar a TV na hora atrás de alguma notícia que explicasse o fenômeno, mas foi algo isolado, o governo não caiu, não houve saques, nada. Era só meia dúzia de gatos pingados, mas o barulho era infernal, vocês não fazem idéia. O suficiente para dar calafrios em alguns argentinos e me deixar com uma curiosidade mórbida pelo ocorrido em 2001 - quase fiquei decepcionado, esperava ligar a TV e ver gente mascarada na rua queimando carros, sei lá...

02 agosto 2006

Não beba água, peixes fazem sexo nela....

Está provado, água faz mal. Beba cerveja, fermentados e destilados em geral, o efeito diurético garante que você vai expelir o excesso evitando eventuais problemas causados pelo consumo excessivo de água. Além disso, o processo de fermentação e destilação mata os germes e garante que água que passarinho não bebe é boa para beber.

Aliás, antes da invenção de coisas moderníssimas como sistema de esgoto e processo de pasteurização, somente a água ingerida por meio de bebidas alcóolicas que era garantida de estar livre de doenças. A humanidade só sobreviveu à Idade Média e a todas suas pestes por causa dos 5 litros de cerveja que faziam parte da ração diária dos monges, os mesmos caras que guardaram o conhecimento da antiguidade clássica e passaram adiante, dando origem ao que chamamos hoje de Civilização Ocidental.

Pense nisso no seu próximo chopp. Em suas mãos está um dos pilares do mundo civilizado.

Saúde.

20 julho 2006

Dia do Amigo

Hoje é o Dia do Amigo, algo que nunca pegou no Brasil, mas que aqui é comemorado. Junto do Dia das Mães, é mais um desses feriados criados pela burguesia capitalista que só quer arrancar o rico dinheirinho da oprimida classe operária e aumentar as vendas do comércio.

No entanto, independente de ser uma data criada só para alimentar o desenfreado consumismo de nossas sociedades, eu queria aproveitar a deixa para dizer aos amigos distantes geograficamente que hoje estarei ao redor de novos amigos, a tomar um Malbec, ouvindo o novo CD do Gotan Project, pensando em vocês.

E com saudades de um em especial.

11 julho 2006

Seis graus para Kevin Bacon

Você já ouviu falar do jogo "Seis graus para Kevin Bacon"? Basicamente é assim: alguém diz o nome de um ator ou atriz do showbizz, a idéia é que ele ou ela esteve em um filme com alguém, que trabalhou com alguém, que trabalhou com alguém...que fez um filme com Kevin Bacon. Está tudo explicadinho aqui.

O jogo se baseia em uma hipótese de Stanley Milgram, o mesmo psicólogo do assustador experimento sobre autoridade no qual seres humanos normais torturavam e matavam uma cobaia humana só porque alguém mandava acionar uma máquina de choques elétricos (de mentirinha, claro - mas os torturadores não sabiam disso).

A hipótese de Milgram é mais ou menos assim: qualquer indivíduo está ligado a outro por até seis graus de separação. Ou seja, você conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece um outro indivíduo da face da Terra, qualquer outro, inclusive, Kevin Bacon. Isso é chamado de Small World Phenomenon ou Teoria dos Seis Graus de Separação. A idéia é pré-internet e pré-Orkut, os primeiros experimentos foram feitos com cartas entregues pessoalmente.

Eu sempre adorei essa idéia, apesar de ver um certo exagero nela. Até ler esta notícia aqui - desde então não vejo nenhum exagero e tenho até certo medo dela. Deu no Fantástico.

Pois bem, não é que eu fiz o primeiro colegial - em uma das escolas então mais-conceituadas-seu-filho-vai-passar-no-vestibular de Santos - com uma das advogadas acusadas de transmitir a ordem do PCC para "virar" o presídio de Araraquara?!?! Lembro dela como uma menina simpática que mexia com os hormônios da galera, nunca mais tinha tido notícias. Não sei como está hoje, tirando o fato de que se meteu na maior roubada. Bandido também tem direito à plena defesa, mas, segundo as acusações, aparentemente minha ex-colega extrapolou um tanto os limites legais da relação cliente-advogado.

Confirmada a notícia, isso significa que entre mim e Marcola há apenas 2 graus de separação. A partir de Marcola, não consigo sequer imaginar o tanto de assassinos e terroristas que estão a menos de 6 graus. Assustador.

Você está rindo do quê?!? Se você lê este blog, você está apenas a três graus de separação do acusado de ser o mandante da mini guerra civil que assolou Sampa há muito pouco tempo...

Tenha medo, muito medo. Lembre-se disso na próxima atuação do PCC, o quão próximo o crime organizado está de você...

02 julho 2006

A vida continua...

Caguei para a desclassificação de Brasil e Argentina. Houve buzinaço e comemoração por aqui, houve mais recalcados que até foram para o Obelisco. Mas, por mais que quisesse me importar, simplesmente não deu. Não é só que Tio Alex está certo, no fim das contas. É uma questão de proporcionalidade...depois da perda da semana passada, não dá para sentir nada além de absoluta indiferença pela Copa do Mundo.

Olhe, ultimamente ando irritado com os clichês que me dizem na tentativa de me ajudar no luto. Veja bem, detesto ser alvo de pena. Mas, objetivamente, clichês não o são à toa, a vida continua...em breve conseguirei voltar a me importar com futilidades como equipes de futebol, encontrar algum sentido nessas coisas banais. Hoje mesmo, por exemplo, não pude deixar de sentir uma certa satisfação e sorrir ao ver que meu cachorro cagou à porta Embaixada da França.

(Independente de perdas mais importantes, Roberto Carlos ajeitando a meia foi algo tão patético que não merece nenhuma consideração mesmo.)

27 junho 2006

Saudade

Meu pai tem um amigo, seu melhor amigo desde o cursinho pré-vestibular. Hoje eles estão velhinhos e todos os sábados se encontram, só para tirar sarro um do outro, contando as mesmas piadas e as mesmas histórias sempre. É a maior inveja que tenho de meu pai, uma amizade assim.

Mas eu tinha esperança...havia um amigo com quem eu me imaginava velhinho, a gente rindo das mesmas piadas e das mesmas histórias por anos...

Ontem, ele se foi.

Ah, Dió...por quê? Preciso entender para perdoar teu ato desesperado...tua dor devia ser maior ainda do que a teus amigos estão sentindo agora.

Você era tão amado, tão querido. Nossa dor só cresce ao ver que isso não foi suficiente para te impedir. Tua ausência dilacera, porque nos perguntamos se não falhamos com você, se não podíamos ter pelo menos adiado tua decisão, ficar mais tempo contigo...

Eu ia te ligar essa semana, perguntar se eu não havia esquecido uma coisa tonta no apartamento, confirmar tua visita em setembro...por que eu não liguei? Não teria te impedido, provavelmente, mas haveria uma lembrança, um momento a mais, eu poderia ouvir tua risada de novo...

Eu tenho saudade de todo o tempo futuro que você nos negou.

Mesmo sem entender, eu queria me despedir, mas não houve chance...eu precisava me despedir, Dió...abriria mão de entender, se eu pudesse apenas me despedir...

24 junho 2006

Bipolaridade e Mandinga

Em discurso recente, o Presidente Kirchner mencionou o caráter bipolar da personalidade dos argentinos, cuja auto-estima alterna entre períodos de depressão profunda e nostalgia do passado distante e entre uma arrogância que os coloca no topo do mundo.

A Copa do Mundo deixa isso muito evidente. Antes do mundial, a falta de fé era geral e irrestrita, a memória de 2002 ainda a assombrar e, pasmem, todo argentino considerava o Brasil favorito. Desde o 6x0 na extinta Sérvia e Montenegro, no entanto, a moral vem subindo.

Muito rapidamente, essa moral chegou aos estratosféricos limites da bipolaridade mencionada acima. No jogo do Brasil contra o Japão, houve comentarista de TV falando de um tal buraco na lateral direita brasileira, que poderia ser explorado pela seleção argentina na final. Mais modesto o narrador de Alemanha x Suécia que identificava as falhas alemãs que beneficiariam a Argentina nas quartas, muitas horas antes do gol milagroso na prorrogação que classificou a Argentina. Hoje as imagens do Obelisco depois do jogo eram freqüentemente acompanhadas de gritos histéricos de "Já somos campeões!! Que venha o Brasil!!"

É, definitivamente, o estereótipo não o é à toa, a humildade não é um traço característico dos argentinos. Da onde eu venho, no entanto, dizer "Já ganhou!" ou "Estamos tranqüilos" dá um azar dos diabos. É auto-mandinga...

É, argentinos, eu me rendo...não tem mais como vocês perderem...

22 junho 2006

Haja Corazón!!!



***


O jogo de ontem foi a coisa mais sonolenta da Copa...meus amigos argentinos pediram perdão por terem me obrigado a assistir aquela desgraça...não sei da onde esse corintiano tirou que foi um jogo bom, deve ser porque o Tevez começou jogando, vai entender...


***


Hoje de tarde há um confronto cósmico, desses de criar um racha no espaço tempo, como quando as Facas Ginzu tentam cortar as Meias Vivarina: Zagallo, o maior sortudo da história em Copas do Mundo, enfrenta Zico, o maior pé-frio que já esteve em um mundial.

Zico é o Zagallo-bizarro. Zagallo é tão sortudo que Pepe, o dono absoluto da ponta-esquerda em 58 e 62, se contundia só de ouvir falar em Copa. Zico foi a desgraça que foi, nunca perdeu penalti, só quando importava de verdade. Quem vencerá a rinha? Será que o poder azarento do pé do Zico se diluirá entre as duas seleções ou se concentrará no Japão?

Tchan-tchan-tchan-tchan...


***


"Ronaldo é gordo" e "Ronaldo é banco" têm 13 letras...e se Robinho não passar a ser titular, "Parreira burro" também...

PS-pós-15-gols-do-Ronaldo: "Eu não sei nada de futebol" também tem 13 letras

19 junho 2006

Da universalidade do futebol

Muitas linhas já foram escritas explicando o porquê do futebol ter se tornado o esporte mais popular do mundo, a maioria dissertando sobre as qualidades democráticas e acessíveis do esporte bretão ou sobre o fato da criatividade poder se impor sobre o rigor físico, etc.

Mas é talvez mais impressionante como o comportamento dos espectadores é universal, como 22 marmanjos correndo atrás de uma bola causam reações semelhantes em pessoas de culturas diferentes.

Aqui, como no Brasil, mulheres têm uma dificuldade inata de entender o que é um impedimento. Feministas, podem xingar, mas entre vocês mulheres só minha mãe (que é a maior Maria-chuteira) sabe o que é um impedimento. Outro traço comum: tanto argentinas como brasileiras têm a mania de confundir habilidade futebolística com atributos de beleza. Kaká é o melhor porque é lindo. Mas por alguma razão bizarra, até o Tevez fica bonito em campo.

Aqui, como no Brasil, não há vida inteligente na televisão futebolística. Levanto as mãos aos céus por assistir uma Copa do Mundo sem Galvão Bueno e Cléber Machado, mas os locutores e comentaristas daqui não ficam muito atrás. É verdade que são locutores que torcem escancaradamente contra o Brasil, mas ainda são preferíveis ao Galvão Bueno. Pelo menos, não há os redudantes e uber-estúpidos comentaristas de arbitragem.

Aqui, como no Brasil, nesta época também os maiores pernas-de-pau se tornam sumidades em conhecimento futebolístico. Todo taxista é um técnico de seleção em potencial. O humor de todos os indivíduos de uma nação está estreitamente vinculado ao desempenho dos 11 que provaram não ser perna-de-pau. Projetamos neles todas nossas aspirações. Por pelo menos um mês a cada quatro anos há 11 escolhidos que encarnam aquilo que todo garoto quer ser quando crescer. Esta propaganda aqui reflete bem esse espírito. "Façam por aqueles que não chegaram lá".

Comprovando essa última tese: Argentina 6 x 0 Sérvia e Montenegro (que massacre...preocupante, o Brasil que jogou contra a Croácia não encara esse time, mas felizmente o time que derrotou a Austrália me dá mais confiança). Desde a goleada argentina, a cidade está mais feliz, os porteiros mais falantes, as pessoas se cumprimentam na rua, falam do futuro com sorrisos, há poucos sinais do pessimismo característico dos porteños pelo ar. Este mês, tudo depende dos 11 que chegaram lá. Tanto aqui como no Brasil.

PS: Provocação: a alegria dos argentinos é mais do que justificada...afinal, independente dos resultados da próxima rodada, a campanha deles neste mundial já é melhor do que em 2002...já podem se dar por satisfeitos...

18 junho 2006

Mordido

Hoje, Dia dos Pais aqui na Argentina, Uínsto me mordeu.

Claramente está disputando território comigo. O bichinho anda agressivo desde sua chegada, talvez em parte por estar se acostumando a um ambiente novo, talvez em parte porque passou por uma dose considerável de stress e mudanças grandes em um período curto de tempo, justamente em sua formação na chegada à idade adulta, o que provavelmente o deixou um tanto desajustado...

Independente de explicações da psicologia canina, minha reação à mordida foi curiosa: fiquei frustado. Uma frustração paterna, uma sensação horrível de que falhei em sua criação...e, ao mesmo tempo, fiquei decepcionado com o comportamento dele...Céus, é só um cachorro, cachorros fazem o que cachorros fazem...vai entender minha reação...

Diante disso, não posso deixar de me perguntar...se apenas um cachorro é capaz de gerar esse tipo de reação, como é que há irresponsáveis no mundo que têm filhos?!? Como alguém pode querer um fardo desses?!? Só para passar adiante o legado de nossa miséria?! Isso simplesmente não entra na minha cabeça...

...aquele investimento em uma vasectomia parece cada dia mais atraente...

PS 20/6: Coincidentemente, este post veio ao mesmo tempo de uma discussão entre blogs de gente grande, o LLL e o Biajoni. Clique nos links para ver os posts deles. Não vou entrar nessa discussão, nem tenho a pretensão de achar que meu post teve algo a ver com isso, mas obviamente concordo com Tio Alex, com o acréscimo do perfeito comentário ecológico ao post original de Biajoni, de autoria da Malla, minha mais fiel leitora (que anda meio brava pelos comentários futebolístico-machistas de meu outro post). Acho engraçado que a manifestação da vontade de não ter filhos provoque reações tão apaixonadas em quem teve filhos, por opção ou não. Será que somos um lembrete do que eles estão perdendo? Se somos, qual o fuzuê, afinal, não são os procriadores um lembrete de coisas que nós, os não procriadores, estamos perdendo também? Cada um que arque com os custos de sua decisão...não existe liberdade de escolha sem responsabilidade...

14 junho 2006

Momento quase-Thoreauniano

Finalmente, depois de acampado por três meses no hotel e no apartamento, chega minha mudança (na verdade, até que foi rápido, considerando que tudo foi empacotado há quase dois meses em Brasília e partiu em um container saindo de Fortaleza).

...E fiquei feliz ao constatar que todas minhas posses materiais mal conseguem encher uma van...

...um dia eu chego lá, Henry.

13 junho 2006

Atención...

...perras, hay un nuevo macho alfa en la ciudad...



PS pós BrasilxCroácia: estou considerando seriamente mudar o nome do bichinho para "Ronaldo"...

12 junho 2006

Dia dos namorados...

E eu aqui sozinho...com frio....

Bom, tem gente passando por coisa pior....


A fila anda, crianças....e como anda...

Via Kibeloco

11 junho 2006

"Vento fraco é pra quem sabe, vento forte é para quem pode!!!"

E como nem só de futebol vive este blog, vivas para a vitória do Brasil 1 na oitava perna da Volvo Ocean Race, no último dia 9. O trajeto em volta do Reino Unido até Rotterdam foi atípico, com irritantes calmarias, mas com uma emocionante chegada cabeça a cabeça (apenas pouco mais de 3 minutos entre o primeiro e o segundo).

O Brasil 1 está agora em terceiro lugar no geral e precisa apenas terminar as duas próximas etapas - a regata em Rotterdam e a perna até Gothenburg - para garantir essa posição no pódio final, com ainda alguma (pouca) possibilidade de ultrapassar os Piratas do Caribe e chegar em segundo lugar. O ABN AMRO One já é campeão por antecipação.

Um feito impressionante, considerando que é a primeira vez que a equipe brasileira compete e lembrando dos problemas no mastro e no casco nas pernas anteriores. Apesar das dificuldades, o barco timoneado por Torben Grael teve um desempenho muito regular, o que lhe levou à atual posição. Mas nada me tira da cabeça que a vitória do Brasil 1 em uma perna de ventos ausentes se deve à experiência que Grael adquiriu no Lago Paranoá =)

10 junho 2006

Abrem-se as cortinas do espetáculo!

Começou o maior espetáculo da Terra!! Provavelmente nunca estive tão ansioso por uma Copa, mas nem é pelo favoritismo do Brasil, é o contexto. A rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina dá chance para um clima de sacaneação mútua irresistível.

Já sei que lo voy a pasar re mal se continuar a provocar meus colegas argentinos, mas é mais forte que eu...Já me ameaçaram de ser amarrado ao obelisco com a amarelinha para servir de alvo aos locais. De qualquer forma, pelas minhas contas estou perdido aconteça o que acontecer. Se o Brasil ganha, me batem. Se o Brasil perde, me sacaneam. Se a Argentina ganha, me sacaneam. Se a Argentina perde, me batem. Então, enquanto isso, vou me divertindo às custas da tal rivalidade, ouvindo inevitáveis referências ao gol de Cannigia em 1990, cutucando eles a cada oportunidade com o Penta.

Hoje, por exemplo. Torci pela Argentina, claro, até levei uma garrafa de cachaça como sinal de meus mais sinceros desejos de sorte para eles. De verdade. Mas no gol da Costa de Marfim, não pude resistir a soltar um sorriso sacana e dizer entre os dentes um "Che, que mierda..." nada sincero, só para ver a reação raivosa dos locais.

No fim das contas, a única coisa para a qual estou torcendo de verdade é que Brasil e Argentina não se cruzem, porque aí eu temo pela minha segurança. Venha o que vier, eu continuo a me divertir e a hinchar por Argentina em troca de comida e bebida. Hoje comi um asado excelente no primeiro tempo e o mate circulou por todo o segundo (é amargo, é ruim, mas dá para se acostumar). Nota: não tentar botar cachaça no mate de novo.

09 junho 2006

Nerd-geriatria

(Este é especial para a Bera-chan, que está no Japão.)

Quem não se lembra? Só não fazia idéia de que já tinha 40 anos....não se assuste com os caracteres orientais e não deixe de clicar em Teaser.

Via Melhores do Mundo

05 junho 2006

Entrando no clima da Copa

Tá chegando a hora!!! E para entrar no clima, uma carta aberta a nossas namoradas, esposas, amigas, amigas coloridas, ficantes e pretendentes. Troque Argentina por Brasil que dá tudo na mesma.
Mi amor:

1) Del 9 de junio al 9 de julio, leé la sección deportiva del Mundial para que tengas tema de conversación. Si no lo hacés, no te extrañe de que no te de bola.
2) Durante el Mundial la tele es mía, a todas horas, sin excepción. El control... ni lo mires y menos se te ocurra tocarlo.
3) Si tenés que pasar frente a la tele durante un partido no me importa, siempre y cuando lo hagas gateando y sin distraerme.
4) Durante los partidos estoy sordo y ciego. No esperes que te oiga, que abra la puerta, conteste el teléfono o levante al nene que se cayó de la planta alta....... Nada.
5) Sería bueno que siempre tenga cervezas en la heladera, bocaditos en abundancia y le sonrías a mis amigos que llegan a ver el fútbol. En agradecimiento, te dejaré ver tele de 6 a 6.30 de la mañana (siempre y cuando no haya en ninguno de los 83 canales la repetición de algún partido).
6) Por favor, si me ves molesto porque Argentina va perdiendo no me digas "no es para tanto" o "en el siguiente seguro ganamos": harás que me moleste más.
7) Podés sentarte a ver un partido conmigo y podés hablarme en el entretiempo, pero sólo en los comerciales. Tampoco abuses,....... dije UN partido.
8) Las repeticiones de los goles son muy importantes. No importa si ya los ví o no: los quiero ver de nuevo, muchas veces.
9) Que no se le ocurra a ninguna de tus amigotas bautizar a su hijo, cumplir años, hacer una primera comunión ni llegar a morirse durante el mundial... porque:
a) No iré.
b) No iré.
c) No iré.
d) No iré.
10) Si un amigo nos invita un domingo a ver el fútbol (¡qué gran invitación!), iremos sin duda.
11) Los resúmenes de la jornada mundialista durante la noche son tan importantes como los partidos mismos; ni se te ocurra pensar en decir "Pero si eso ya lo viste, ¿por qué no cambias?".
12) Es posible que durante el tiempo que dure el Mundial no me bañe ni me afeite y en consecuencia alrededor mio huela a jaula de oso. Recuerda que vos a veces olés a pescado y yo no digo nada.
13) Costa de Marfil, Trinidad y Tobago, y Serbia y Montenegro no son tiendas de ropa como Gath & Chavez o El Corte Inglés. Son países cuyas selecciones juegan el Mundial y cuyos partidos tambien me interesa ver aunque sea la primera vez que escuches hablar de ellos.
14) Te voy adelantando que: “Drogba" NO es el nombre de un nuevo alcaloide; "Tierry Henrry" NO es un perrfume; "Wyne Roony" NO es el dueño de Rintintín ni "Heinze" es una marca de Ketchup. Cuando escuches algún nombre o palabra que desconozcas no tendré ningún problema en explicarte su significado siempre y cuando lo hayas anotado en alguna página de tu cuaderno de recetas y me lo consultes despúes de 60 días de haber finalizado el mundial.
15) Finalmente, ahórrate expresiones como “¡Qué bueno que el Mundial es cada 4 años!” porque estoy inmunizado contra palabras necias. Porque además, luego viene la Champions, la Copa América, El Apertura, El Clausura, Liga Española, El Catenaccio, La liga Inglesa, la Libertadores, el Sub 20, la Sudamericana, el Sub 17, etc, etc, etc…
16) De llegar Argentina a ganar el Mundial: Desapareceré durante dos días, tiempo suficiente para empedarme con mis amigos y festejar. Al volver a casa, tendré derecho a disponer nuevamente del TV durante 30 días para volver a revivir cada segundo de tremendo logro.
17) De quedar eliminada Argentina: Tendrás a disposición el control y la TV durante unos 60 días. Tiempo de duelo suficiente. (Obviamente después de la finalización del Mundial; ya que una vez eliminados voy a hacer fuerza hasta el final por el equipo más débil que quede.)

OK?, ¿Entendido?, ¿Cappicci?, Do you understand?, Isquiri voche Naniastka?


PS: Essa "carta aberta" recebi por email de uma amiga argentina, mas parece que a piada é antiga, talvez nem seja originária desta Copa, e já há versão brasileira circulando. A pergunta é: quem traduziu de quem? Ou os dois traduziram de uma outra versão??

Pelos olhos do adversário

Não é só no Brasil que a rivalidade futebolística entre os dois países é usada para alavancar a publicidade, como fez o Guaraná Antárctica com o Maradona. Vi a propaganda abaixo, do jornal esportivo Olé, ontem no cinema (a história-genial-mas-mal-executada Quase dois irmãos) e morri de rir.

Uma década de visitas a Florianópolis tornou os argentinos muito receptivos à cultura brasileira, muito mais do que nós somos a eles. Esse video dá uma idéia dos estereótipos que os argentinos têm da gente no Brasil e eu achei hilário ver a si mesmo por esses olhos.



E aproveitando o tema, divido esta outra propaganda relacionada com a Copa do Mundo, de um dos patrocinadores da seleção local. Para entender, tem que lembrar de um hábito bem bacana da torcida argentina que substitui os fogos de artifício.

04 junho 2006

Grandes Momentos do Turismo Porteño Surreal

Renato do Dois é blog em visita a BsAs, a trabalho, já conhecedor da cidade e devidamente introduzido ao bife de chorizo. Sábado frio e chuvoso, nada propício para fotos e turismo, mas resolvemos sair pela Callao em direção ao centro depois de um café-da-manhã (momento CAD: uma delicatessen escondida na Recoleta que nem cardápio tem, mas é ótima...) às 3 da tarde (não me perguntem...).

Plaza de Mayo, mais frio, mais chuva. Seguimos pela Avenida de Mayo atravessando a 9 de Julio seguindo o precioso guia da YPF em direção à Plaza del Congreso. No caminho, Teatro Avenida.
- No hay función hoy, pero sí un acto político...
Entramos, um pouco para ver o teatro, um pouco para espantar um pouco do frio. O lugar estava lotado, só conseguimos entrar no "Paraíso", os lugares populares próximos ao lustre, de onde os amantes do teatro com menos posses se empoleiram para ver os espetáculos. O Avenida me lembrou uma versão menor do Teatro Amazonas, a Ópera de Manaus, com sua platéia vertical e seu estilo "quero ser francês".

No lugar, muita gente aplaudindo de quando em quando uma mulher monotônica que falava em propostas. Tinha gente que claramente não estava interessada e lia a edição local da Caras. Ouvia-se um ou outro bebê chorão pelo teatro. Baixou a senhora do púlpito, subiu outra para apresentar o relatório sobre economia. Jovem, recebeu uns assobios debochados de seus compañeros na platéia. E os compañeros aplaudiam com gosto cada vez que a menina falava em estatizar tudo que foi privatizado.

Surreal. Estávamos no Congresso Nacional do Partido Socialista, no momento em que fechavam o programa para a próxima temporada de lucha. Não precisamos ouvir a Internacional, denunciou o símbolo da rosa. Verdade que não foi lá muito diferente de qualquer assembléia que vi antes na universidade, a mesma ladainha de sempre, com a exceção de que os socialistas argentinos sabem se vestir.

Renato, que é comuna e odeia a Veja, estava emocionado. Arranquei o menino de lá quando ele estava para puxar o coro El pueblo, unido, jamás será vencido.

01 junho 2006

Travessia polar brasileira

Até onde tenho conhecimento, a lista de brasileiros que esteve no Pólo Sul é restrita a:

1 - Professor Rubens Junqueira Vilella: em 1962, integrando o programa antártico norte-americano;
2 - Professor A.C. Rocha Campos: por duas vezes, em 1981 e 1985, salvo engano. Uma como pesquisador e a outra acompanhando o
3 - Embaixador Luiz Filipe de Macedo Soares: então Conselheiro e chefe da minha saudosa Divisão no Merré, por ocasião de um seminário na Geleira Beardmore organizado no âmbito do Tratado da Antártica, em 1985;
4 - Julio Fiadi: em expedição particular em 2001. Que eu saiba, Fiadi é o único brasileiro a ter pisado nos dois pólos. Acompanhou Amyr Klink às Geórgia do Sul uma vez também.

Com exceção de Fiadi, que chegou por via aérea até o paralelo 89º Sul e seguiu o resto de esqui, todos os outros foram diretamente à Estação Amundsen-Scott de avião.

A quinta pessoa dessa lista é o Professor Jefferson Cardia Simões, que em 2004 acompanhou uma perna da Expedição Científica Transantártica Internacional (ITASE) organizada pelo Chile.

A grande diferença é que ele se deslocou por 2.400Km, ida e volta, entre a Estação Patriot Hills e o Pólo Sul em um comboio puxado por um trator polar, recolhendo testemunhos de gelo (colunas de gelo para análise de partículas que servem para pesquisas sobre mudança climática). Na minha opinião é uma diferença qualitativa que o torna o primeiro brasileiro a ter chegado ao pólo, não simplesmente estado lá.

O feito não teve lá muita repercussão na imprensa, infelizmente - pelo menos não a repercussão devida. A presença brasileira na Antártica e as pesquisas no âmbito do Programa Antártico Brasileiro estão muito aquém do potencial. Mais importante, é somente por meio da pesquisa científica que o Brasil tem como participar efetivamente em assuntos antárticos. Os temas discutidos no âmbito do Tratado da Antártica surgem primeiro na comunidade científica. Se não for dado o valor devido ao Programa Antártico Brasileiro ficaremos à margem de questões internacionais importantes que ultrapassam o significado de esta ou aquela pesquisa.

Ciente disso e com olho na divulgação necessária do tema para atrair apoio para a participação do Brasil no Ano Polar Internacional, o Professor Simões colocou no ar um site relatando toda sua expedição, com muitas fotos e vídeos. Não achei a navegação das mais amigáveis, mas está muito interessante. É o embrião de uma possível travessia polar exclusivamente brasileira, o início de uma presença brasileira no continente, além das ilhas da Península Antártica. Vai lá: www.ultimafronteira.com.br.

31 maio 2006

Locro

Nem só de churrasco vive a culinária típica argentina. Do norte do país vem o locro, prato especialmente apreciado em dias muito frios, comida da família da dobradinha, aquelas que se te contarem que tem tripa dentro você provavelmente não vai experimentar.

Pesado que só. Tiro e queda. Com vinho então, nóssinhora! Foi terminar o almoço para ouvir minha cama me chamando a quatro quadras de distância: "Siesta! Siesta!". Me rendi ao canto da sereia e capotei. Acordei quatro horas depois e vi que tinha desligado o despertador com o poder da mente.

Se alguém interessar, tem uma receita aqui.

29 maio 2006

Momento Enoboiologia

Eu achava que não gostava de vinho, mas descobri que na verdade eu não gosto é de Cabernet, que me dá dor de cabeça, mas adoro Malbec. Provavelmente nunca bebi vinho bom de verdade até me mudar para cá.

Gracias, Argentina, por mais este passo em meu processo civilizatório.

Herculóóóóóóóiiiidess

Eu nem sabia quem era o cara, mas faleceu Alex Toth, criador dos Herculóides, Space Ghost, entre outros personagens da Hanna-Barbera - e conseqüentemente responsável por muitas tardes felizes de minha infância. Um minuto de silêncio.

A bandinha na qual eu fingia que tocava baixo durante o colegial se chamou "Os Herculóides" por um tempo. Nossa...como eu tou velho...

27 maio 2006

Metodologia Científica



Ah, se eu tivesse descoberto esse site há mais tempo.....

Via De Gustibus...

24 maio 2006

Serviço

Povo de Brasília, faça um favor a si mesmo e depois do expediente vá assistir ao filme A Concepção (em cartaz por aí já faz algum tempo - só soube agora).

Não discuta. Não reclame. Vá ao cinema. Visitando o site do filme, onde está o texto do diretor "Algumas palavras e motivações", vejo que a interpretação no meu post de 6 meses atrás não era tão viagem quanto então pensei. A melhor moldura para uma história sobre um tema universal como a busca de identidade só poderia ser BSB mesmo. Regional e universal na mesma obra, não é esse um dos requisitos para um clássico?

Se alguém te disser que o filme é sobre a juventude perdida de Brasília, pode chamar de burro. Pode mesmo, eu deixo. Vai lá ver, talvez você entenda um pouco da eterna busca de identidade de sua cidade e, de lambuja, um pouco da sua busca por identidade. Depois você me agradece. Na pior das hipóteses, se você não gostar do filme, ver Rosanne Holland já vale o preço do ingresso. (ah...Rosanne Holland...que puxa!)

1. Morte ao ego. 2. Ser uma nova personalidade a cada dia. 3. Toda memória deve ser apagada. 4. O dinheiro deve ser abolido. 5. A humanidade está doente, o concepcionismo é o caminho para a cura. 6. O concepcionista é uma fraude que dura 24 horas. 7. O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria. 8.? 9. Voa! 10. Tudo o que foi dito deve ser esquecido agora.

22 maio 2006

O Código...

Não li o livro, fui ver o filme porque a repercussão o tornou um fait social total e quem não for ver vai ficar de fora (uau, quatro verbos seguidos!!) das conversas de botequim por algumas semanas. E também porque quase todas as salas de cinema da cidade estão passando este mesmo filme.

Achei fraco, tudo bem previsível, do inimigo oculto à identidade da herdeira. Imaginava que um filme de mistério que gira em torno de charadas deveria prender mais a atenção, principalmente de alguém que não leu a obra original.

Quanto à polêmica, que me importa? A discussão sobre a divindade ou mortalidade de Jesus me é absolutamente irrelevante - talvez por isso o filme não tenha tido nenhum impacto sobre mim.

Ou talvez seja o fato de que toda a polêmica em torno do filme tenha já contado 70% da história na imprensa. Eu achava que a igreja estava sendo idiota em armar esse fuzuê, gerando apenas publicidade gratuita, mas agora eu acho que foi tudo bem armado pela Opus Dei para minimizar o impacto do filme no público.

Em alguns anos provavelmente não me lembrarei do filme. No entanto, guardarei certamente a revelação do que é o Santo Graal. Isso sim, é o que move a humanidade em suas cruzadas.

20 maio 2006

COOOOoooooooolllllllllllll



17 maio 2006

Doente...

...febril, um pouco de dor e muito frio....

...mas o pior mesmo é não ter ninguém por aqui para me fazer cafuné....

16 maio 2006

Os 39 de 2003

Eu devia um post sobre minha estada em Brasília...podia falar da dor de cabeça que é fazer uma mudança para o exterior, de como foi bacana rever alguns lugares, podia dar detalhes de minha formatura também, mas agora é notícia velha. Talvez escrever isso agora seja um pouco de banzo devido ao fato de minha casa ainda estar tão vazia, mas eu devia um post sobre minha última estada em Brasília...

...mas não devia à cidade. Adoro o cerrado porque é lá que fui fazer minha vida, mas uma cidade só é tão boa quantos seus amigos nela - e é dessas pessoas que fazem BSB valer a pena que eu sinto mais falta.

No entanto, entre tanta gente bacana que conheci nesses últimos 8 anos, tem 38 que por força da profissão estarão sempre muito próximos. Eu só tenho a agradecer que são os 38 destas fotos.

PS: Antes que perguntem, obviamente que o 39° sou eu.

15 maio 2006

São Paulo queima

Estou com medo por meus amigos em São Paulo...as notícias que me chegam aqui via internet mostram uma situação de terror e pânico, exponencializado pela boataria por celulares, emails e blogs.

Só há um nome para descrever o que acontece quando uma facção criminosa passa a ter tintas ideológicas e a ver o Estado como inimigo: terrorismo. Isso nos coloca diante da eterna dúvida: no Estado democrático de direito, como tolerar o intolerante? Como jogar com quem não aceita as regras do jogo? O que se faz com alguém que diz "eu posso entrar numa delegacia e matar policiais. Vocês não podem entrar no presídio para me matar "?

As perguntas não são retóricas não...

Qual a reação esperada? Alimentar o discurso "Direitos Humanos para os humanos direitos"...Que retrocesso...

Não é só do PCC que o paulistano deve ter medo.

Nova template

O leitor freqüente destas páginas notará por certo as mudanças na template do blog. Ainda não estou completamente satisfeito....de qualquer forma, agora são 3 colunas, resolução 1024x768, incluí a possibilidade de navegação por categorias e tirei o Google AdSense que nunca tinha dado grana mesmo.

Vou deixar como está por uns dias para ver se recebo comentários (por favor, comentem), até mesmo porque estou há horas na frente desse template e começo a ver tudo em códigos, tou me sentindo o neo...(comentário nerd...)

PS 6 horas depois: Não agüento mais, como está fica. Acabei trocando a imagem de fundo por um banner centralizado, o título e a descrição não devem sair de lugar em resoluções maiores que 800x600, e as cores das fontes são as mesmas do antigo blogue, o que me agrada. Só não consegui melhorar a forma como são apresentadas as datas, aparentemente há algum conflito com a função de categorias.

11 maio 2006

Breve, em um cinema perto de você

Minha geração é talvez a primeira por passar pela crise da meia-idade por volta (no meu caso, antes) dos 30 anos. Não sei se é causa ou conseqüência, mas o mercado cinematográfico é um bom indicador disso.

X-Men, Quarteto Fantástico, Homem Aranha e até mesmo uma seqüência dos filmes 80's do Super Homem, com direito a Kevin Spacey no papel de Gene Hackman (assista ao trailer, estão igualzinhos). Depois dos heróis dos quadrinhos de nossas infâncias terem partido para a tela prateada, chegou a vez dos seriados. Outro dia morri de rir com um trailer de Miami Vice, incluindo um Colin Farrel com um mullet seboso demais até para os anos 80, e agora encontro esta notícia, a ressurreição da Supermáquina.

É claro que vou ver todos...mas, por favor, que David "Baywatch" Hasselhoff não seja escalado para fazer Michael Knight de novo. Seria ainda mais doloroso do que ver Erik Estrada obeso no CHiPs'99. CHiPs, aliás, está também em pré-produção, lançamento previsto para 2008, com Fez do 70's Show escalado para o herói latino.

Falta o Esquadrão Classe A. Quem seria o Mr. T do século XXI?

Alguém pode dizer que é só um sinal do pós-modernismo, onde nada se cria, tudo se recicla, mas este post me fez sentir tão velho...


PS: Falta não. The A-Team também está em produção....

10 maio 2006

Tonga da Milonga

Hoje foi minha primeira aula de tango, na Confiteria Ideal, um das milongas mais tradicionais de Buenos Aires, lá na zona mesmo, hoje inevitavelmente faturando mais com aulas para gringos. Mas havia um grupinho de respeitáveis tios e tias locais esperando ansiosamente os amadores terminarem as aulas para dominarem o salão.

Como os colegas argentinos são cobrados no exterior por suas supostas habilidades tangueiras, resolveram aprender um pouco para não fazer feio lá fora (algo como se o Instituto Rio Branco ensinasse a gente a jogar bola) - e lá fui eu junto. É mais ou menos assim:

atrás,1-esquerda,2-frente,3-4-freia-puxa-volta-trava-come-a-menina-com-os-olhos- frente,6-7-8,pára-atrás,1...

Talvez um dos últimos redutos do macho latino, no tango somos nós que mandamos. As mulheres seguem. A primeira coisa a fazer ao entrar na milonga é esquecer a educação matriarcal e a igualdade entre os sexos. Esqueça o homem sensível que as revistas dizem que elas buscam, você é cafa mesmo. O lunfardo não tem tradução para metrossexual, isso é coisa de puto. Você é o provedor. É você que vai pagar o jantar, as bebidas e a milonga. E ela, ciente de seu papel, vai se apoiar na sua mão esquerda e fazer o que sua mão direita mandar, vai te seguir no sentido anti-horário pelo salão.

Surpreendentemente bacana, até me doem as panturrilhas. Terça que vem eu volto. Enquanto isso vou ouvindo pela internet a altamente recomendável La 2x4 FM, Rádio Tango de Buenos Aires.

09 maio 2006

What would Jesus do?

Finalmente, um método anticoncepcional aprovado pela igreja.

Não deixe de visitar também a lojinha do Intelligent Design.

(via LLL)

07 maio 2006

Fim de semana

…blogs e Youtube.com acabaram com minha vida produtiva…

Chávez quer plebiscito que permita reeleição até 2031

(da France Presse, via Folha Online)

Essa é boa, mas não devia surpreender, afinal, existem "eleições" em Cuba também.

Depois acusam de reacionários tipos como eu que vêem traços autoritários preocupantes em qualquer regime populista da história da América do Sul - incluo aí os neo-populistas também (um conceito em discussão) e os muitos "nacionais-desenvolvimentistas".

Já dá para imaginar o Brasil contribuindo com o "excesso de democracia" da Venezuela enviando algumas urnas eletrônicas para lá. Vai aqui minha sugestão para o design da urna eletrônica venezuelana, muito mais simples e elegante, sem nenhuma função redundante, enfim, excessivamente democrática:

PS: Essa é uma reedição de uma piada que fiz sobre as eleições no Iraque que tiveram 99% de votos para o Sadam, antes da invasão americana. Qualquer semelhança é mera coincidência?

05 maio 2006

O gás é deles mas a infra-estrutura era da Petrobrás

Eu ia fazer algum comentário aqui sobre a nacionalização do gás na Bolívia, mas não faz falta:

- PRA já publicou o resumo da ópera (via "Ex-blog do Cesar Maia");

- O Globo já ilustrou em foto e em charge;

- E o Kibeloco já sacaneou.

03 maio 2006

Che

Não, este post não é sobre o revolucionário protagonista de um filme de Walter Salles. Sobre ele, acho que a Argentina perdeu um bom médico e o mundo ganhou uma camiseta feia.

Me refiro à importância do che na comunicação local. Palavra de origem obscura, me disseram por aqui que significa "gente" em mapuche, língua de algumas das dizimadas tribos aborígenes que habitavam entre os Pampas e a Patagônia.

Não é exatamente o tchê dos gaúchos brasileiros, que (tenho a impressão, algum gaúcho certamente me poderá corrigir) é mais usado como interjeição, geralmente ao final da frase, ou mesmo no meio como no exemplo Bah, tchê, que eu gosto.... O che é um vocativo, início de 9 em cada 10 frases porteñas. Talvez o analogamente mais próximo no Brasil seja o Ô-ô goiano, mas este não é tão difundido.

Eu queria uma moeda por cada che que ouvi. Che, me bastaria uma moeda para cada che que falei, a expressão vicia e quando você se dá conta, já é o vocábulo mais usado. É também ótimo para dar início a um papo com quem você não conhece ou não lembra o nome.

Imagino um conto, deixo para que os fãs de Borges o escrevam, sobre um dia sem che na Argentina, seja por decreto ou por razões fantásticas. Os nativos teriam sua capacidade de comunicação seriamente afetada. Ninguém conseguiria começar uma conversa informal, ficariam reduzidos a formalismos arcaicos ou se renderiam à linguagem de sinais. Teriam que chamar a atenção uns dos outros com gemidos grotescos ou tapinhas nos ombros, o que, dependendo da duração e intensidade, poderiam levar a tapas raivosos e grunhidos de dor. Casamentos seriam arruinados por falta de comunicação. Uns tantos outros seriam salvos, é verdade. Sem comunicação eficiente, ordens não poderiam ser cumpridas. As Forças Armadas entrariam em colapso. Os serviços mais básicos deixariam de ser prestados por simples falta de comunicação entre comprador e vendedor. A bolsa cairia, o dólar subiria, uma fuga de capitais sem precedentes acompanharia a subversão de qualquer regra de mercado que pressuponha alguma simetria de informação. Seria o caos, o desmantelamento do tecido social. Milhões de pessoas finalmente sairiam às ruas em panelaços nunca vistos, exigindo a volta do bendito monossílabo. Che, estaria buenísimo

5.000

Em algum momento da noite entre o dia 2 e 3 de maio, alguém no Japão usando um computador ligado ao servidor da DEODEO Corporation caiu no Crônica do Explorador deitado na rede, tornando-se meu/minha 5.000 visitante.

A exemplo da auditoria anterior, pago uma cerveja ao ilustre leitor, se for uma leitora, pago o café da manhã também. O prêmio não foi reclamado anteriormente, entre em contato pela caixa de comentários.

Recentemente, o Sitemeter acusou visitas via servidores de Irã (?!) e Moçambique, o que somados aos leitores que aqui chegam por servidores europeus, norte-americanos, sul-americanos, coreanos e japoneses, junto às minhas auto-visitas desde a Antártica, me permitem dizer que este blog já rodou o mundo todo. Só para me ufanar mesmo.

26 abril 2006

Millonários 3 x 2 Marginal

Aquele imbecil do Galvão Bueno repete sempre aquele clichê horrível "O [insira aqui qualquer time] é o Brasil na Libertadores!!!", uma das maiores bobagens que já ouvi. Torço pelo meu time, quero mais que os times dos outros se ferrem na Libertadores. Fiel a esse espírito, fui hoje à cancha para torcer pelos millonários (pronuncia-se mijonários).

Como foi o jogo você verá no Globo Esporte. O Curíntia não fez nada, na única vez que encostou na bola no primeiro tempo, Tévez achou um espacinho para o gol. O River virou com dois golaços, um deles de bicicleta, ampliou no segundo com um gol chorado, mas o timinho da marginal conseguiu ainda diminuir a vantagem nos descontos, o que pode complicar para o River no jogo de volta.

E lá estava eu no Monumental (que não é tão grande quanto o nome dá a entender. Melhor, dá para ver sem binóculo), hinchando com los mijos, incrementando consideravelmente meu vocabulário "Amarillo hijo de puta, la concha de tu hermana, boluda!". Xingar o Tévez (que era do Boca, bostero) na língua da mãe dele é muito mais legal.

Fazia tempão que não me divertia tanto em um estádio. Não é assim tão diferente de ir a um estádio no Brasil, empurra-empurra, cheiro de mijo, palavrões, gritos...aquela sensação de coletividade que só pode ser gerada por uma bola na trave seguida de milhares de pessoas fazendo "Uhhhh..." juntas. Mas, sinceridade, houve algo mais. Talvez por ser santista, a torcida que consegue vaiar o time uma semana depois de ser campeão paulista, tenho a impressão que o amor pelo futebol na Argentina é mais incondicional. Não exigem tanto dos objetos de sua afeição como nós, eternos insatisfeitos com a melhor seleção do mundo. Apóiam realmente onde e como estiver o time, não param de cantar um só segundo...River ponga huevos, entre outras cantorias. Só não acompanhei os hinos que faziam referências pouco elogiosas à minha nacionalidade ...esa noche los vamos a coger todos los putos brasileros - ainda bem que só os putos, que estavam vestidos de negro do outro lado do estádio.

UPDATE 05/05: Não vi o jogo de volta, só li a respeito e ouvi os comentários por aqui, mas adorei saber que o timinho vai continuar sendo uma equipe sem passaporte, apesar do papelão da torcida...insatisfeitos em ver o time da marginal tomar uma sova em campo, foram tomar um pau da PM. Talvez por solidariedade, sei lá.

Genial

Outra da série "Idéias que eu queria ter tido". Me mijei de rir.

11 abril 2006

Fenômenos da Internet III

De link em link, via OMEdI, blog recém incluído em minhas leituras diárias, cheguei a esses sites excelentes sobre as grandes preocupações da mente masculina, mulher e futebol:

Solidariedade masculina

Da série "por que eu não tive essa idéia antes??": como convencer sua namorada a fazer um ménage à trois com a ajuda de 2 milhões de pessoas. O cara definitivamente é um Steve.

Joga Bonito

Ano de Copa do Mundo na Argentina será certamente uma experiência interessante...e olhando o vídeo do Ronaldinho, tenho até vontade de sair me ufanando por aí, independente disso.

Chicks with guns

Ah, as maravilhas geradas pelo fim da União Soviética...não sei o que é mais impressionante, como o vídeo consegue ser tão estereotipado e primário, mas ainda assim deliciosamente apelativo, ou a bunda da Masha.


Novo filme candango

declarei aqui meu amor por Brasília e meu interesse em como filmes retratam a cidade (ah...Rosanne Holland...que puxa!). A ver se este thriller político de Nelson Pereira dos Santos é algo da nova safra ou se escorrega em vícios antigos do cinema nacional - o trailer me deixou meio desconfiado. Encontro dois motivos para ver o filme, de qualquer forma:

1) o nome é genial: se Rio é 40 graus, Brasília é 18%.

2) já pagamos pelo ingresso mesmo, via empresas estatais.

09 abril 2006

Glorioso, o alvinegro praiano...

E não é que o Santos foi campeão....? Eita, 2006 bom...

08 abril 2006

Supermercado: mau humor e descrença financeira

Eu detesto supermercado, detesto fazer compras. Quando eu era criança e ir ao supermercado significava uma visita à seção de brinquedos enquanto meus velhos se esforçavam para montar um estoque que durasse até o próximo salário, comido minuto a minuto pela inflação, eu até gostava, com um pouco de manha dava para sair de lá com um brinquedo novo.

Hoje supermercado é sinônimo de muvuca, gente se trombando, filas e mais filas, velhinhos pagando suas contas com tickets alimentação, cupons de desconto e moedinhas, crianças pentelhas chorando porque querem um brinquedo novo...insuportável.

Não bastasse isso, me dei conta enquanto escolhia uma manteiga hoje que é muito mais difícil fazer compras no exterior. Já vivi fora, mas era pós-aborrecente, sempre morei na casa de alguém que se encarregava de materializar as coisas na geladeira. Minha ojeriza a supermercados fica aqui potencializada porque não tenho a mais puta idéia de quais produtos são melhores, perdi as referências de marcas e preços que tinha - qual manteiga aqui equivale à Aviação?

E isso em uma língua deveras parecida ao português, imagino a pedra de roseta que seria necessária para missão semelhante em terras mais exóticas. Mesmo os abundantes produtos do imperialismo brasileiro são levemente diferentes, não sei como depois de tantos anos vou me acostumar a escovar os dentes sem minha pasta Colgate com Bicarbonato.

É o jeito. Ou aturar isso ou viver de empanadas e bifes de chorizo. Se bem que não seria tão mal...

Um comentário paralelo para o pequeno estudante de economia que existe em você. Nesta minha ida ao supermercado tive uma demonstração interessante da falta de credibilidade dos argentinos no sistema financeiro. Depois de tantas crises, especialmente a da desvalorização de 2001, os boludos preferem colocar o dinheiro sob o colchão do que em algum banco.

O supermercado (que, necessário dizer, não fica em uma zona turística ou diplomática) aceita pagamentos em dólares e euros, na boca do caixa, sem burocracia, a uma taxa muito camarada, melhor até que a maioria das casas de câmbio. Agora, para pagar com meu cartão de crédito, foi um fuzuê, queriam documentos, o diabo a quatro.

Isso é tópico para o Freakonomics ou o De Gustibus, o empresário argentino prefere arcar com custos de transação de uma moeda estrangeira e correr o risco de receber notas falsas a ser pago por meio de uma transação eletrônica, em tese mais segura e, suponho, com custos de transação mais ou menos equivalentes. E encontra plena aceitação do consumidor.

A representação contábil de sua vida material, ie. tudo que você leva na carteira, depende que outra pessoa acredite que vale o quanto você diz que vale. Em última instância, cartões de plástico e dinheiro têm o mesmo valor de um pedaço de papel de embrulhar pão escrito "Vale...". Não se chama "crédito" à toa. É uma obviedade, mas não deixa de ser assustador verificar que todo o sistema capitalista se baseia na confiança entre seres humanos, essa gente de pouca confiança.

07 abril 2006

A volta do Liberal

Em homenagem à volta do Barnabé, farei eco a seu último post.

A Varig vai quebrar. Correção, a Varig está quebrada faz muito tempo, mas parece que desta vez vai para o buraco mesmo. Ou isso ou o escarcéu que estão fazendo dará origem a algum plano milagroso do governo.

E tem safado que advoga que a sociedade deve pagar o pato para salvar uma empresa que, conforme o mesmo safado publicou, gasta R$ 6 milhões por ano com caviar enquanto não consegue pagar funcionários. Esse jabaculento, que deve ter ganho algumas passagens para Paris para escrever na Ícaro, acha que a sociedade deve recompensar esse tipo de gerenciamento. Não com meu rico dinheirinho retido na malha fina da Receita para agregar ao superávit primário!!!!

Desde que minhas milhas ainda possam ser utilizadas em outras companhias da Star Alliance, que quebre. Mais, que abram o mercado às empresas internacionais para que quebre mais rápido, assim eu uso minhas milhas para ir para Brasília de SAS. Só por via das dúvidas, viajo na Páscoa de TAM.

PS 8/4: Quem mais entende de viagem no Brasil concorda que temos mais que abrir o mercado e deixar a Varig morrer...

01 abril 2006

Inauguração

Que fique aqui registrado que a Pensão "Che, Felipe!" está em operação e que foi devidamente inaugurada ontem, tendo sempre em mente a integração regional, com uma festinha muito bacana. O apartamento está em local privilegiado para aqueles que visitam BsAs a trabalho e conta com cozinha completa, sofá cama a disposição dos hóspedes, além de farto suprimento de pratos e talheres descartáveis.

Interessados em pouso em terras porteñas sabem como contatar a pensão. Aceita-se pagamento em cerveja.

Una larga noche II

Este comentário na página da ONG Contas Abertas e seus links externos para páginas das Forças Armadas louvando o 31 de março de 1964(aqui, aqui e aqui) só reforçam o ponto de meu post anterior, que a sociedade brasileira ainda não acertou suas contas com o que aconteceu em 1964 e que a atual abordagem de evitar o confronto entre as diferentes visões desse fato histórico é algo que precisa ser revista.

Me lembra também um post de meu antigo blog: "A Revolução foi no 31 de março de 64...o Golpe foi no 1o de abril."

30 março 2006

Tinha um russo, um americano e um brasileiro em um foguete...

...parece piada pronta (Brasil vai lançar foguete...), mas o Tenente-Coronel Marcos Pontes foi para o espaço.

Antes que os mais céticos e cínicos digam que é só uma jogada de marketing, é necessário ressaltar a importância desta viagem. Não por ufanismos tolos, não pela bandeira do Brasil e a camisa da seleção terem sido colocados em órbita. A viagem do Tenente-Coronel Marcos Pontes deve ser colacada no contexto apropriado, é um marco no Programa Espacial Brasileiro, que por sua vez nos coloca em um restrito grupo de países que detêm tecnologia espacial, o que tem aplicações militares e industriais fantásticas, de sistemas de mísseis à armação dos seus óculos. É possível questionar a viabilidade do Programa com a atual alocação de recursos, é até válido perguntar se realmente precisamos de um programa espacial. Mas uma vez existindo um programa espacial, é tolice desmerecer a viagem do astronauta brasileiro.

Em minha primeira semana de trabalho, fui enviado para uma reunião na Agência Espacial Brasileira para acompanhar a negociação dos termos do acordo com os russos que garantiu o lugar do astronauta brasileiro na Soyuz. O fato de terem enviado um novato indica que a reunião não tinha lá muita importância, mas eu estava todo feliz porque meu trabalho me levou a conhecer o astronauta. Houve uma época em que eu queria ser astrônomo quando crescer. No almoço em uma churrascaria de Brasília, no meio daquelas relíquias da Guerra Fria, eu garanti meu lugar na mesa ao lado do Tenente-Coronel. O cara não é só obviamente competente - ninguém é astronauta por acaso - mas também ganharia qualquer concurso de simpatia.

Nunca estive em uma reunião onde o único assunto em pauta fosse minha ida. Nunca estive tão perto. No automóvel de volta à Agência, eu vi Marcos Pontes se transformar na criança que queria ser astronauta quando crescer, só faltava pular. Depois de 7 anos de preparação e constante treinamento na NASA, atrasos no programa espacial norte-americano estavam por impedir a concretização de todo um projeto de vida. Mas aquela reunião voltava a botar tudo nos eixos, era a volta por cima. Imagine trabalhar por algo por quase uma década, ver tudo ser colocado a perder, e depois recuperar, subir ao espaço. Me deu uma nova perspectica sobre expectativas frustradas...

E há alguns minutos atrás assisti ao foguete subir pela TV a cabo, morrendo de inveja da minha chefa que está lá em Baikonur. (Chame-me de supersticioso, mas confesso que tive medo de dar algo errado: é a 13a missão à Estação Espacial Internacional, o nome da missão faz referência ao Pai da Aviação e há até uma réplica do chapéu do homem na bagagem...sei lá, me parece mandinga demais....) Só lamento o narrador do evento der sido o Cléber Machado...e minha estupidez por não ter tirado uma foto com o astronauta quando tive chance.

Boa viagem, astronauta.

Update 31/3: Lendo os jornais pela internet, vejo que uma crítica constante é que a viagem seria uma "jogada eleitoreira" de Lula. Exagero. Claro que em ano eleitoral o Presidente vai faturar em cima da viagem do astronauta, mas a decisão de mandar um brasileiro para o espaço foi tomada há quase dez anos atrás. Se mandar alguém para a Estação Especial Internacional não é prioridade para o Programa Espacial Brasileiro, como afirma outra crítica presente na mídia, deviam ter pensado nisso antes de investir no treinamento do astronauta. O que realmente procede, a meu ver, é a crítica de que nossa participação na ciência e na estrutura da Estação deixa a desejar. Verdade, não foram entregues as peças que nos caberiam. Mas isso não tem nada a ver com a viagem. Pelo contrário, a presença de um astronauta brasileiro é sinal de nosso comprometimento com esse projeto de cooperação internacional, ainda que as restrições orçamentárias tenham comprometido nossa plena participação científica. Cabe agora usar a viagem como catapulta para recursos ao Programa Espacial Brasileiro como um todo.

27 março 2006

Rompendo estereótipos

Consciente de minha função aqui como representante dos mais altos valores da pátria mãe e cioso de não manchar a imagem do escrete nacional em ano de Copa do Mundo, resisti bravamente aos convites de meus colegas para bater uma pelota com a desculpa de que não tenho calçados apropriados.

Foi inútil, me emprestaram um par de tênis e agora uma vez por semana faço algo que não fazia há muitos e muitos anos: corro atrás de um objeto esférico tentando fazer um gol. De repente, estou de volta ao campinho do colégio, demonstrando total incapacidade futebolística e extrema falta de coordenação motora, sendo o último a ser escolhido para o time e vendo que os companheiros de time preferem encarar o marcador a passar para mim.

E depois passo dois dias com dores musculares, amaldiçoando meus anos de sedentarismo, minha falta de fôlego e os parafusos de titânio nas minhas costas. Mas é o preço pela integração regional. Felizmente, os demais jogadores também eram nerds na escola e a diferença entre nossas habilidades não é tão abissal quanto no campinho do colégio, em termos relativos, portanto, estou batendo um bolão. Mas ainda sou o pior jogador brasileiro da história, uma frustração para quem se alimenta do estereótipo futebolista brasileiro.

Aguardem até o começo de minhas aulas de tango. Romperei mais um clichê, de que brasileiros sabem dançar. Mas pelo menos o farei com estilo, nos braços de alguma garota.

24 março 2006

Una larga noche

Trinta anos atrás, na madrugada de 24 de março de 1976, uma junta militar ocupou a Casa Rosada, prendeu a Presidente Isabela Perón, e deu início à última ditadura militar da Argentina. É assim mesmo que os argentinos se referem ao período, a "última ditadura militar" - um lembrete de que a história local é repleta de golpes de estado, 1976 foi apenas o mais recente, e um suspiro de esperança de que essa história não se repita.

Há alguns fatores em comum entre os últimos regimes militares no Brasil e na Argentina. Em ambos os casos, o deposto era um vice que ocupava a presidência devido a alguma tragédia - a morte de Perón no caso argentino, a estupidez de Jânio no caso brasileiro. Em ambos os casos, o deposto não correspondia ao peso de suas novas responsabilidades, abrindo um vácuo de poder que seria ocupado por fardados armados paranóicos embuídos de um sentido de missão que consideravam quase divina: eliminar os "subversivos" do país e alcançar um grau de desenvolvimento que consideravam impossível para civis corrompidos pela política. Esqueçam as teorias de conspiração que aprenderam no segundo grau, a longa noite latino-americana foi gerada em nossas próprias sociedades.

Acho que a diferença entre matar 3.000 e 30.000 é meramente quantitativa, não qualitativa - o pecado é tão grande que não permite gradações. De qualquer forma, é consenso que a ditadura argentina foi ainda pior que a brasileira, matou mais e não tinha certos pudores no exercício do poder, como manter o Congresso aberto. Como conseqüência, enquanto nossa transição para democracia foi "lenta, gradual e segura", a Argentina sofreu um processo mais abrupto, catalizado pela Guerra das Malvinas, muito mais rancoroso, com muito mais dor.

Ao contrário do Brasil, onde até mesmo aqueles que foram torturados pela ditadura e estão hoje no poder resistem a divulgar as pilhas de documentos secretos que poderiam levar a uma caça às bruxas, aqui as violações sistemáticas de Direitos Humanos cometidas pela ditadura militar são consideradas crimes contra a humanidade, não prescrevem. Conversando com meus colegas argentinos, fica claro que a questão é extremamente delicada. Chegam a baixar a voz ao falar do assunto. Um verdadeiro tabu, especialmente para aqueles que têm parentes militares. Há uma espécie de sentimento de culpa coletiva no ar, da mesma forma que alemães que nasceram depois da guerra não falam sobre Hitler.

Há poucas semanas, o 24 de março foi declarado feriado nacional - hoje é a primeira vez que a data é "celebrada". A maioria dos feriados na Argentina faz referência à morte de algum herói nacional, mas houve alguma polêmica se a data do golpe deveria ser lembrada com uma folga do trabalho. Mas mesmo as Avós da Praça de Maio vieram a apoiar a iniciativa do governo, com o entendimento de que o feriado não é um dia de comemoração, mas um dia para luto.

Me pergunto se a abordagem argentina, expurgar os pecados da ditadura militar com rancor e dor, não é melhor que nossa anistia ampla e irrestrita. Certas coisas não podem ser esquecidas, sob pena de se repetirem.

14 março 2006

Jeitinho porteño

Todo paulista sabe que no Rio de Janeiro deve contar seu troco direitinho e ter cuidado com prestadores de serviços a turistas, taxistas, etc. Meu ponto não é que cariocas sejam sacanas - há aproveitadores em todos os lugares - meu ponto é que algumas situações, como ser paulista no Rio de Janeiro, por exemplo, deixam um estrangeiro em situação vulnerável.

Buenos Aires, obviamente, não é diferente, e as hordas brasileiras que invadem periodicamente a cidade desde a desvalorização do peso são um alvo preferencial. As primeiras coisas que me alertaram quando cheguei foi "não confie nos argentinos" e "só tome os rádio-táxis".

A dica dos táxis é realmente importante. Futuros visitantes, anotem. Você nunca verá tantos táxis tão baratos quanto em Buenos Aires, mas tenha a preocupação em tomar aqueles que anunciam serviço de rádio-táxi no teto; são mais confiáveis. Distraído, ignorei esse alerta na semana passada e o motorista teve a cara-de-pau de tentar me passar uma nota de 50 grosseiramente falsificada (a tinta estava borrada!!), dizendo ainda que era de uma série nova e que eu não teria que trocar no banco. Ao reclamar, o safado tentou me empurrar outra nota falsa, de 20. Che, me tomas por boludo?!

Os próprios argentinos não-portenhos têm esse tipo de preocupação. Saí para tomar uns tragos com uns colegas outro dia; para evitar trampas, faziam questão de ir até o bar comigo e transmitir meu pedido ao garçom, evitando desperdício de valiosos pesos.

Uma coisa é desconfiar de todos quando se está em visita, mas quando se está vivendo no lugar (ainda que só há duas semanas) pode se tornar um tanto irritante. O jeito é relaxar e me acostumar, como os locais; da mesma forma que um carioca conta seu troco direitinho e o paulistano acha normal passar 4h por dia dentro de um carro.

13 março 2006

Dos maiores elogios que recebi

De um militar:

Você ainda será demitido por incompatibilidade com a função...
De uma colega argentina:

Você não tem perfil de quem ficou entre os primeiros na sua classe...
Não se trata de distorção na percepção do receptor, as duas frases foram expressamente ditas como elogio. Não digo para me gabar, não....é só para dar uma idéia da imagem que projetam por aí.

02 março 2006

Buenos Aires. Primeiros dias.

Cheguei a Buenos Aires com 15kg de roupa suja. E só.

Uma amiga querida foi me buscar no aeroporto. Ela é uma santa, conseguiu lugar em um hotel baratinho na última hora, tarefa quase impossível devido à invasão de brasileiros que ocorreu aqui durante o Carnaval e ao show do U2, que esgotaram a capacidade hoteleira da cidade. Estou agora em um apart-hotel bem charmoso e com uma tarifa promocional sugerido pela Embaixada. Tengo dirección y teléfono, mas não sou doido de postar aqui. Interessados, favor mandar email.

O hotel anterior era em uma parte um tanto pitoresca da cidade, onde se concentram as casas de strip. Não era possível andar mais de uma quadra sem receber uma papeleta para um desses estabelecimentos comerciais-recreativos.

Mas também era na área dos Irish Pubs. Você sabe que a civilização chegou a algum lugar quando você encontra Guiness Draft (de latinha não serve). Poucas coisas no mundo, nem o McDonald's, são mais universais do que um Pub Irlandês. Seja em que buraco do planeta for, você sabe o que vai encontrar, e sabe que será bom. (St. Patrick's se aproxima...)

Meu primeiro dia foi dedicado a comprar um terno para o trabalho em algum lugar que fizesse os ajustes no mesmo dia. Sem muitas opções de barganha e com informação assimétrica, fiz como todos os outros brasileiros na cidade e passei o dia na Calle Florida, vestindo minha calça e jaqueta austrais impermeáveis - o resto da roupa ficou na lavanderia.

Para minha surpresa, não me ofereciam papeletas de lojas para turistas vendendo couros e souvenirs. Não sei se fico feliz por não ter cara de turista ou se fico triste por ter cara de turista pobre, ou pior, cara de argentino.

Dia dois, terça, apresentação no trabalho, que só soube de minha chegada na véspera de Carnaval ao final do expediente e, conseqüentemente, não tinham muita idéia do que fazer com o novato aqui. No dia seguinte, segui para o Isen, onde estudarei. Esperavam um brasileiro para um semestre, receberam dois que ficarão um ano. Tampouco sabem direito o que fazer com a gente.

As aulas ainda não começaram para valer, ontem houve apenas a carimônia de abertura de trabalhos. E aí comecei a perceber outras coisas universais. Todo primeiro dia de aula, em qualquer lugar, é igual: os veteranos checando a nova turma atrás de quem é gostosa; os intercambistas sendo recebidos com curiosidade e expostos pelos diretores como animais de algum show de curiosidades; novatos empolgados e sem noção de onde estão se enfiando; veteranos sem saco para voltar às aulas; veteranos felizes de voltar às aulas porque estas significam o fim dos estágios e a volta das tardes livres.

Na verdade, do que vi até agora, é tudo assustadoramente parecido com o Rio Branco. Sabe o filme "Nueve Reinas"? Fizeram uma versão americana, exatamente o mesmo roteiro com algumas poucas adaptações, ambientado nos EUA; chamou-se "171" no Brasil. Pois é, estou com uma sensação parecida. Mesmo roteiro, outro cenário. "Rio Branco 2 - A missão" - ahora en español.

Ainda não tive tempo de curtir a cidade, mas já dá para perceber que vou adorar isso aqui...

26 fevereiro 2006

Quer fazer Deus rir? Faça planos.

Meu plano era ir para um certo estágio no exterior, mas isso foi tirado de mim. Meu plano era "viver felizes para sempre", mas quando um não quer, dois não permanecem casados. Meu plano era tirar umas férias depois de minha viagem à Antártica em um veleiro dobrando o Cabo Horn, mas terei que postergar isso.

Agora que é oficial, posso falar abertamente, ao invés de ficar deixando dicas subliminares no blog (O mundo muda. A gente muda...). No dia 13/2, quando estava em Punta Arenas prestes a embarcar para a Antártica, o Instituto Rio Branco me ofereceu uma das vagas para estudar no Instituto del Servicio Exterior de la Nación, Isen, a academia diplomática argentina.

Graças ao link via satélite de Ferraz, pude entrar no circuito - seria tragicamente engraçado voltar ao Brasil e descobrir que fui preterido porque não pude ser contatado. Com a ajuda dos amigos (obrigado a todos), esclareci que poderia sim me apresentar em Buenos Aires na data exigida, 1º de março, quarta-feira de cinzas, bastaria mudar minha passagem e abrir mão de meus planos de férias (o que não foi feito sem dor).

Obtido o aval da chefia, passei ainda alguns dias em ansioso suspense por uma confirmação oficial, que chegou finalmente na tarde da última sexta-feira, véspera de Carnaval. Nesse tempo todo postando, estive tenso, com a cabeça em BSB e BsAs e os pés aqui. Em algumas poucas horas embarco em um avião a caminho de Buenos Aires, onde antes de ir para algum hotel o taxista vai me levar para comprar um terno, uma gravata e um par de sapatos, pois só levo comigo meu mochilão austral.

Tudo ocorreu tão rápido, confesso que estou com frio na barriga. Tenho calafrios só de imaginar o que me espera para organizar minha mudança à distância. Não sei se foi a decisão correta, mas sei que, fosse qual fosse, eu ficaria imaginando a alternativa..."e se?". Foi uma decisão complicada porque não queria sair nessas condições, quase um fugitivo, de onde estou trabalhando agora, mas me pareceu uma oportunidade boa demais para deixar passar e, felizmente, minha chefa compreendeu isso (adoro essa mulher).

Abracei a mudança. Vocês não fazem idéia de como estou feliz aqui, eu só lamento não poder dividir este momento de forma apropriada com meus amigos. Eu preferia contar isso tudo pessoalmente, de preferência em meio a alguns chopps no Bar Brasília, ou pelo menos por email, individualmente, mas parti de BSB sem minha agenda de contatos e não sei quando terei oportunidade de retornar ao cerrado. Espalhem a notícia por favor, abraços e beijos a todos, e tomem umas por mim. Assim que eu tiver um endereço e un teléfono, vocês serão devidamente informados.

Bom Carnaval para vocês, o Explorador vai levar sua rede para Buenos Aires.


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Estamos prestes a entrar no terceiro mês de 2006. Me diverti saindo todas as noites de janeiro - caí na putaria, caí de beber e caí de amores. Em fevereiro, fiz uma viagem para a Antártica, minha obsessão, encarei uma travessia pela Passagem do Drake e fui até o Fim do Mundo, a Terra do Fogo. Em março, começo a viver em Buenos Aires. Só falta o Santos ser campeão.

Tudo conspirou a meu favor, mesmo meus momentos mais difíceis... Assim acabarei virando um fatalista, que será, será....Talvez eu tenha mesmo nascido virado para a Lua, como diz minha tia. Ou talvez tanta coisa boa seja alguma forma de compensação cósmica pela sacanagem que me foi feita em 2005. Se for o caso, já está pago, com juros - e quem saiu no lucro nessa história certamente fui eu.

Quem sabe, talvez eu até vá agradecer a falecida...

25 fevereiro 2006

Dia 14. Museus. Trem do Fim do Mundo. Parque Nacional.

Passei o resto do dia anterior zanzando pela cidade, perdido de propósito. Cheguei a uma parte da cidade nada charmosa, que provavelmente só nao é uma favela porque o pessoal morreria de frio.

O ponto alto foi a descoberta, indicaçao do oráculo Lonely Planet, de uma livraria especializada em livros e DVDs sobre exploraçao antártica...doeu no bolso, mas cortei alguns itens da minha wishlist da Amazon.

O ponto baixo do passeio foi na volta descobrir que Amyr Klink esteve no Ary Rongel, visitando o Comandante por algumas horas. Ele está a bordo do Nordnorge, cruzeiro antártico que partia enquanto eu recebia a notícia, perdi a oportunidade de tietar meu herói em seu próprio habitat.

Museus

Visitei o Museu do Fim do Mundo e o Museu Yagán. Lugares extremamente pequenos, dá para ver tudo em menos de 15 minutos cada, mas jeitosos. No primeiro deparei-me com uma informaçao frustrante. Em parte, a mitologia náutica em torno destas paragens e do Cabo Horn é resultado de um esquema de golpe em companhias de seguro. Com a revoluçao náutica trazida pelo vapor e, depois, pelo óleo, aproveitando-se do alto índice de naufrágios e do isolamento desta regiao, companhias de tranporte e carga mandavam seus capitaes darem sumiço nas embarcaçoes à vela em naufrágios forjados nestas bandas. Simplesmente nao havia como verificar o sinistro e o dinheiro do seguro era utilizado para renovar a flotilha. Prefiro a lenda.

Os Yagán eram os nativos da parte sul da Terra do Fogo. Ushuaia quer dizer "Baía voltada para o poente" em sua língua. Eram poucos, alguns milhares e nao deixaram muitos vestígios de sua passagem pela Terra. Nômades, nao possuíam escrita, sequer faziam pinturas rupestres (as camisetas vendidas aqui com símbolos indígenas sao de povos da Patagônia), e tudo o que se sabe deles hoje deve-se aos missionários ingleses e salesianos que primeiro se estabeleceram por aqui. Sucumbiram às doenças européias e à fome trazida pela escassez de baleias e lobos-marinhos, seu principal alimento, que por sua vez foram dizimados por baleeiros e caçadores de foca. Construíam impressionantes canoas de cortiça que as mulheres, as únicas que sabiam nadar, manejavam com destreza. Nao tinham âncoras, amarravam as canoas nas enormes algas (kelps) que crescem por aqui. Os homens cuidavam do arpao e as crianças mantinham o fogo aceso nas canoas.

Nao eram assim tao miseráveis como supôs Darwin ao ver um bando de índios gordos e pelados nessas terras frias. Nao usavam roupas (salvo um manto de pele de lobo-marinho em dias mais frios) porque roupa significa acumulo de umidade e, conseqüentemente, desconforto. Era muito mais fácil manter-se aquecido e impermeável cobrindo o corpo de gordura e ficando perto do fogo.

O fogo era elemento constante e vital na cultura Yagán. Mantinham alguma brasa sempre acesa, mesmo em suas canoas, para aquecimento e para evitar o trabalho de acender uma nova fogueira a cada parada (lembram daquele filme insuportável e onipresente nas escolas do segundo grau, "A Guerra do Fogo"?). Usavam também como forma de comunicaçao com as canoas distantes a caçar. Quando Magalhaes chegou ao extremo sul da América pela primeira vez, viu diversas dessas fogueiras, mas nao viu gente - daí Terra do Fogo.

Trem do Fim do Mundo

Você sabe que entrou em uma armidilha para turistas quando se vê cercado de aposentados e há uma gravaçao em alto-falantes com explicaçoes em japonês e coreano sobre o lugar.

Assim como Punta Arenas e Hobart, os outros pontos de entrada da Antártica, Ushuaia surgiu de uma colônia penal criada no intuito de ocupar e reivindicar estas terras para o Estado. A única forma de comunicaçao da cidade com o mundo exterior era pelo mar, mas havia uma linha férrea de 25km ligando o presídio a lugar nenhum. Todo dia, saía uma locomotiva transportando presos para cortar lenha nos bosques em torno da linha, para servir de combustível para os geradores e aquecedores do presídio e da cidade. Hoje, o presídio é uma base militar e os últimos restaurados 7Km da linha férrea sao uma armadilha para turistas, uma versao melhorada do trenzinho da finada Cidade da Criança de Sao Bernardo que percorre um bosque de tocos mortos. O jeito mais caro de entrar no Parque Nacional da Terra do Fogo.

Parque Nacional da Terra do Fogo

Fugi o mais rápido possível da armadilha e me botei a caminhar pelo parque. É uma reserva ambiental restrita, há poucas trilhas, bem demarcadas, a percorrer. Escolhi a Senda Costera, 6,5Km margeando a Baía Ensenada até quase a fronteira com o Chile, umas 3 horas de caminhada. Deu para cansar.

Trechos de bosque bastante fechado intercalados por praias de cascalho com uma vista incrível da Cordilheira ao fundo, para sentar, apreciar e refletir. O frio e a neve do inverno impedem que a matéria orgânica se decomponha completamente, em alguns trechos dá para ver que nao se está pisando em solo, mas em um enorme emaranhado do que um dia foram folhas, galhos e troncos. É como andar em um imenso xaxim, com uma generosa e grudenta camada de lama nas áreas onde a água se acumula. Estou com os joelhos doendo, mas valeu.