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28 janeiro 2009

Talvez eu esteja com saudades do cerrado...

Pelo que andei lendo pela internet, há uma grande polêmica em Brasília ao redor da tal "Praça da Soberania", o novo projeto de Niemeyer para a Esplanada. Estou longe, sei, mas não posso deixar de dar meu pitaco de candango de adoção.

Juro que não vou fazer nenhuma piada fácil com objetos arquitetônicos fálicos de mau gosto napoleônico. Nem com o ridículo nome "Praça da Soberania", bolivariano pacas, algo de se esperar do último stalinista vivo no mundo.

Considero a praça inevitável, Niemeyer já disse que não abre mão do projeto (arrogante, o velhinho) e o escritório dele tem um bizarro poder de veto sobre qualquer coisa que é construída no Plano Piloto. Até acho válido o argumento "precisamos de mais estacionamento", isso realmente falta na Esplanada.

O que me irrita de verdade é como Niemeyer parece senilmente acreditar na confusão geral de que foi ele quem construiu Brasília. Só isso me explica como pode justificar o projeto apropriando-se de um conceito que JÁ ESTAVA previsto no Plano Piloto de Lúcio Costa, mas para o qual os encarregados de BSB nunca deram muita bola.

O tal "espaço de socialização" já estava previsto no Plano Piloto original, em diversos locais da cidade: a própria Rodoviária, a Praça dos Três Poderes e um parque às margens do Lago. O parque nunca saiu do papel e a orla do lago é a tristeza que sabemos, totalmente privatizada, ocupada por clubes ociosos. A idéia da Praça dos Três Poderes como ponto de encontro foi abandonada, lentamente ocupada por pombais, panteões e "puxadinhos" do Congresso e do Judiciário - ninguém se preocupou, por exemplo, em fazer um estacionamento decente lá perto, que atenderia tanto aos barnabés durante a semana quanto aos transeuntes no fim de semana. A Rodoviária foi entregue aos ambulantes e flanelinhas.

Ou seja, abandonaram pontos importantes do projeto original e agora querem colocá-los em outro lugar, mas nunca se incomodaram (nem se incomodarão) em recuperar as áreas degradadas - e ainda culpam o tombamento da cidade por isso!

É muita cara de pau do arquiteto uva-passa argumentar que a cidade precisa de um estacionamento quando o Museu da República, ali ao lado, não conta com um apropriado. O monopolista da arquitetura de BSB parece se esquecer também que não há "socialização" que agüente estar exposto ao sol do cerrado em uma enorme superfície de concreto que absorve o calor e reflete tanta luz que mal é possível abrir os olhos.

Enfim, por mais que seja inevitável ou até mesmo necessária, por melhor que a construam, acho a Praça da Soberania um injustiça grande com Lúcio Costa. É dizer, "olha, o tiozinho do bigode tinha boas idéias no seu projeto, mas esquece, a gente não executou bem. Então chamamos seu parceiro mais famoso para dar uma ajeitada, só que em outro lugar".

BSB tinha que sair da sombra de Niemeyer e recuperar seu gênio verdadeiro, o injustiçado e muitas vezes esquecido Lúcio Costa. Cansei dos não-candangos darem crédito indevido a Niemeyer pela construção de minha cidade de adoção. BSB é de Lúcio Costa: morar no Plano Piloto é muito bom, por mais que você seja um carioca recalcado com a mudança da capital (superem, por favor). Já trabalhar ou estudar em um prédio de Niemeyer é sempre uma bosta, por mais bonita que seja a maquete.

PS: de um amigo meu "Oscar Niemeyer é a Dercy Gonçalves da arquitetura"

11 março 2008

Torce e retorce

Eu poderia assinar embaixo de tudo que o Tio Riq, o cara que mais entende de viagem no Brasil, disse sobre esse patético episódio dos barrados nos aeroportos de Madri e Salvador (barrados, não "deportados": você precisa estar dentro do país para ser deportado). Mas iria ainda além: o tiro não é só no pé da indústria turística brasileira, é também no pé dos brasileiros que viajam para a Europa. Houve quem dissesse que isso é uma questão de "respeito" e de "orgulho nacional": não sei que diabo de solução é essa em que todos saem perdendo.

Explico: ao retaliar aplicando a "reciprocidade" (tecnicamente, não se trata de "reciprocidade", mas de "retorção": aplicação de uma medida formalmente legal para retaliar outra equivalente, vulgo "operação padrão" - como também era o caso das digitais norte-americanas) cria-se a ilusão de que as autoridades brasileiras estão lidando com a questão, quando não chegam a arranhar o problema de fato: o "tratamento Guantánamo" recebido por cidadãos brasileiros em Barajas, Lisboa e Heathrow. Viajantes cuja entrada foi negada na europa, muitas vezes arbitrariamente, são mantidos incomunicáveis, em condições precárias, sem atenção médica adequada, sujeitos a abusos de autoridade por dias até que haja alguma vaga em vôos para retorno. A retaliação simplesmente justifica esses abusos, mas limpa a consciência de quem deveria estar trabalhando para acabar com eles.

O tratamento que foi dado à questão na imprensa brasileira é ridiculamente preconceituoso, tanto quanto o preconceituoso agente de aeroporto espanhol: o problema existe há anos, é bem mais grave do que o publicado, mas ganhou repercussão porque gente "de bem" foi barrada. Salvo exceções, a mensagem geral dos jornais foi: como os espanhóis se atrevem comparar esses meninos a caminho de um congresso de estudantes universitários com a ralé que tenta migrar para o exterior?

O artigo da Barbara Gancia (em 29/02/2008, link para assinantes) foi a expressão máxima disso, uma das maiores demonstrações de preconceito que já vi contra a comunidade de brasileiros no exterior, me deu verguenza ajena:

"Qualquer um que já tenha viajado à Europa sabe do que brasileiros são capazes quando estão no exterior. Travestis tapuias se prostituem por dois tostões na Itália e na França. Em Portugal e na Espanha, somos conhecidos como traficantes de drogas e, na Alemanha e na Suíça, as brasucas são tidas como prostitutas de luxo."
A autora admite estar fazendo uma "generalização grosseira", mas acha que ela e "o brasileiro que vai para trabalhar, estudar ou gastar seu suado dinheirinho de férias" não merecem ter o mesmo tratamento dado a brasileiros que fazem má fama "tapuia" na Europa. Quem é que merece ficar dias incomunicável à disposição de uma autoridade policial? Quem é que merece ter seu direito de ir e vir violado sem acusação formal?

Parece a cena do filme "Tropa de Elite" em que um rapaz tenta escapar dos safanões do Capitão Nascimento ao invocar sua condição de estudante. Barbara Gancia, a senhora é moleque. Moleque por fazer uma generalização grosseira dessas sabendo que é bobagem. Traficantes de drogas vão em cana quando são pegos em aeroportos - e mesmo eles têm direito a um telefonema ao ir em cana, o que muitas vezes é negado aos viajantes barrados em Barajas. Prostitutas merecem o mesmo tratamento não preconceituoso dado a colunistas. Seu artigo diz basicamente que o preconceito do agente do aeroporto não pode ser contra os brasileiros em geral, tem que ser um pouquinho mais seletivo...

O problema não são as férias arruinadas dos brasileiros barrados, a Espanha tem todo direito de barrar quem quiser, com o argumento ridículo que for - como também têm essa prerrogativa os agentes da PF de Salvador. A questão é como são tratados esses cidadãos barrados no "limbo" do aeroporto, sejam eles prostitutas ou estudantes universitários.

Graças a esse infantil exercício ufanista de virilidade que resolveram chamar erroneamente de "reciprocidade", não se avançará um milímetro no problema real: o fato de viajantes barrados serem mantidos incomunicáveis, em condições precárias. Guardadas as devidas proporções, é o equivalente a ser levado pela polícia sem acusação formal. E agora o governo deu a desculpa derradeira para que isso continue a ocorrer: é "reciprocidade".

Nesse sentido, talvez a exigência recíproca de vistos (aí sim é "reciprocidade") seja o mal menor, evitaria desgastes desnecessários ao dificultar antes da partida a entrada de potenciais barrados na Europa. Vale lembrar que visto é apenas "expectativa de direito" e que mesmo com visto o viajante ainda pode ser barrado. De forma semelhante, o México nos fez um favorzão ao passar a exigir vistos a brasileiros: reduziu o número de brasileiros mortos ao tentar atrevessar o deserto para os EUA.

Disclaimer: não precisaria dizer, mas precisa. As opiniões acima são de caráter estritamente pessoal, não comprometem meus empregadores

06 março 2008

Enquete: a solução latino-americana para o conflito andino

Via Unos cuantos piquetitos: Qual seria a "solução latino-americana" para o conflito andino?

a) Onze pra cada lado e resolve com uma pelada;
b) Um presidente enche a cara e ocupa as primeiras ilhas que ver pela frente;
c) Emburrecer equatorianos e venezuelanos até que não sejam mais capazes de entender um mapa;
d) Dar uma encolhida nos índices de inflação e nos marcos de fronteira
e) Colômbia e Equador organizam um carnaval, todo mundo peladão, e esquece tudo que aconteceu com muita cachaça.

19 fevereiro 2008

Quem venceu?

Traicionaría por tanto mi conciencia ocupar una responsabilidad que requiere movilidad y entrega total que no estoy en condiciones físicas de ofrecer.

Não foi bem uma renúncia, o barbudo apenas se recusou a ser "reeleito" (cof cof). Mas com a saída de Fidel da presidência de Cuba, quem venceu a mini Guerra Fria caribenha? O imperialismo, ao ver seu arqui inimigo desisitir, ou o comandante, ao sair em seus próprios termos?

Ou venceu apenas o prazo de validade?

Que final sem graça para uma disputa que quase levou à hecatombe nuclear. Se o sucessor dele for esperto, a morte de Fidel nunca será declarada. O melhor a fazer é mandar empalhar e botar o barbudo sentado em uma cadeira no cantinho do gabinete, vestindo a farda (ou o agasalho da adidas, se rolar um "merchan"). Enquanto isso, um ghost writer continua escrevendo no Granma as "Reflexões de Fidel". Qualquer coisa, foi o Fidel que recomendou fazer, sentadinho de sua cadeira lá no canto. Não, não o incomode, ele está dormindo a siesta.

Quem se atreveria a questionar um regime que tem como inspiração um ser imortal? Para garantir, deveriam preventivamente tirar umas fotos como essa aí do lado, para provar que o barbudo está vivo. Um Photoshop básico muda a manchete do Granma de acordo com a necessidade do dia - se Stalin mandou reeditar os livros de história, por que Fidel não pode escrever o futuro? Não deve ser difícil para um dinossauro fazer pré-história.

O barbudo assim será imortal e as sutis diferenças entre marxismo e teocracia finalmente cairão por terra.

31 janeiro 2008

Nota de protesto

Cadê o Movimento Viva Rio nessas horas?!?! As passeatas pelo calçadão, todos vestidos de branco?!?! Cadê a população se mobilizando para defender esse patrimômia carioca, tão importante para o turismo brasileiro como o Cristo Redentor?!?

11 dezembro 2007

Campanha: Vote no Simões!!

O Jornal O Globo está com uma dessas enquetes de fim de ano, para escolher as personalidades que "fazem diferença", o Prêmio Faz Diferença. Na categoria Ciência/História, está o Professor Jefferson Cardia Simões, o cara que mais entende de gelo no Brasil, um dos principais pesquisadores do Programa Antártico Brasileiro e o primeiro brasileiro a chegar ao Pólo Sul por via terrestre (outros voaram até lá ou andaram só os últimos quilómetros, mas Júlio Fiadi promete mais em breve).

Votem no Professor Simões!!

11 novembro 2007

Nunca gostei tanto da monarquia...

27 julho 2007

Dinheiro público dá no mato

Eu nem sei quem é Vanessa da Mata. Mas acho curioso como estão batendo na menina porque seu DVD recebeu 900 mil doletas da Lei Rouanet. Ela só está usando um recurso disponível, legal e amplamente utilizado. A crítica ao caso dela, porque a obra visa o lucro, se aplica sem tirar nem por a TODA obra artística feita com recursos da Lei Rouanet - praticamente todo o cinema nacional, por exemplo, até os filmes da Xuxa.

O raciocínio se aplica também a praticamente todo e qualquer incentivo governamental dito "desenvolvimentista", "proteção da indústria nascente", etc. É dinheiro público saindo da coletividade para reduzir o risco e aumentar o lucro de pequenos grupos privados amigos do rei. Volte lá no Celso Furtado e procure no índice remissivo "socialização das perdas".

Como bom brasileiro, acho que temos é que bater no peito e defender os aviões da Embraer tanto quanto os DVDs da Vanessa da Mata. E mais, eu também quero meu jabá. Este blog passa a fazer parte da campanha lançada por Serjão comenta do céu:



Ser liberal é uma merda mesmo...


23 julho 2007

Plágio

Dêem uma olhada neste texto aqui, do blog de humor Opinão Popular. Depois leiam este vendido aqui, na Carta Maior. Quem plagiou quem?
é claro para qualquer pessoa com o mínimo de discernimento, os grandes culpados são o neoliberalismo, o capitalismo selvagem e o egoísmo burguês, que são exatamente a mesma coisa.

a ver se com isso eu atraio um pouco da audiência do Tio Rei, que está de férias...

18 julho 2007

Nunca antes neste país....

...viajar foi tão perigoso. A frase "relaxa e goza..." atinge uma nova dimensão a partir do triste acidente de ontem. Não foi gracejo, não foi lapso, foi sintoma da incompetência generalizada, sintetizada na frase abaixo, em itálico:
Tragédia anunciada

Ao falar ontem sobre a "evolução" do ministro Guido Mantega, Lula fez a frase que talvez seja a mais simbólica de seu estilo de governar. A mais completa tradução do que se passa nos céus do país há dez meses desde que caiu o avião da Gol.

Veja o que Lula disse:

- Em determinados cargos (...) a gente faz quando pode, e, se não pode, a gente deixa como está para ver como é que fica.

Pois é, é assim que se leva um país. Foi com o governo "deixando como está" e "vendo como é que fica" que uma nova tragédia, esta bem anunciada, resultou em mais de 200 cadáveres.

17 julho 2007

Guerrilheiros relaxando e gozando

Com a consolidação dos blogs como meio de comunicação na Internet, não tardou muito para o mercado publicitário se impor também neste meio. Não estou falando dos Google Ads e afins (que não me rendem nada mesmo...alguém aí se incomoda com os anúncios?), mas do que se convencionou chamar de "marketing viral" ou "marketing de guerrilha"- coisas que parecem engraçadinhas e legais para passar adiante por mail, mas que na verdade foram criadas e divulgadas em primeiro lugar por publicitários.

Quem mais entende do tema provavelmente é Mr. Mason do Cocadaboa, site que já foi dos mais polêmicos do Brasil, mas que anda meio de lado porque Mason justamente consolidou-se como um dos grandes guerrilheiros de marketing do Brasil e agora tem mais o que fazer do que administrar o site (seus críticos chamam ele de "traidor do movimento"). Aparentemente, ele tem uma rixa com o Antonio Tabet do Kibe Loco, talvez o mais acessado site de humor em português, e pelo que entendi é exatamente pelo uso que este último faz de campanhas virais.

Ou vai me dizer que a piada do "Hoy... - Ooooiiii..." não é jabá da empresa de celular detrás desta campanha endossada pelo site? Só não é mais direto que este post sobre uma marca de cerveja...

O Kibe tem milhares de acessos diários, tem mais é que faturar em cima mesmo. Independentemente de terem sido feitos ou chupinhados para uma campanha de marketing, são posts criativos - talvez até mais criativos por isso. Não é tudo publicidade, obviamente, mas a audiência dos posts "inocentes" é também exposta à publicidade, sem que esta seja explícita como tal. A Internet deu uma forma aos publicitários de criar e rastrear o famoso "de boca em boca".

Não estou criticando Tabet, só estou citando isso como exemplo de que, como em todo meio de comunicação de massa, tampouco há inocência e imparcialidade na blogosfera, nem mesmo em sites de humor. Mas é bom ter em mente que ao enviar um link divertido para alguém, você possivelmente está fazendo comercial de graça - você faria isso com algum panfleto na rua?

Toda a enrolação acima para levantar a seguinte hipótese conspiratória. A Peugeot não tinha que tirar do ar o anúncio que tira sarro da Marta Suplicy, pedido do Presidente ou não. E se a retirada do anúncio, logo incluído no YouTube, e a conseqüente polêmica a respeito foram parte da campanha?? Vá lá, é um comercial engraçadinho, mas nem tanto, cairia logo no esquecimento - a polêmica gerou um burburinho muito maior do que teria o anúncio normalmente, em um público com maior poder aquisitivo, o que tem acesso à Internet.

Não duvido que tenha ocorrido o pedido do Presidente, dadas as anteriores manchas de autoritarismo na faixa presidencial, mas aposto algumas fichas que a empresa aceitou de bom grado a oportunidade de ver seu comercial passando em todas as telas de computador do país. Fico imaginando o publicitário fazendo doce quando lhe pedem que retire a campanha do ar, para depois, sozinho na sala, fazer uma dancinha da vitória e abrir aquela garrafa de champanhe guardada...

11 julho 2007

Clássico da repartição: Caminhoneiros x Tropa de Choque

Em clima de Copa América, eles estão de volta. A torcida organizada do sindicato dos caminhoneiros bate bumbo à porta da repartição, bem abaixo de minha janela (protegida com jardineiras anti-bomba, herança arquitetônica da ditadura), cantando xenofobicamente siga el baile, siga el baile / al compás del tamboril / que esta noche nos cogemos / a los putos de Brasil.

Só aos putos, por favor.

Será uma manhã interessante, haverá quilombo. Y los niegros de mierda / nos quieren cagar / y los niegros de mierda / nos quieren cagar / Qué quilombo / Qué quilombo voy armar...

Quando cheguei já havia um empurra-empurra entre a militância e tropa de choque da polícia porque esta apagou uma fogueira na pracinha aqui em frente. Parece que intenção da hincha do sindicato é acampar.

A polícia está na porta desde ontem, passando frio. Anda fazendo um frio dos diabos, como vocês sabem. E a tropa de choque está louca para aquecer-se.

UPDATE: Depois de uma longa manhã escutando bumbos no trabalho como se eu remasse em uma galera antiga (nunca digitei de forma tão ritmada...), a hincha do sindicato foi embora, mas sem levar borrachada.

PS: Me encanta escutar a hinchada gritar negros de mierda menos de uma semana depois de ouvir de um diplomata argentino que aqui não há racismo "porque no hay negros". Ha! É quase tão engraçado quanto ouvir que não há racismo no Brasil "porque raça não existe" - como se a inexistência de raças anulasse o preconceito ao invés de deixá-lo ainda mais em evidência, como se fosse necessário declarar-se racista para ser-lo...

09 julho 2007

9 de julio - neve em BsAs!!


Bom, agora não falta nada para o porteño se considerar integrante do primeiro mundo. Talvez um terremoto...
Infelizmente, perdi essa (estava em trânsito). A foto acima é do Clarín.


O frio aumentará o consumo de energia, agravando um quadro de crise cuja existência é pateticamente negada pelo governo. Você congela os preços energéticos, inibindo os investimentos no setor - o que acontece quando a produção ocupa a capacidade ociosa?? Biduzão.

Na verdade, não sei se Señor y Señora K. estão esquentados com o fato, já que a neve é uma evidência visível e palpável do argumento governista: não existe crise energética, é o inverno que é está mais forte. Hmm...isso me soa familiar... Sugestão: que o Ministro De Vido saia a dizer por aí que a neve é sinal de prosperidade, que é prova de que a Argentina está mais próxima dos países desenvolvidos e que há mais casas com aquecedores. Quem se lembra de neoliberal fazendo nevar??

Mas talvez, só talvez, Señor y Señora K. devessem estar preocupados. Quem acredita em mandinga sabe que não se pode negar os sinais divinos: a última vez que nevou em BsAs foi em 1918, quando os Radicais consolidavam seu primeiro ciclo no poder com Yrigoyen, o nome de rua mais complicado entre a Gral. Paz e o Rio da Prata. Talvez seja tudo um complô da oposição...

Ai, Cristo!

Post tardio, mas estava longe, no norte da Argentina (do c@$%lho!!!), relevem:

Ainda o Cristo.

Eu já havia dito. Você seeeempre pode contar com sentimentos nacionalistas para justificar o uso de carne humana como bucha de canhão e para botar azeitona na empada alheia.

Sempre
.

26 junho 2007

Ortodoxia Liberal

Pesquisa Sensus divulgada no blog do Fernando Rodrigues indica que 57,9% dos brasileiros aceitariam a instituição da censura prévia.

Medo...muito medo. É de se esperar que muita gente esteja disposta a abrir mão de liberdade em nome de algum conforto material ou alívio de suas culpas, mas potaqueupariu tanta gente assim?!?!

É muito complicada essa história de liberdade, com ela vem a atribuição de responsabilidades por seus atos. Está nisso a superioridade do livre arbítrio, no entanto: não é nenhuma garantia de felicidade ou de bem estar (pelo contrário...), é apenas a constatação de que você é o único dono do seu nariz, não tem a quem culpar por suas mazelas. Dá para entender porque quase 60% dos brasileiros acham mais fácil delegar isso a um nhô-nhô que diz saber o que é melhor para a gente. Se você não sabe o que é melhor para você, porque acha que nhô-nhô saberia?!

Eu já disse aqui que livre arbítrio é uma responsabilidade da porra. Alguém já deve ter expressado isso de maneira mais elegante.

Meu consolo é que sempre nos resta a Ortodoxia Hayekiana...

PS: Epa! Eu escrevi nhô-nhô antes!

14 junho 2007

Fazendo turismo no Planalto

Depois do "relaxa e goza" da Marta, temos que ver isto: Presidente da República faz proselitismo com uma eleição picareta de agência de turismo

Por que "eleição picareta"? Tio Riq te explica...E a patriotada otária que curte botar azeitona na empada alheia vai atrás, votando no Cristo Redentor, porque, afinal, Deus é brasileiro.

Mas o que dói mesmo é este trecho:
Lula disse que não vê nada "de bonito na imprensa brasileira" e que só lê notícias negativas nas manchetes.
Talvez a imprensa brasileira devesse ser mais parecida com o Granma, que só dá boas notícias...

17 maio 2007

"Fejoada" na ocupação da USP

Eu tive um acesso de riso ao ver o vídeo abaixo, riso nervoso, reação instintiva ao absurdo e incompreensível.



Os ocupantes da reitoria da USP prestam uma homenagem às mães mostrando a faxina que elas fizeram para deixar a ocupação mais confortável. O vídeo foi feito pela "comissão do audiovisual da ocupação". Aparentemente, quem providenciou os ingredientes para a "fejoada" foi a "comissão de alimentação da ocupação". É sério, isso existe, vai lá no blog deles.

Se um reacionário como o Tio Rei tivesse feito o vídeo para desmoralizar a ocupação, não teria sido tão ridículo. Note a figura fantasiada de Che Guevara, presença universal em qualquer faculdade de humanas. Esses caras sempre me pareceram a versão marxista dos nerds fantasiados de cavaleiro jedi nas convenções de Guerra nas Estrelas.

Eu perdi amigos durante as greves de 98 e 2002 na UnB porque dizia abertamente que apoiar greves, ocupações e afins era coisa de idiota se colocando à disposição de sindicato para ser massa de manobra. Escapei de apanhar por causa disso um par de vezes, além de ter perdido oportunidade de dar uns pegas em uma caloura. "Naquela época", pelo menos, o pessoal não se oferecia também ao ridículo, ou o ridículo ficava restrito ao campus, sei lá. Ainda não havia o YouTube, ainda não havia o YouTube...

Estamos à beira do abismo, mas este país ainda vai para frente...

11 maio 2007

O santo "brasileiro"

Estou meio espantado com a cobertura da imprensa da visita do Papa. Não pela tola polêmica com o governo, mas pela canonização de Frei Galvão. Não sou católico (fui batizado, mas nunca confirmei minha fé), provavelmente não deveria dar pitaco na questão, mas não resisto.

Se santos são os grandes exemplos de vida que a Igreja acha que os católicos devem seguir. Se a Igreja é supostamente algo universal, superior a homens e Estados. Se Frei Galvão foi canonizado por ter dedicado sua vida à obra da Igreja e ter sido tão bem sucedido nisso que diversos fiéis julgam terem recebidos graças e milagres pela invocação de seu nome.

Por que diabos a patriotada se apropria disso!?!? Que diferença faz se o homem nasceu em Guaratinguetá!? A patriotada sabe onde fica Guaratinguetá? Ele é mais santo que a Madre Paulina porque ela nasceu na Itália?!?!

Frei Galvão foi canonizado pelo que fez pela Igreja, pelo próximo, sem distinção de nacionalidades. Ou estrangeiros estariam fora da jurisdição dos milagres de Frei Galvão?

Ninguém vira santo pelos bons serviços prestados à nação, isso é coisa de barnabés.

Ao definir sua identidade em função da coletividade, a patriotada tem que se apropriar dos feitos individuais, sempre em nome da coletividade. Lá na minha terra, no porto, isso se chama "gozar com o pau dos outros".

Só falta outro Galvão gritando: Ééééé do Brasil-iu-iu-iu!! Santo, Santo, Santo Antonio de Sant'Anna Galvão!!!

20 abril 2007

Uma breve análise econômica

Semana passada, como talvez tenham acompanhado na imprensa, houve um protesto do sindicato dos caminhoneiros argentino aqui em frente à repartição. Aparentemente a Quilmes pretendia cancelar um contrato de distribuição que deixaria muita gente sem emprego, os caminhoneiros ameaçaram parar, secando os bares da cidade, e vieram protestar aqui na frente da repartição porque supostamete a Quilmes pertence a uma malvada multinacional brasileira, que por sua vez pertence a outra malvada multinacional belga.

Como minha sala é virada para a rua, foi uma manhã de trabalho bem interessante, dava a sensação de estar digitando no meio de uma torcida organizada "sooooooooooy camionero! es un sentimiento, no puede paraaaaaaaarrr!!!!". Há uma interessante e nem sempre lícita relação entre as torcidas organizadas e os movimentos sociais profissionalizados, vulgo piqueteros, aqui. "Que hace tu papá, Juanito?" "Toca bombo en la banda del grémio y en la hinchada". Pergunta relevante: se os ditos "movimentos sociais" alugam profissionais para protestar e levar suas demandas à sociedade e às autoridades, suas manifestações gozam de legitimidade?

Intervenção presidencial, tudo resolvido, não vai faltar brahminha nas esquinas portenhas.

E aí, para comemorar (é, você leu corretamente, para comemorar), o grémio resolve parar a cidade hoje, botou os caminhões na rua em procissão ao estilo trio-elétrico, como se precisasse algo mais do que a chuva para parar o trânsito de BsAs. Ainda bem que eu moro a uma quadra da repartição.

Esse apoio aos movimentos sociais profissionalizados é uma das grandes bases de sustentação do governo K. Há que se dar crédito a um presidente que assumiu, ainda que democraticamente, sem nenhuma legitimidade (graças a uma frustrada manobra suja do opositor no segundo turno) e agora tem índices de aprovação massacrantes. A Argentina recuperou os níveis econômicos de 1998 recentemente e agora, oficialmente, está crescendo além do efeito "quicar no fundo do poço".

O problema é que essa política vem acompanhada de uma intervenção estatal na economia que é quase uma caricatura dos anos 80. Controle de preços "voluntário", com direito a maquiagem dos índices de inflação e pressão de funcionários do baixo escalão para que os estabelecimentos comerciais a serem pesquisados para determinar os índices inflacionários baixem os preços. Don Corleone só oferece proteção se puder dar pitaco no preço da laranja também. (ainda bem que o Ipea não sofre pressão política, né?)

O resultado, é claro, é desabastecimento, mercado negro, etc. Não atingiu ainda Microcentro, Barrio Norte, Recoleta, Palermo, mas déjà vu. Quando se torna insustentável, explode e a batata quente fica para o sucessor.

Ou seja, vai quebrar. Pode demorar um pouco, mas a Argentina voltará ao poço. Provavelmente não até o fundo, como em 2001, mas volta. Não sei quando, talvez nem esteja mais em BsAs, mas volta. O engraçado é que isso é instintivamente aceito pelos locais como normal, cíclico, tão certo como a chegada do Natal - enquanto isso dá-lhe dólar embaixo do colchão!

Talvez então eu compre uma fazendinha na Patagônia e vire ermitão de vez.

14 fevereiro 2007

Nada está tão mal....

...que não possa piorar. Meu novo passatempo é ler notícias da Venezuela. Sei lá, me dá uma sensação de que o Brasil é um país bacana, democrático.

Quando alguém começa a perseguir comediantes, é sinal escancarado de ditadura. Imaginem o Laerte, Glauco e o Angeli pagando 18 mil doletas a cada vez que dessem uma esculhambada no Lula ou no FHC...

O quê?! Há risco de terceiro mandato dobrando a esquina??Bom, então não deveria tirar sarro ao olhar para a Venezuela... Vai que estamos olhando para o futuro e não para o passado?


PS: Me adiantei em algumas horas ao Tio Rei....