31 outubro 2005

Multilateralism matters

Apos uma semana de discussoes nas "camaras baixas", dao-se inicio aos debates da "camara alta", que eh o forum politico propriamente dito - apesar das discussoes mais francas e diretas, que eventualmente vem a ter impacto politico, terem ocorrido na semana passada e do fato de ninguem conseguir acompanhar o que acontece agora se nao estiver aqui na semana anterior.

Com o inicio das sessoes desta semana, me pergunto se toda essa historia de jetlag nao eh soh uma desculpa para os muitos bocejos em torno da mesa principal. Multilateralism matters, mas dah um sono.....

29 outubro 2005

Salamanca Sq.

O ponto central desta vila eh uma praca chamada Salamanca Sq., onde estah localizado o courier que me permite enviar estas linhas pelo ar. A proposito, a praca nao eh batizada em homenagem a cidade espanhola, mas a uma das muitas batalhas navais vencidas pelos britanicos. Jah este courier tem como tema a vida do filho mais famoso destas paragens, Errol Flynn, que vc pode achar que nao conhece, mas certamente jah o viu vestindo corpete, capa e espada em algum filme em Techinicolor na Sessao da Tarde. Mais famoso, mas nao querido: aparentemente hah uma maldicao envolvendo seu nome.

Salamanca se divide no mercado para os locais e no mercado para turistas. Os turistas, no entanto, tambem sao locais. Adquirir artesanato em pais desenvolvido eh uma lastima, artesanato bom mesmo soh em pais com mao de obra barata. Muito artesanato em madeira, uma madeira de uma especie endemica que cheira muito bem, mas ainda madeira - nao atravessei metade do mundo para levar de lembranca um pimenteiro. Fiquei com algumas reproducoes de Hurley, alem de alguns souvenirs que fazem referencia a exotica fauna local.

Nota metafisica - ou quantos bolivianos cabem na cabeca de um alfinete

Se a onipresenca eh pre-requisito para a divindade suprema, como querem alguns monoteistas, entao creio que Deus somente pode ser um boliviano, tocando flautinha de bambu, acompanhado por outros instrumentos e, invariavelmente, um playback ao fundo. Em todas minhas viagens, que felizmente nao foram poucas, este foi o unico elemento constante, invariavel e universal: o boliviano e sua flautinha. Ele estah em todo lugar, da Feira da Salamanca em Hobart a Praca da Prefeitura em Copenhague, passando pela Torre de TV em Brasilia. Me pergunto se sobrou algum na Bolivia.

Pois temam mortais, pois o onipresente Boliviano, que tudo ve pois estah em todos os locais, irah um dia julgar os feitos da humanidade, do mais humilde mochileiro ao mais refinado diplomata, e com grande furia aos infieis irah aplicar os poderes de sua flautinha e seu playback.

28 outubro 2005

Notas de Hobart, 2 (o Amapa existe)

Quando vc comeca a achar que entende o sotaque australiano, vc descobre que existe um sotaque tasmaniano, e volta a estaca zero.

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Baladinha com os Under 35'ers (a meia duzia de gatos pingados que tem menos de 35 anos nessa conferencia), depois de jantar com a delegacao brasileira - de repente tenho 17 e sou estudante de intercambio novamente.

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Hobart eh um lugar exotico, a porta de entrada da Antartica, o ultimo posto da civilizacao antes do sul profundo...

...para os aussies, isso aqui eh o Amapa - haveria mesmo duvidas se esses lugares existem, se nao fosse pelo governo mandar-lhes alguns barnabes.

27 outubro 2005

Notas de Hobart, dia 7

Não são injustificadas as queixas de poucos relatos nesta publicação, mas tenham em mente que o acesso a couriers é limitado e que a agenda do evento ocupa parte majoritária do tempo disponível.

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Melbourne, minha breve escala antes da Terra de Van Diemen, foi uma viagem abaixo pela Alameda das Lembranças, como cantaria o menestrel. Dezenas de nomes e rostos do passado vieram novamente a nossas retinas. Milady Jacquier, de quem tenho apaixonantes memórias púberes, permanece tão jovial, abalustrina e radiante como há oito anos atrás, porém casada - hoje é Lowrie.

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Dos demônios que alegadamente povoam Hobart, a capital da Terra de Van Diemen, ainda não tive sinal, salvo pelos colegas de outras nações que há muito repetidamente comparecem a esta Reunial Anual. Nossa nação não tem possibilidade de superar tais delegados da forma inconsistente com a qual assuntos relativos aos oceanos e terras austrais vêm sendo considerados. Minha modesta participação nesta Reunião tem sido um exercício valioso de atuação em tais fora, mas também uma dolorosa constatação de minhas limitações pessoais e da estrutura que represento. A improvisação não pode ser a regra, a não ser no Jazz.

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Apesar de estudar a língua bárbara que é falada com curiosas variações nasaladas nestas paragens desde a mais tenra idade, esta é minha primeira passagem em terra de língua anglo-saxã. Meu valoroso pai, que me obrigou durante a infância a sacrificar lazer em troca do estudo desta língua, estaria certamente orgulhoso em saber que minhas habilidades fonéticas têm sido aqui frequentemente elogiadas. É também entre os delegados locais que me sinto mais à vontade, sendo eles a maioria dos raros na mesma faixa etária que a minha.

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Em nome de minha saúde financeira e em respeito aos fundos do Reino que a mantém, tenho procurado conter-me ao passar em frente às muitas livrarias locais com vastos acervos sobre Viagens & Exploradores austrais. Já comprometi, no entanto, razoável parcela de meu orçamento com o tema.

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O clima é instável e venta muito, mas está mais frequentemente bom do que ruim. Os efeitos da viagem no tempo ainda se fazem sentidos, mas de forma inconstante, momentos de alerta alternados com extrema ebriedade causada por Morfeu. A cidade não inspiraria muitos poetas, mas é agradável. Se não fossem pelas montanhas em torno da vila, seria muito parecida, talvez pelas altas latitudes e pela brisa gelada, com algumas cidades que conheci no Mar do Norte, com antigas construções ao lado de linhas mais contemporâneas, claramente pré-fabricadas.

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Um aspecto curioso e certamente esclarecedor é assistir aos delegados de San Martín e da Rainha Elizabeth trocarem farpas devido à disputa de certas ilhas no Atlântico Sul. Guardarei pessoais meus comentários a respeito dessa questão, uma vez que poderiam gerar certa polêmica.

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Apesar de nossa atuação multilateral estar longe de apropriada, maculada como está pela demora nas devidas contribuições financeiras, a Reunião vem servindo para conhecer indivíduos mais experientes de outras nações, que possam vir a contribuir para uma atuação mais proveitosa em águas austrais.

21 outubro 2005

Santiago

O deslocamento para a Terra de Van Diemen é empreitada demasiada longa. Tarefa demorada, onde saum testadas as filosofias que advogam que o tempo naum é algo absoluto. Neste porto do Pacífico aos pés da Cordilheira, de onde envio estas linhas, cheguei hoje quando todos já dormiam, me rendi a Morfeu ao invés de minha planejada excursaum pelas bodegas locais, e dormi algumas horas em um rancho local, mui caro para seus pobres servicos.

A viagem até aqui naum teve muito digno de nota. Na mesma nau, a apenas poucos passos de mim, estava o capitaum da mitológica esquadra que derrotou os italianos em terras astecas. Minha escala na Vila de Piratininga foi breve demais, sem ao menos tempo para enviar mensagem, pois fui obrigado a correr entre o povaréu, escoltado por funcionário local, a fim de naum perder a oportunidade de seguir caminho na nau seguinte. Vista do alto, Piratininga se parece cada vez mais com a Coruscant da mitologia contemporânea, com suas luzes se estendendo por todo o horizonte.

Antes de chegar à Van Diemen, no entanto, precisarei de mais uma noite de pouso. Dessa vez, ao menos, terei a oportunidade de ver rostos familiares que há quase uma década naum pouso os olhos. Serei recebido por mui estimada amiga, que conheci durante minhas incursoes por campos daneses, há tanto tempo já que me lembra que tempus fugit.

Como também faz agora o administrador desta central de mensagens.

Hasta luego.

19 outubro 2005

Viagem à Terra de Van Diemen. Dia 0

Graças à mui extensa benesse do Vice-Rei desta Casa Imperial, por meio de ato administrativo de seu mais bondoso colaborador, terei a honra de integrar missão amanuense a terras orientais exóticas e longínquas, tantas léguas a oeste que lá o dia vira noite e a noite vira dia, na desconhecida Terra de Van Diemen, onde nobilíssimos representantes das nações que caçam a longilínea fera dissostichus sp. em águas austrais irão discutir os termos e quantidades da referida caça.

Minha partida ocorrerá nesta quinta ao crepúsculo, dependendo da vontade de Nosso Senhor, na primeira da sucessão de muitas naus que se fazem necessárias para chegar àquelas paragens. A longa duração da empreitada e seus perigos inerentes a tornam material de apreço invulgar a esta estimada publicação, mesmo que tão poucos leitores tenha.

Ainda que as restrições para enviar-lhes notícias do outro lado do mundo sejam muitas, devido à dificuldade de portadores, procurarei trazer detalhes pitorescos e aquarelas vívidas da jornada a qual nosso Vice-Rei viu por bem me enviar.

Não saberia eu dizer quando terei novamente oportunidade de relatar meus garbosos feitos, mas posso adiantar que tomarei nau nesta Capital com destino ao Pacífico, de onde seguirei por rota polar à localidade maori de Tamaki Makau Rau, que o grande Capitão Cook colocou no mapa há muitas gerações. De lá, seguirei em paquete à parte austral da Nova Holanda, meu ponto de partida à Terra de Van Diemen, onde, dizem, vivem demônios e os fantasmas daqueles que outrora partiram em exploração para a Terra Australis Incognita.

Somente lá encontrarei meus companheiros de empreitada, valorosos caçadores da fera demersal e protetores de tudo aquilo que é valoroso, em harmonia com as inexoráveis forças da natureza. Creio, no entanto, que já me alonguei em demasiado nesta introdução, devendo ater-me às diversas e necessárias preparações para a viagem, voltando a relatá-la em nova oportunidade, tão logo quanto possível.

15 outubro 2005

Referendo: mudança de opinião

Li e reli meu post sobre o referendo algumas vezes, cada vez achando o texto pior, cada vez mais contraditório.

Então me dei conta que o que é contraditório é minha declaração de voto. Se o referendo está viciado desde o princípio, uma tentativa de blindar algo que teria pouca sustentação no Congresso; se sua legitimidade é questionável, pois embute uma das possíveis respostas em seu enunciado; se eu creio que é só um factóide populista, uma vez que o porte de armas já é ilegal ... a única atitude coerente que posso ter é anular ou votar em branco.

UPDATE: problema resolvido, minha opinião e sua mudança não valerão nada - a não ser que os chefes do chefe da minha chefe melem (toc, toc, toc), estarei viajando no dia do referendo.

10 outubro 2005

Tudo que você precisa saber sobre o mundo está aqui

A compilação definitiva do que de melhor foi produzido pela filosofia ocidental no século XX.

08 outubro 2005

Sinais da idade

Você sabe que virou adulto quando:

senta em uma mesa de bar com amigos da época da faculdade e 75% dos homens são divorciados.

seus colegas de faculdade hoje dão aula na faculdade - e os alunos deles são seus estagiários.

06 outubro 2005

Referendo 2005: uma crítica

Vou votar no sim no dia 23, mas sem muito entusiasmo. Vou votar sim por duas razões simples, a primeira delas foi magistralmente colocada por O Barnabé. Tenho meus acessos de Mr. Hyde atrás do volante (lembram do desenho do Pateta motorista?) e detestaria encontrar um outro Mr. Hyde armado - como creio que o número de vidas salvas de mortes causadas por motivos fúteis como brigas no trânsito e maridos traídos seria maior do que o número de vidas salvas em situações de auto-defesa, voto sim.

Tirando a Maitê Proença pedindo para votar no sim, o melhor argumento da campanha do desarmamento é que as armas usadas em crimes foram, um dia, legais e depois chegaram às mãos da "bandidagem". Essa é minha segunda razão para votar no sim.

No entanto, quero deixar registrado, concordo com o slogan "Desarmar o cidadão não é a solução". A Campanha do Desarmamento está sendo vendida como uma medida contra a violência e a criminalidade, o que é, no mínimo, questionável. Por isso vou desanimado para a urna no dia 23, na verdade só porque sou obrigado a ir.

Minha principal crítica é contra o referendo em si, não contra determinada posição em relação à questão.

Já fui vaiado pelo que estou prestes a dizer. O referendo é anti-democrático, por mais contraditório que isso possa soar. Não o fato de haver um referendo, mas a forma como ele foi elaborado.

Democracia não é ditadura da maioria, é dar acesso a todos ao processo de tomada de decisões, independente de eventuais filiações ideológicas, religiosas, partidárias, etc. Significa dizer que minorias, ainda que não façam prevalecer seus pontos de vista, participam das decisões e, assim, são protegidas de eventuais abusos da maioria. Um processo democrático deve, portanto, ser elaborado de forma a não pender para quaisquer lados de determinada questão.

Considero que o referendo tem um vício de origem. Autoridades se referem a ele como "Referendo do Desarmamento". A pergunta que responderemos no dia 23 já contém uma resposta em seu enunciado, é um processo tão ilegítimo quanto o "Plebiscito contra a ALCA".

Outro ponto. A Justiça Eleitoral estabelece, nas eleições majoritárias, prazos para iniciar a campanha, correto? Há meses a Rede Globo faz propaganda em favor do desarmamento. Não estou me referindo às matérias no JN, mas às diversas vinhetas e afins, para não falar no clima de "Criança Esperança" que tem o horário gratuito do SIM com todo o elenco da Globo. Não quero iniciar aqui uma discussão sobre liberdade de imprensa. Note bem, defendo a liberdade de imprensa como valor absoluto e fundamento necessário para qualquer democracia digna desse nome, sem os adjetivos relativistas tanto ao gosto do General Geisel e de alguns integrantes do atual governo. Apavorantes as ações de ambas as frentes do referendo, tentando recolher a Revista Trip, a Veja e tirar do ar a novela Bang Bang. No entanto, não está claro para mim se a participação da Globo na campanha do desarmamento é fruto de uma linha editorial bem definida ou participação indevida no horário eleitoral gratuito.

(Parênteses: chega a dar pena a desproporcionalidade entre as campanhas do SIM e do NÃO. Além da falta de recursos e de estrelas globais, o NÃO é de um amadorismo de dar dó. Até recentemente, sequer vinculavam o NÃO ao número 1, a escolha na urna eletrônica. Diziam "contra a proibição, vote não", agora dizem "contra a proibição, vote 1, vote não")

"Mas é por uma boa causa", já me disseram quando expus os pontos acima. É exatamente nesse raciocínio que eu vejo o perigo. Por supostamente ser "uma boa causa", poucos se importam que o processo seja viciado. Para que ter o referendo, então? Se foi definido a priori que é uma boa causa, a decisão poderia vir logo de cima para baixo e nós não teríamos que sair de nossos pijamas para votar no dia 23. Entende onde quero chegar? Em nome de uma causa politicamente correta, não se importam de distorcer um pouco o processo democrático. Esse é o perigo maior do Referendo 2005, o precedente. Que outras causas justificarão esse tipo de distorção processual no futuro? Toda ditadura se considera uma "boa causa", uma "boa causa" imposta por manipulação ainda é autoritarismo.

05 outubro 2005

Camarão na repartição

Tá certo que minha divisão cuida (também) de temas marítimos, mas isso já é demais: acaba de entrar um tiozinho aqui na repartição vendendo camarão.

03 outubro 2005

Inferências


Vc só "faz as coisas sem perguntar por que e pra quê" em países onde há
"excesso de democracia".

Como a nossa política é "mesquinha", "azélite" não deixam o Presidente fazer
o que quer, ficam exigindo satisfações, não deixam o homem trabalhar em
paz....aí ele não pode nos salvar e não entraremos no Reino do Senhor neste
mandato.

Por isso precisamos de mais um mandato, para que o PT faça acontecer, sem
perguntar por que e pra quê.

Entendeu?