21 setembro 2005

Ai, que saudades da Dinamarca....

....é lá que vou me aposentar...

Caregivers in Copenhagen have found that pornography and prostitutes have a greater calming effect on their elderly patients than traditional medical treatment such as drug therapy.
Staff at the Thorupgaarden nursing home in the Danish capital have been broadcasting pornography on the building's internal videochannel every Saturday night for several years. And if videos and dirty magazines don't relieve the tension, residents can ask the staff to order a prostitute for them.
The caregivers have told Danish media that pornography is healthier, cheaper and easier to use than medicine, Lars Elmsted Petersen, a spokesman for the Danish seniors' lobby group Aeldresagen, said.
Earlier this year, the Danish government released a report stating that sexuality is an integral part of life for the elderly and the disabled. It recommended that caregivers help elderly residents satisfy their sexual needs.


Do Marginal Revolution, agradecimentos ao Chiarelli
Leia também o "Jyllands Posten"

Ps: não posso deixar de concordar com o Marginal Revolution, o grande problema nisso é a intervenção do governo em um mercado livre. Com o Estado se metendo na metida dos outros, acabam sendo geradas falhas de mercado que podem contribuir para uma restrição da oferta... Se assistentes sociais continuarem dando uma mãozinha para que os assistidos não fiquem só na mãozinha, isso gera um desvio de comércio e elevação artificial dos preços. Foda... Pior ainda seria se inventassem de fazer licitação baseada em preço, a qualidade do serviço cairia catastroficamente. Nesse mercado, só notório saber!

16 setembro 2005

Deu no New York Times - Enquete da Semana

Segundo O Globo:

Ao fazer um balanço dos dois dias de viagem do presidente Lula a Nova York, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, recorreu ontem a uma frase de efeito:
— Como dizia Tom Jobim, fazer sucesso no exterior incomoda. Quando é um torneiro mecânico, com um dedo cortado, incomoda mais ainda — disse.
Amorim afirmou que o Brasil nunca teve um líder político com dimensão mundial antes de Lula e a atuação do presidente na Cúpula da ONU só confirmou sua importância internacional.
— O Brasil nunca teve um líder mundial, já teve intelectuais de destaque, mas mundial nunca — disse.
E deu dois exemplos: a reverência dos presidentes a Lula quando o tema era combate à fome e o fato de o “New York Times” só ter citado o nome de quatro ou cinco participantes da reunião do Conselho de Segurança, entre eles Lula.


Segundo a Folha:

"Como diria Tom Jobim, fazer sucesso, ainda mais no exterior, incomoda. E quando é um torneio mecânico sem um dedo, incomoda muito mais", disse o ministro, quando fazia um balanço da participação de Lula na Assembléia Geral das Nações Unidas, a maior reunião na história dos 60 anos da entidade, com a presença de cerca de 170 líderes.
Para provar seu ponto, Amorim citou o fato de o "New York Times" ter citado Lula em seu texto sobre George W. Bush, quando havia mais de dez líderes e o jornal mencionou apenas quatro -Lula, Vladimir Putin (Rússia), Hu Jintao (China) e Gloria Macapagal Arroyo (Filipinas). A menção, no 20º parágrafo de um texto de 23, foi sobre os presidentes ao redor do norte-americano.


Agora o trecho original do NYT:

The Security Council also passed a resolution calling on countries to ban incitement to terrorism and prevent subversion of educational, cultural and religious institutions by terrorists and their supporters. The measure was offered by Prime Minister Tony Blair of Britain in a move paralleling his government's response to bombings in London in July.
The seats around the horseshoe panel were filled by the leaders attending the United Nations summit meeting, and among those raising hands in approval were Presidents Bush, Vladimir V. Putin of Russia, Hu Jintao of China, Luiz Inácio Lula da Silva of Brazil, and Gloria Macapagal Arroyo of the Philippine
s.

Notem que a menção no NYT não era exatamente sobre a suposta "liderança mundial" de Lula na ONU, tampouco dizia que Lula estava sentado ao lado de Bush. Mencionava somente alguns dos presidentes presentes que concordaram com uma resolução britânica sobre terrorismo. Vale recordar, para não saírem dizendo por aí que a presença de Lula no CS é exemplo de liderança, que o Brasil ocupa hoje uma vaga não-permanente no CS, como faz freqüentemente desde a criação da ONU - vira e mexe tem um representante brasileiro lá.

Supondo que o Ministro Celso Amorim não tenha sido mal interpretado pela imprensa e que realmente tenha citado a menção ao Presidente Lula no NYT como base para o argumento que Lula é um “líder mundial” como "nunca" teve o Brasil - quem foi mais mal-intencionado??

a) Amorim, por ter usado um trecho do NYT que dizia que Lula concorda com Blair como exemplo da "liderança mundial" do ex-operário de nove dedos;

b) O Globo, que fez a vez de Radiobrás e reproduziu Amorim na lata, sem qualificações;

c) A Folha, por ter identificado a irrelevância da menção no NYT, mas distorceu seu conteúdo e a jogou no ventilador.

12 setembro 2005

Maestro estadista o escambau

Agora que apontaram para a nudez do rei petista, órfãos procuram uma alternativa mais vestida. Os trechos a seguir estão na mesma coluna do Luís Nassif do último domingo, 11/09/2005, na Folha, Aguardando o maestro (acesso restrito a assinantes UOL ou da FSP):

O desenvolvimentismo morreu, o neoliberalismo morreu. O que vem por aí? Esse é o enigma a ser decifrado pelos pensadores, para a próxima etapa do desenvolvimento brasileiro, que virá após as próximas eleições.
[...]
Será difícil nesse país sebastianista substituir o pensamento monofásico dominante por formas mais complexas de sonhar o futuro.
[...]
O novo desenvolvimentismo não poderá mais ser erigido em cima de clichês, como fizeram os dinossauros dos anos 80 e os cabeças de planilha dos anos 90. Há um país diversificado, com muitos cérebros pensando de forma desarticulada. Mas pronto a tocar qualquer partitura, quando entrar em cena um maestro estadista. (grifos meus)

Nassif sugere que os diversificados cérebros hoje dispersos em diferentes correntes ideológicas, monetaristas e desenvolvimentistas, sejam articulados pelo tal maestro. Ou seja, ele cai no erro que ele mesmo aponta como limitação ao país, o sebastianismo, ao sugerir a vinda de um novo messias, o "maestro estadista", já que o messias-operário da ocasião é uma farsa.

Essa coluna poderia ter sido escrita por um daqueles candangos-pioneiros com o adesivo no carro, "JK: procura-se outro".

"Maestro estadista" o escambau, que aguardem por ele sentados.

07 setembro 2005

Katrina

A coisa mais sensata que li sobre o Nova Orleans e o Katrina foi por acaso, clicando de blog em blog até chegar ao site de um Senador norte-americano, democrata, Barack Obama:

Os desabrigados de Nova Orleans não foram abandonados ao Katrina. Eles foram abandonados muito tempo antes, simplesmente não foram levados em consideração pelas autoridades encarregadas de situações como essa. ...whoever was in charge of planning and preparing for the worst case scenario appeared to assume that every American has the capacity to load up their family in an SUV, fill it up with $100 worth of gasoline, stick some bottled water in the trunk, and use a credit card to check in to a hotel on safe ground. I see no evidence of active malice [refere-se à acusação de racismo na demora das autoridades], but I see a continuation of passive indifference on the part of our government towards the least of these.

ps: Sim, eu comemorei o resgate de Oliver

ps 2: O Barnabé voltou, metendo o pau em "comunas" que comemoram tragédias americanas. Lembram-me colegas na UnB, até professores, mal escondendo o sorriso ao dizer que o 11 de setembro foi merecido...triste, triste.

04 setembro 2005

Do valor de mitos e erros

Quando estávamos no colégio, Tia Lenilda tinha uma explicação bastante simples para grandes viagens e explorações: era tudo parte do sistema capitalista, seja em sua fase mercantilista ou imperialista. Exploradores eram agentes de uma lógica de acumulação e exploração, buscando especiarias, minérios, matéria-prima ou mercados para a Europa.

Apesar de aceitar por um bom tempo a lógica pseudo-marxista que prevaleceu na maioria dos colégios que freqüentei na adolescência, algo nela sempre me incomodou, faltava algo. Talvez por ingênua fé na humanidade, eu nunca consegui ver indivíduos arriscando seus pescoços para colocar pimenta na mesa dos outros. Talvez de alguma forma latente percebesse já que o raciocínio quadradinho exposto acima é uma racionalização a posteriori baseada em premissas ideológicas bastante restritas que viriam a ser criadas somente no fim do século XIX e no início do XX e que, portanto, não podia explicar adequadamente a motivação daqueles indivíduos que arriscavam a vida em mares nunca dantes navegados séculos antes.

Claro que não sou idiota a ponto de negar a importância da lógica capitalista nas grandes viagens e explorações. Há vastos registros disso nos relatos das viagens de descobrimento. Em diários de exploradores antárticos há constante preocupação em identificar reservas minerais. Até em um livro de Amyr Klink você encontrará a preocupação em desenvolver novos produtos. Para o restrito fim deste post, basta apontar aqui para a insuficiência do raciocínio expresso acima como explicação totalizante e monocausal.

Tampouco quero aqui propor alguma tese mais abrangente para explicar viagens, exploradores e descobrimentos. O restrito fim desse post é apenas apontar para dois importantes - e muitas vezes ignorados - fatores que podem compor a explicação para algumas das grandes viagens da humanidade: o mito e o erro.

O primeiro é mais evidente. Logo vem à mente a lenda de Eldorado, uma cidade feita de ouro em algum lugar do Novo Mundo, impulsionando ibéricos mata adentro. É importante recordar que a idéia de uma cidade de ouro não era lá tão estapafúrdia se lembrarmos que os espanhóis encontraram uma montanha inteira de prata, Potosí.

Synésio Sampaio Goes Filho, em seu ensaio sobre a formação territorial brasileira, aponta para o mito da Ilha Brasil: além de escravizar índios e procurar pedras preciosas, muitos bandeirantes procuravam confirmação de relatos de um enorme lago no centro do que hoje é o Brasil, que seria a interligação das bacias hidrográficas do sul e sudeste com o imenso Amazonas, uma rota mais rápida entre o sul e o norte da colônia. Apenas a título de especulação: seria a lenda derivada de uma descrição do Pantanal?

Outro exemplo parecido, era a hipótese de um grande lago no outback australiano, baseada no fato de alguns rios correrem para o interior. Muita gente morreu de sede tentando achar esse lago, os mais célebres Burke & Wills, mas foi graças a essas pessoas que o interior da Autrália foi desbravado.

E que tal a idéia de que a Antártica seria um continente de clima aprazível e densamente povoado, cujo comércio poderia vir a superar as trocas com as colônias inglesas na América? Pessoas consideradas bastante cultas falavam seriamente sobre isso na Inglaterra do século XVII, segundo nos conta Alan Gurney. Parte dos objetivos expressos nas ordens de viagem do célebre Capitão Cook era descobrir o tal continente, ou refutar sua existência (Cook chegou próximo aos 70° sul, avistou muitos icebergs, mas não viu terra. Morrendo de frio, deu meia volta, abandonando a idéia de um continente ao sul)

O mito, quando refutado, pode ser interpretado como um erro. Mas e quando o erro já faz parte do planejamento da viagem desde o início? Colombo realmente acreditava ter chegado às Índias, não por descartar a possibilidade de um novo continente, mas por um erro de cálculo. A região do Caribe fica a uma distância da Europa aproximadamente igual àquela que Colombo julgava ter o pedaço desconhecido do globo, baseado em um cálculo errado da circumferência total. Colombo estava certo ao dizer que a Terra é redonda, mas estava errado na estimativa de tamanho. Achou algo que não conseguiu identificar o que era - por isso sou da opinião de que não é injustiça que o continente não se chame Colômbia.

Se tivesse feito os cálculos corretamente, teria que levar em consideração a distância do então desconhecido e muito maior Oceano Pacífico. De certa forma, ele deu sorte de haver um continente entre ele e as Índias - Santa Maria, Pinta e Niña não estavam prontas para a viagem completa. Teria ele conseguido apoio da coroa espanhola se tivesse feito os cálculos corretos?

Mesmo Magalhães, que terminou o trabalho que Colombo começou cometeu um erro grave, no qual estava baseada toda sua empreitada. Segundo Stephan Sweig, Magalhães tinha posse de mapas (roubados dos portugueses, se me lembro bem) que indicavam o Estuário do Prata como a saída para o oceano que ele viria a chamar de Pacífico. Apesar dessa referência não estar presente em Laurence Bergreen, ela faz bastante sentido: a viagem de magalhães foi quase direta até o Prata, onde eles avançaram bastante rio acima, até se darem conta de que não era uma passagem; a partir daí, a viagem foi um enorme pinga-pinga pela costa da Patagônia, até entrarem no Estreito de Magalhães.

Esses exemplos me vêm à mente quando encontro explicações muito lógicas e racionais para determinados eventos. Pergunto-me se é explicação mesmo ou apenas uma forma de organização mental para tornar mais palatável o que não conhecemos - isto não é conhecimento, é fé. Como um grande professor meu da faculdade fazia questão de lembrar: conhecimento não é produzido ao confirmar hipóteses, apenas ao refutá-las. Você não está mais sábio ao provar algo como certo, o máximo que se pode alcançar é estar menos ignorante ao provar algo como errado.