31 agosto 2005

Putting things in perspective

Eu aqui fulo da vida porque estudei por dois anos com a perspectiva de fazer
um estágio no exterior e aos 46 do segundo tempo meus chefes mudaram de
idéia. Aí conheço hoje o Tenente-Coronel Marcos Pontes, o astronauta
brasileiro
.

O homem passou por 7 anos de treinamento e desde 2001 está esperando sua vez
de ir para o espaço, devidamente qualificado, mas esperando pacientemente
sua vez, diante de atrasos e retrocessos completamente alheios a sua
vontade. Se tudo der certo, em 2006 vai.

Sou um bosta mesmo.

22 agosto 2005

Aniversário

E como dizia a velha bisa: De hoje a um ano!

20 agosto 2005

Uma coisa que eu gosto

Adoro aeroportos, áreas de embarque e desembarque em geral. Renovam minha fé na humanidade.

16 agosto 2005

Protesto na esplanada

Aqui da janela da repartição da para ver o protesto da CUT e da UNE "contra a corrupção e a favor do Presidente Lula". Eu achava que o "tratoraço" do fim de junho, quando ruralistas viraram MST, tinha atingido o ápice de surrealidade, mas as bandeiras vermelhas lá fora ultrapassaram essa marca.

Realmente estamos presenciando um momento histórico, a UNE fazendo um protesto chapa-branca !! É o movimento estudantil admitindo toda sua mediocridade, contente em ser massa de manobra do PT, reduzido a ser claque do partido.

Os patetas estão gritando palavras de ordem "contra o imperialismo norte-americano" – beleza então, Delúbio é um agente infiltrado da CIA, está tudo explicado. Dirceu também nunca me enganou com aquele papo que é amigo do Fidel. Estão cantando "olêolê, olêolá, a direita quer voltar. É golpe! É golpe! Por isso eu vou lutar...". Duvido que os patetas queiram dizer que lutarão por um golpe da direita, mas enfim....alguém tem que lembrar esses idiotas que Sarney, PP e PL são a direita brasileira (se é que o conceito se aplica a alguém). Eles nunca saíram, estão do ladinho de Lula desde o início. Não podem, portanto, "voltar", porque nunca foram.

Tenho particular orgulho de ter passado meus anos de faculdade pagando meia no cinema sem nunca ter dado um tostão a esses imbecis.

13 agosto 2005

País de cornos

Não sou fã em particular de Caco Galhardo, cartunista da Folha e do UOL (Os Pescoçudos), mas trombei com essa coluna aqui e adorei. Como o link é só para assinantes, transcrevo um pedaço:

Ah, fui traído. É óbvio que fui traído. Não confio nem na minha mulher, como posso confiar no Zé Dirceu, que eu nem conheço? Levei um parzão de chifres na testa. E o Lula então, que daria cheque em branco pro Jefferson? Dá-lhe chifre. Estamos acostumados, o Brasil é hoje uma nação de cornos, de todos os tipos.

1. Corno indignado: jornalistas, taxistas, crédulos em geral
2. Corno manso: todo o eleitorado
3. Corno cego que não quer ver: a turminha do coro do 'golpe das elites'
4. Corno consentido: tuminha do coro 'estão fazendo tempestade em copo d'água'

O Fome Zero tem que incluir um chapéu do Clube dos Búfalos na cesta básica do brasileiro. É a única medida honesta que o Lula deve tomar para debelar a crise. Todo brasileiro tem direito a saúde, transporte, educação e um chapéu do Clube dos Búfalos!


Aproveitando o gancho, eu queria dar outra potocada ligada a protuberâncias ósseas. O chifre que o PT passa no país hoje nada mais é que experimentação ativa de algo que o PT sempre foi passivo, para usar um conceito freudiano de botequim. Explico: o PT sempre se comportou como corno, "Corno a priori", aquele ameaçado pelo ex da companheira, pelo qual ela de vez em quando ainda se pega, nostálgica, se perguntando o que poderia ter sido... Sério, não há outro jeito para entender a obsessão do PT pelo FHC.

Quase três anos de governo Lula e a referência maior do PT ainda é ser anti-FHC. Ficaram tando tempo sendo contra tudo que está aí que ainda se comportam como oposição no palanque. Parece coisa de marido inseguro, com medo do ex-namorado da mulher, sempre incomodado em ser mais e melhor que o anterior - não porque queira bem à companheira, mas porque se sente falicamente ameaçado pelo passado dela com o ex. Nunca na história desse país... O melhor resultado na última década... O melhor governo da história...Agora podemos crescer de forma sustentada........Toda vez que o Lula vem com essa ladainha megalomaníaca, eu ouço: Bem-nhê...eu trepo melhor que seu ex?

12 agosto 2005

Lula pede desculpas

Ouvi por aí que Lula pediu desculpas......pelo cancelamento do estágio?



Atualização em 13/08/05: Não vote no PT. A repartição precisa voltar à normalidade...

09 agosto 2005

Fábula: Golpe na Mauritânia

O ditador da Mauritânia é um ser enigmático que, segundo as lendas daquele país, tem vida eterna, nunca pega sol e retirou as pálpebras cirurgicamente para nunca mais dormir.

Pouco depois de subir ao poder, o ditador da Mauritânia prometeu dar a todas as crianças do país uma viagem para o exterior, desde que completassem sua educação primária - o que veio a acontecer recentemente. Hoje, enquanto o ditador da Mauritânia estava em viagem ao Uruguai, sua guarda pessoal se aliou às forças malignas espalhadas pelo território e deu um golpe, suspendeu a prometida viagem das criancinhas e agora as oferecerá em sacrifício aos chefes tribais mais sedentos de sangue.

Alguns dizem que não houve golpe: a ordem, na verdade, partiu do próprio ditador. Outros que foi de seu irmão gêmeo malévolo. Saberemos um dia?

07 agosto 2005

Se tudo é válido, nada é válido

Enquete da semana:

Toda vida no Universo é conseqüência direta:

a) Da ação benévola de elefantes roxos que flutuam e rinocerontes verdes subterrâneos;

b) Do poder do Apêndice Talharônico do Monstro do Espaguete Voador;

c) De alguns milhões de anos de acasos, que um careca barbudo um dia chamou de Evolução;

d) Da ação de um ser superior, que organizou esses acasos em um Design Inteligente;

(inspirado por um post da Malla)

06 agosto 2005

Meu velho e o uso apropriado do chulo

Pouco mais de uma semana atrás, meu velho sofreu um seqüestro relâmpago. Por sorte, nada grave ocorreu. Os assaltantes não criaram tensão e meu velho manteve a cabeça fria. Em uma demonstração de que tinham total controle (ou eram muito burros, sei lá)até deixaram o velho ligar para minha mãe...

Em homenagem ao velho, republico (ou reposteio?) uma historinha de meu falecido outro blog, para lembrar o quanto gosto dele.

Meu velho e o uso apropriado do chulo

Há uma história sobre meu velho que, creio eu, todos meus amigos já conhecem. Eu a conto à exaustão. Serve, de certa forma, como cartão de visita - uma historinha que conta um pouco de onde vim e que demonstra ao interlocutor que, a partir de então, formalidades podem ser abandonadas.

Nem sei mais se é uma história verdadeira. O causo realmente ocorreu, mas acho que minha lembrança vai-lhe acrescentando detalhes sutilmente a cada vez que o conto. Não importa. Resolvi finalmente por no papel, apesar da certeza que tenho de que meu velho não vai gostar muito. Divirtam-se.

Sendo filho de doqueiro e - por algum tempo na juventude - doqueiro também, meu velho nunca foi de dar atenção a requintes de linguagem. Deixem-me elaborar isso melhor. As docas eram um ambiente predominantemente masculino, machista, e, como tal, nada refinado. Sendo a cidade dependente do porto, naturalmente, os códigos de conduta e de comunicação do cais passaram a permear todo o tecido social, especialmente em situações informais. Um exemplo: meu avô não chamava por meu velho por nome ou algum apelido carinhoso, ele assobiava - meu avô tinha um assobio com tom, duas notas e duração específicos para chamar por seu filho.

Mas a manifestação mais clara desse traço portuário no dialeto local é a abundância de palavrões na comunicação, mesmo quando se quer bem ao interlocutor. Doqueiros são homens sem muita frescura; porras, caralhos e cus são como vírgulas para eles. Ao terminar a faculdade e subir a serra para trabalhar em escritórios, meu velho conseguiu dominar essa predisposição ao chulo, mas sempre abusou dos palavrões para se expressar em casa.

Isso me trouxe alguns problemas durante a infância: minha professora do primário não compartilhava da opinião de que palavrões são uma forma natural e espontânea de expressão. Era complicadíssimo: se meu velho podia tratar seu melhor amigo por "seu puto", por que eu não podia dispensar o mesmo tratamento a meus coleguinhas de sala?

Com o tempo aprendi que não é em todo lugar que se pode falar palavrão. Confesso, no entanto, que meu velho até hoje tem uma habilidade maior do que a minha para distinguir quando se pode ou não usar o chulo.

Mas não naquela noite. Naquela noite, meu velho perdeu um bom bocado de sua autoridade perante os filhos. Foi na hora da janta, hora sagrada em que meu velho fazia questão da presença de todos da casa. Hora do fórum familiar, de contar como foi seu dia, hora das grandes lições de vida que pais dão a seus filhos, mesmo que eles só as ouçam como um necessário prelúdio à sobremesa. Hora em que não se podia falar palavrão.

Era também na mesa do jantar que ocorriam as reprimendas verbais pelos desvios de conduta dos filhos. O mano e eu fomos criados com um grau de liberdade elevado, mas havia um limite: a paciência da mãe. Meu velho podia representar melhor o papel de provedor da casa, mas todos sabiam, inclusive ele, que sempre foi a mãe a condutora daquele pequeno universo familiar. A mãe era superior a todos nós, todos lhe devíamos respeito e cultuávamos sua autoridade - ainda que sob a aparência de fragilidade. Poucas coisas irritavam mais meu velho do que quando desrespeitávamos a mãe.

Naquela noite o jantar foi silencioso, durante a tarde o mano havia cometido alguma desfeita, tinha sido malcriado com a mãe. Nem lembro mais o que foi, mas foi grave. Ao saber do ocorrido meu velho teve um surto de raiva. Poucas vezes vi alguém dar um esporro tão desconcertante. A veia dele saltava, os óculos escorregavam pelo nariz, o velho parecia crescer na cabeceira da mesa e sua voz ecoava pelos azulejos da cozinha. Em proporção inversa, o mano diminuía, sentado em cima das próprias mãos, seu pescoço desaparecia entre os ombros e a cabeça baixa parecia procurar algo entre os feijões, que esfriavam.

Tive pena do mano, mas não tive coragem de intervir. Até a mãe ficou constrangida, achou que não era para tanto, e segurou o ímpeto do velho.

Diante da clemência da mãe, meu velho pareceu desinflar e voltar ao tamanho normal. Mas ele precisava fechar o esporro com algo que fizesse com que ninguém jamais desrespeitasse o culto à mãe novamente. Tinha que ser ameaçador, tinha que ficar impregnado no inconsciente para toda a vida. O velho voltou a crescer, pareceu ficar ainda maior do que ficara antes. O punho cerrado, firme, apontava o indicador ameaçadoramente, a poucos centímetros do nariz do mano - que não sabia se olhava para o dedo ou para a cara do velho. Houve um constrangedor instante de silêncio, até que meu velho falou. Gritou, na verdade; a voz parecia não sair dele, parecia vir de um buraco profundo, de um lugar que guarda todos os medos da infância.

"- Você.....você....você nunca mais fale assim com sua mãe, seu FILHO DA PUTA!"

05 agosto 2005

Aconteceu na repartição

Eu não presenciei, mas aconteceu aqui na repartição.

Anastácia de Montreal

Uma senhora chegou ao balcão pedindo auxílio para entrar em contato com as autoridades de Montreal, porque é a princesa herdeira e devia se apresentar para assumir. Sua mãe abdicou do trono, veio para o Brasil quando a filha tinha três anos e apagou todos os registros de seu passado. A senhora precisava, segundo ela, descobrir seu verdadeiro nome e entrar em contato com as autoridades de Montreal para reivindicar seus direitos sucessórios.

A funcionária que a atendeu tentou ser profissional:

"...a competência desta divisão é auxiliar cidadãos brasileiros que vivem no exterior e fazer alguns serviços notariais....membros de famílias reais estrangeiras no Brasil não são de nossa alçada...E também não posso ajudar porque não sei que país é Montreal."

A senhora diz:

"Como não? Você conhece Hollywood? Hollywood fica em Montreal!"

A solução foi barnabeística: "Bom, como a senhora é estrangeira vivendo no Brasil, por favor dirija-se ao guichê da Divisão de Imigração."

(com colaboração do Cid)

Chichester e o Gipsy Moth


Um senhor de 65 anos, míope de fazer dó, vegetariano, recém recuperado de um
câncer no pulmão, resolve dar a volta ao mundo em solitário e bater o
recorde de velocidade nesse tipo de travessia. Premissa perfeita para um
livro de auto-ajuda sobre superação individual, material para anos de
palestras motivacionais, não é mesmo?

Felizmente, Sir Francis Chichester não vai por aí. Gipsy Moth Circles the
World
é quase um livro técnico, com trechos um tanto herméticos;
provavelmente não empolgaria muita gente sem algum interesse específico em
náutica. Ainda assim, tem uma irresistível aura de pioneirismo: Chichester
não bateu o recorde de velocidade devido a grandes inovações (com exceção
talvez do leme de vento, tecnologia não disponível a seus antecessores
solitários), mas em grande parte porque foi o primeiro a viajar com esse
objetivo em mente, seus predecessores queriam apenas viajar, não viajar mais
rápido. E que melhor razão do que simplesmente querer?

De Plymouth a Plymouth, com uma parada em Sidney, via Cabo da Boa Esperança
e Cabo Horn. Viajando sozinho, mas apostando corrida com um passado
romântico, do qual ele era um estudioso: a era dos Clippers, gigantescos e
extremamente rápidos veleiros que faziam rotas comerciais regulares no
século XIX a serviço do Império Britânico, transportando chá, lã, algodão,
etc. (Todo pinguço sabe do que estou falando, já viu um clipper no rótulo do
Cutty Sark, whisky batizado em homenagem ao mais famoso desses barcos.)

Chichester estimava em 123 dias a duração média da travessia Plymouth-Sidney pelos clippers e 100 dias para os melhores barcos - corria contra esse tempo. Não haveria como o Gipsy Moth bater a velocidade média dos clippers,
mas para compensar podia navegar muito mais próximo do vento. Chegou em 107
dias, por pouco, em grande parte devido a uma quase capotagem que danificou
o leme de vento. Chichester improvisou uma forma de manter o curso em
relação ao vento amarrando o leme a uma vela de estai. Feitos os reparos em
Sidney, o Gipsy Moth dobrou o Cabo Horn e voltou a Plymouth em 119 dias, 274
dias de travessia no total, incluindo o período em terra, entre 1966 e 1967.

A verdade é que, apesar de ter sido planejado nos mínimos detalhes para essa
viagem, o Gipsy Moth estava mais para cavalo chucro do que para veleiro.
Chichester passa boa parte do livro xingando os designers do barco por
terem distorcido suas instruções até tornar o projeto irreconhecível - a
ponto de eles terem tentado impedir a realização da segunda metade da viagem
com receio das implicações legais de um eventual acidente mais grave. É em
momentos como esse que o livro é mais interessante; apesar de dialogar com a
romântica era dos clippers, Chichester não romantiza sua própria viagem, não
cria um vínculo afetivo com seu barco, não se sente integrado à natureza,
apenas quer terminar sua volta ao mundo. Há um trecho que exemplifica bem
isso quando, próximo da América do Sul, ele envia um despacho telegráfico
mandando uma jornalista às favas, ordenando que pare de tentar romantizar
sua viagem. Autenticidade é pouco.

A viagem de Chichester é um marco. Por um lado, faz referência ao passado, à
era de ouro da dominância britânica dos mares e ao tempo em que a vela ainda
não havia sido substituída pelo vapor. Rule Britannia, Britannia rules the
waves!
. Não por acaso, Chichester foi condecorado Sir, com a mesma espada de
condecorou Drake. Não por acaso, o Gipsy Moth hoje divide o cais com o Cutty
Sark
, aberto à visitação.

Por outro lado, inspirou a realização de uma das primeiras regatas de volta
ao mundo, a Whitbread, hoje Volvo Ocean Race - da qual participará este ano
pela primeira vez um barco brasileiro, o Brasil 1, timoteado por Torben
Grael). Uma viagem nostálgica, mas que serve de referência para a moderna
vela de competição. Um elogio ao passado e o início de uma nova era.