29 março 2007

Malvinas

A questão das Malvinas é talvez a maior ferida aberta dos argentinos, por mais que seja quase um consenso que foi uma loucura a ocupação das ilhas pelo regime militar, cujos 25 anos serão recordados por todo país nesta segunda-feira, poucas coisas englobam mais a mentalidade argentina quanto a idéia de que "las Malvinas son argentinas".

De fato, a questão das Malvinas está tão ligada ao ethos argentino que é quase uma unanimidade, é uma das coisas que define o que é ser argentino. É provavelmente mais fácil encontrar um (iluminado) argentino que ache que Pelé é melhor do que Maradona do que localizar um argentino que se refira àquelas pedras no Atlântico Sul como Falklands.

Quanto a isso, recomendo o ótimo Las Guerras por Malvinas, de Federico Lorenz. O ponto deste post é outro, talvez eu volte ao tema Malvinas um dia.

O ponto é que dia 2 de abril é feriado aqui, inamovible (os feriados mais importantes aqui são inamovibles, os demais são puxados para a segunda-feira mais próxima - ótima prática). Este 2 de abril cai em uma segunda. Como bons católicos que são, quinta e sexta da semana que vem também são feriados devido à Páscoa. Somados a apenas dois míseros dias de férias dos 80 aos quais atualmente tenho direito (acreditem), terei uma folga de 8 dias que aproveitarei enchendo a cara de vinho em Mendoza.

Valeu, Galtieri.

E boa sorte aos brasileiros que pretendem viajar na Páscoa...

22 março 2007

Questão de prioridades

Uma dúvida existencial para a qual peço ajuda dos dois ou três leitores deste blog.

Terei férias, se nada impedir, de 18 de agosto a 7 de setembro deste ano, para as quais pretendo usar minhas 40 mil milhas garimpadas por muitos anos no cartão de crédito. Tenho a opção de usar metade delas para viajar na Argentina ou 25 mil em algum dos "países limítrofes", inclusive Brasil, ou torrar todas as 40 mil de uma vez indo para qualquer ponto operado pela American Airlines, inclusive Alasca e Havaí.

Tinha pensado em fazer uma "diving trip" este ano....México?

Veleiro charter no Caribe? Hotel-putaria na Jamaica?

Road-trip pela Califórnia?

Dizem que NYC é legal em agosto (já é baixa temporada quando vou)....

Ou seria o caso de fazer algo mais "étnico" pela América do Sul....?

Ajudem, por favor. Desta vez não faço a menor idéia para onde ir.

PS: Lúcia, você deve ter dicas interessantes....

PS2: Manhê, não adianta sugerir que eu visite a família durante meu aniversário...

09 março 2007

Podem preparar o recheio da empanada que eu tô voltando

Passou muito rápido, no sábado em parto do Cerrado de volta ao Prata. Engraçada essa vida nômade, depois de um mês e meio em BSB eu já me sentia re integrado, quase como se nunca tivesse partido.

E isso - como nômades se adaptam fácil a suas novas paragens - na verdade me pareceu um tanto assustador. Acordei suando frio algumas noites, pensando que BsAs havia sido um sonho, que na verdade quem esteve lá em BsAs esse tempo todo, na minha casa, vivendo a vida que eu pensava ser minha, era outro colega, o Ciço (que, na verdade verdadeira, foi passar uma temporada em BsAs, ficou hospedado na minha casa e me deixou com o carro dele aqui). Mas o Ciço voltou, eu devolvi o carro para ele e domingo em embarco com o Gordo de volta.

Mas antes de ir eu gostaria de me despedir com uma noite bacana de cerveja e balada nesta sexta, dia 9. Como o bom filho a casa entorna, a cerveja não poderia ser consumida em outro lugar que não o Bar Brasília.

É, eu sei, eu sou meio repetitivo e previsível nesse aspecto, conservador e purista. Mas é o único lugar que eu ainda posso chamar de casa em Brasília.

Para evitar o coro de reclamações pela demora em conseguir mesa, consegui com o gerente, em caráter excepcional, uma reserva até as 19h00, uma mesa cujos domínios poderão ser expandidos ao longo da noite. Então, a partir desse horário eu estarei lá, tomando chopp, e adoraria ter a companhia dos amigos.

Posteriormente, as hordas sobreviventes do Bar Brasília encontrarão, a partir das 23h00, as divisões avançadas das celebrações do aniversário da Isabela, no Orange (QI 11, Gilbertinho, 10 réau), em noite "revival" com som de Montana & Cia. Mais detalhes aqui.

Espalhem a notícia.

Falando em "revival", eu conheci o Orange quando ainda este era ainda o Zero Bar, já se vão 9 anos, em minha primeira balada em Brasília. Taí outra razão boa para celebrar além de meu retorno: 9 anos de Brasília.

Ps 10/03: Derrubamos o pingüim no Bar Brasília!!!
Ps2: Já bateu um banzo...vou sentir saudades do povo do cerrado...

07 março 2007

De minhas origens 5: Meu primeiro salário

Em determinado momento da minha adolescência, determinado a ser diferente dos meus colegas de colégio (os mesmos colegas cuja aprovação eu buscava tanto...babaca que sou), resolvi aproveitar as férias escolares para fazer algo completamente inusitado para um rapaz de classe média brasileira: arrumei um emprego.

Meu velho consultou uns amigos e lá fui eu ser office boy em um escritório de despachantes aduaneiros por um mês. A situação era um tanto particular, já que há todo um sindicato de boys (ou pelo menos havia) com reserva de mercado no Porto, então eu era visto como um bicho meio estranho por lá, trabalhando, sem precisar, enquanto poderia estar indo para a praia.

A existência de despachantes é sinal de que há algo errado. Se houver ampla aceitação de sua existência, então, é prova cabal de insanidade sistêmica. Uma pessoa contratada para agir nos meandros da burocracia, um funcionário especializado só nisso, em recolher documentos, taxas, assinaturas e levar ao locais certos. É a reação do mercado ao paquidermismo do Estado. E é também a terceirização da corrupção: o Estado cria dificuldades, o Barnabé vende facilidades e o despachante é o intermediário que possibilita que a iniciativa privada atue.

Ou talvez eu que seja liberal demais e não veja a função social disso tudo, algum tipo de keynesianismo no estilo cavar buracos de dia para mandar tapar de noite, uma verdadeira política de pleno emprego, uma máquina que sustenta a economia da cidade.

Recordo que naquele mês em particular havia sido exposto um esquema de corrupção que dificultou a vida dos despachantes, que passaram a ter que trabalhar com mais cuidado, pelo menos até o assunto sair da mídia. O despachante-mor passava pela sala louco de raiva pelos atrasos causados por essa dificuldade adicional, e as conseqüentes perdas para seu bolso, babando argumentos a favor da banalização dos subornos e de sua validade como norma consetudinária na profissão. Até a máfia tem suas regras.

Ainda bem que eu ficava bem longe disso tudo, passava o dia todo na rua, recolhendo documentos, reconhecendo firmas...minha maior realização foi ter segurado um navio com peças para a Ford por todo um fim de semana porque errei em uma conversão de câmbio e o guichê fechou antes de poder corrigir o erro no fim de uma sexta-feira. Imagina como a chefia ficou contente.

Olhando em retrospectiva, foi uma época bacana. Eu nunca conheci o centro de Santos tão bem como naquela época, hoje já esqueci os nomes das ruas e os nomes das pessoas com quem trabalhei. Talvez tenha contribuido, conscientemente ou não, para minha prematura decisão de ir embora: vivenciei um pouco o dia a dia da espinha dorsal da cidade e vi que não poderia fazer minha vida em Santos.

Foi uma boa dose de realidade, recomendo a experiência para pais ciosos da formação do caráter de seus filhos.

Mas toda essa digressão é só para contar o que me disse meu primeiro chefe ao pagar meu primeiro salário. Uma frase que talvez resuma o valor do dinheiro, altíssima filosofia. Eu nem esperava receber nada, ninguém havia falado de salário até então, saí feliz da vida com um pouco menos do que um salário mínimo no bolso, em notas de dez. O chefe contou meticulosamente, contou de novo, eu contei junto para verificar, ele fez um rolinho, prendeu com uma liguinha de escritório, me estendeu o dinheiro e, antes de largar sua ponta do rolinho, me disse palavras que nunca esquecerei, uma frase que me vem à mente toda vez que vejo meu contracheque:


Hoje, não tem puta triste!


06 março 2007

COOOOOOOOooooooooollllllll