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07 novembro 2005

Tweety

Quando meu velho acha que estou reclamando de barriga cheia, ele diz: "O seu problema...é falta de problema". Sempre que vou a um país desenvolvido, essa frase me vem à cabeça.

Ler as manchetes dos jornais locais na Tasmânia é um exercício do tipo de (falta de) preocupação que se tem quando se está em um país desenvolvido. Tirando o encalhe em massa de 130 baleias em Marion Bay, que foi notícia até aqui, e um ou outro julgamento de um serial killer, as preocupações jornalísticas eram coisas do tipo "Senhora de 75 anos espanta ladrão gigante de sua casa".

Uma notícia em particular, esta em um jornal matutino na TV, chamou minha atenção. Um túnel em construção em Sidney cedeu e criou uma enorme cratera que afetou a estrutura de um prédio residencial. Os habitantes foram retirados às pressas, o buraco foi tapado com muito concreto, mas ainda assim condenou o prédio definitivamente. As imagens chegaram a captar a queda de toda uma varanda de canto. Muita gente perdeu tudo.

Até aí, nada demais, nada que um brasileiro não veja acontecer todo ano durante a estação de chuvas em alguma capital - com a diferença de que os antípodas lá provavelmente tinham seguro. O que chamou minha atenção foi o enfoque dado pelo jornal. Nada de pessoas chorando a perda de seus bens materiais, nada de pessoas revoltadas com a prefeitura, ninguém se importou muito com aqueles que perderam seus trapinhos por causa de um erro de cálculo de um engenheiro qualquer. Todas as atenções estavam direcionadas para Tweety, a cacatua de estimação de um dos condôminos do primeiro andar que, na pressa, não foi retirada do prédio.

As atenções do país estavam direcionadas para o destino do pobre pássaro nativo, preso em sua gaiola, com água e comida para um dia apenas, mas que não podia ser retirado devido ao risco do chão ceder ao peso de um ser humano. A tensão! O desespero!

Tweety acabou sendo heroicamente resgatada por um robô munido de braço mecânico que originalmente foi construído para desarmar bombas, daqueles que a gente vê em filmes. O país inteiro aplaudiu.

De volta ao Brasil, vejo em nossas manchetes algo como "Fidel Castro desviou dinheiro do Banco do Brasil para financiar a compra do Campeonato Brasileiro pelo Corínthians". Estourei o cartão de crédito e devo até as calças. Meu time perde de 7x1. Volto para uma casa abandonada, sem eletrodomésticos e com um vazamento monstruoso. E muita, muita dor de cabeça.

...ai, que saudadades do Tweety....

04 novembro 2005

A caminho de casa

Parte da atracao desta viagem era espairecer um pouco, colocar umas ideias no lugar....agora q meu retorno se aproxima, nao tenho a menor pressa de voltar....as noticias que recebo de brasilia soh vem me dar dor de cabeca, nao estou nada ansioso pela semana que chega em breve.....

ps: tenho alguns posts prontos que serao publicads retroativamente qdo voltar...

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Update:

Os dois posts que estavam no laptop foram postados abaixo. A reuniao acabou, agora resta fazer as malas e cair na manguaca, na tentativa de virar a noite e antecipar o jetlag em algumas horas. Aparentemente terei dificuldades em minha conexao em Sidney....Ateh Brasilia.

02 novembro 2005

Miss CCAMLR 2005 - Les pieds de Julie

Algumas situações com superpopulação masculina tendem a criar o "efeito caserna", quando algumas mulheres são supervalorizadas, não por sua beleza, mas pela falta de referência feminina nos arredores. Seria certamente o caso desta reunião, onde todos os machos olham babando e suspirando para Julie, delegada da administração dos "Territórios Austrais Franceses", se não fosse pelo fato de que ela é realmente linda.

Loirinha, pequenina, magrinha, poderia ser mais uma de milhares de loiras-bonitinhas-mas-sem-sal. No entanto, tem uma sensualidade natural que é potencializada por aquele sotaque francês "eu-sei-que-sou-gostosa". Tem até uma bundinha apetitosa, que é raridade entre gringas.

Sem fotos, mas fiquem com esta ilustração: não sou nenhum tarado por pés, mas hoje a Julie veio com uma sandalinha, toda fresca, como se não estivesse no paralelo 42 sul, pintou as unhas em um tom escuro, aneizinhos nos dedos dos pés....nóssinhora! Causou uma ereção. Se há algum podolótra por aqui, está sofrendo muito, pq eu que não sou, estou.

01 novembro 2005

Fato social total

Por razões óbvias, entendo que um país pare por 90 minutos, ou até mais, devido a um evento esportivo, especialmente se estivermos falando de um esporte coletivo ou um ídolo nacional.

Ainda assim, falho ao tentar entender o evento de hoje à tarde. O país inteiro parou para assistir a Melbourne Cup, a mais tradicional corrida de cavalos dos aussies. Um evento nacional daqueles que antropólogos estudam para gerar inferências sobre todo um povo. Interromperam a reunião e usaram o projetor da sala de conferência para exibir o evento. Este ano aparentemente foi especial, pq a égua vencedora, apesar da idade e do sobrepeso do jóquei (58 Kg. Sobrepeso!?), venceu pela terceira vez consecutiva, feito inédito que alegadamente a torna o melhor cavalo da história.

O fato curioso é que uma corrida dessas dura apenas 3 minutos. Não é suficiente sequer para tomar um pint. Ou seja, uma rapidinha. Em comparação, um jogo da Copa do Mundo é uma orgia. Ainda assim, é desculpa suficiente para parar tudo.

Parte da explicação, claro, é o volume de apostas gerado por esses breves eventos - que me fazem lamentar o fato do jogo ser monopólio estatal em minha terra.....apostei 8 dólares, ganhei 20. Tomarei um pint esta noite por conta de uma égua Makybe Diva.

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Update 04/11

Pequenas curiosidades locais:

- Nao ha cachorros pela rua neste lugar....serah que os demonios incluiram cachorro em suas dietas?

- Tirando uns Wallabies que vi em breve "safari fotografico" com alguns colegas em um carro alugado, nao tive oportunidade de ver nenhum dos bichos endemicos que tanto agucam a curiosidade sobre a Australia. No entanto, em conversa com os locais, achei engracado ver que, ao contrario da imagem que temos de coalas fofinhos e cangurus camaradas, esses bichos sao vistos com um certo asco por aqui, sao fedidos, agressivos, tem unhas e dentes enormes e cheios de bacterias.

- Wallabies (uma especie de canguru pequenino), conforme o Capitao Cook descreveu pela primeira vez, realmente parecem com lebres. O gosto eh melhor, no entanto.

- Guiness aqui eh tao cara qto no Brasil, assim como ferragens para barcos.

31 outubro 2005

Multilateralism matters

Apos uma semana de discussoes nas "camaras baixas", dao-se inicio aos debates da "camara alta", que eh o forum politico propriamente dito - apesar das discussoes mais francas e diretas, que eventualmente vem a ter impacto politico, terem ocorrido na semana passada e do fato de ninguem conseguir acompanhar o que acontece agora se nao estiver aqui na semana anterior.

Com o inicio das sessoes desta semana, me pergunto se toda essa historia de jetlag nao eh soh uma desculpa para os muitos bocejos em torno da mesa principal. Multilateralism matters, mas dah um sono.....

29 outubro 2005

Salamanca Sq.

O ponto central desta vila eh uma praca chamada Salamanca Sq., onde estah localizado o courier que me permite enviar estas linhas pelo ar. A proposito, a praca nao eh batizada em homenagem a cidade espanhola, mas a uma das muitas batalhas navais vencidas pelos britanicos. Jah este courier tem como tema a vida do filho mais famoso destas paragens, Errol Flynn, que vc pode achar que nao conhece, mas certamente jah o viu vestindo corpete, capa e espada em algum filme em Techinicolor na Sessao da Tarde. Mais famoso, mas nao querido: aparentemente hah uma maldicao envolvendo seu nome.

Salamanca se divide no mercado para os locais e no mercado para turistas. Os turistas, no entanto, tambem sao locais. Adquirir artesanato em pais desenvolvido eh uma lastima, artesanato bom mesmo soh em pais com mao de obra barata. Muito artesanato em madeira, uma madeira de uma especie endemica que cheira muito bem, mas ainda madeira - nao atravessei metade do mundo para levar de lembranca um pimenteiro. Fiquei com algumas reproducoes de Hurley, alem de alguns souvenirs que fazem referencia a exotica fauna local.

Nota metafisica - ou quantos bolivianos cabem na cabeca de um alfinete

Se a onipresenca eh pre-requisito para a divindade suprema, como querem alguns monoteistas, entao creio que Deus somente pode ser um boliviano, tocando flautinha de bambu, acompanhado por outros instrumentos e, invariavelmente, um playback ao fundo. Em todas minhas viagens, que felizmente nao foram poucas, este foi o unico elemento constante, invariavel e universal: o boliviano e sua flautinha. Ele estah em todo lugar, da Feira da Salamanca em Hobart a Praca da Prefeitura em Copenhague, passando pela Torre de TV em Brasilia. Me pergunto se sobrou algum na Bolivia.

Pois temam mortais, pois o onipresente Boliviano, que tudo ve pois estah em todos os locais, irah um dia julgar os feitos da humanidade, do mais humilde mochileiro ao mais refinado diplomata, e com grande furia aos infieis irah aplicar os poderes de sua flautinha e seu playback.

28 outubro 2005

Notas de Hobart, 2 (o Amapa existe)

Quando vc comeca a achar que entende o sotaque australiano, vc descobre que existe um sotaque tasmaniano, e volta a estaca zero.

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Baladinha com os Under 35'ers (a meia duzia de gatos pingados que tem menos de 35 anos nessa conferencia), depois de jantar com a delegacao brasileira - de repente tenho 17 e sou estudante de intercambio novamente.

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Hobart eh um lugar exotico, a porta de entrada da Antartica, o ultimo posto da civilizacao antes do sul profundo...

...para os aussies, isso aqui eh o Amapa - haveria mesmo duvidas se esses lugares existem, se nao fosse pelo governo mandar-lhes alguns barnabes.

27 outubro 2005

Notas de Hobart, dia 7

Não são injustificadas as queixas de poucos relatos nesta publicação, mas tenham em mente que o acesso a couriers é limitado e que a agenda do evento ocupa parte majoritária do tempo disponível.

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Melbourne, minha breve escala antes da Terra de Van Diemen, foi uma viagem abaixo pela Alameda das Lembranças, como cantaria o menestrel. Dezenas de nomes e rostos do passado vieram novamente a nossas retinas. Milady Jacquier, de quem tenho apaixonantes memórias púberes, permanece tão jovial, abalustrina e radiante como há oito anos atrás, porém casada - hoje é Lowrie.

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Dos demônios que alegadamente povoam Hobart, a capital da Terra de Van Diemen, ainda não tive sinal, salvo pelos colegas de outras nações que há muito repetidamente comparecem a esta Reunial Anual. Nossa nação não tem possibilidade de superar tais delegados da forma inconsistente com a qual assuntos relativos aos oceanos e terras austrais vêm sendo considerados. Minha modesta participação nesta Reunião tem sido um exercício valioso de atuação em tais fora, mas também uma dolorosa constatação de minhas limitações pessoais e da estrutura que represento. A improvisação não pode ser a regra, a não ser no Jazz.

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Apesar de estudar a língua bárbara que é falada com curiosas variações nasaladas nestas paragens desde a mais tenra idade, esta é minha primeira passagem em terra de língua anglo-saxã. Meu valoroso pai, que me obrigou durante a infância a sacrificar lazer em troca do estudo desta língua, estaria certamente orgulhoso em saber que minhas habilidades fonéticas têm sido aqui frequentemente elogiadas. É também entre os delegados locais que me sinto mais à vontade, sendo eles a maioria dos raros na mesma faixa etária que a minha.

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Em nome de minha saúde financeira e em respeito aos fundos do Reino que a mantém, tenho procurado conter-me ao passar em frente às muitas livrarias locais com vastos acervos sobre Viagens & Exploradores austrais. Já comprometi, no entanto, razoável parcela de meu orçamento com o tema.

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O clima é instável e venta muito, mas está mais frequentemente bom do que ruim. Os efeitos da viagem no tempo ainda se fazem sentidos, mas de forma inconstante, momentos de alerta alternados com extrema ebriedade causada por Morfeu. A cidade não inspiraria muitos poetas, mas é agradável. Se não fossem pelas montanhas em torno da vila, seria muito parecida, talvez pelas altas latitudes e pela brisa gelada, com algumas cidades que conheci no Mar do Norte, com antigas construções ao lado de linhas mais contemporâneas, claramente pré-fabricadas.

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Um aspecto curioso e certamente esclarecedor é assistir aos delegados de San Martín e da Rainha Elizabeth trocarem farpas devido à disputa de certas ilhas no Atlântico Sul. Guardarei pessoais meus comentários a respeito dessa questão, uma vez que poderiam gerar certa polêmica.

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Apesar de nossa atuação multilateral estar longe de apropriada, maculada como está pela demora nas devidas contribuições financeiras, a Reunião vem servindo para conhecer indivíduos mais experientes de outras nações, que possam vir a contribuir para uma atuação mais proveitosa em águas austrais.

21 outubro 2005

Santiago

O deslocamento para a Terra de Van Diemen é empreitada demasiada longa. Tarefa demorada, onde saum testadas as filosofias que advogam que o tempo naum é algo absoluto. Neste porto do Pacífico aos pés da Cordilheira, de onde envio estas linhas, cheguei hoje quando todos já dormiam, me rendi a Morfeu ao invés de minha planejada excursaum pelas bodegas locais, e dormi algumas horas em um rancho local, mui caro para seus pobres servicos.

A viagem até aqui naum teve muito digno de nota. Na mesma nau, a apenas poucos passos de mim, estava o capitaum da mitológica esquadra que derrotou os italianos em terras astecas. Minha escala na Vila de Piratininga foi breve demais, sem ao menos tempo para enviar mensagem, pois fui obrigado a correr entre o povaréu, escoltado por funcionário local, a fim de naum perder a oportunidade de seguir caminho na nau seguinte. Vista do alto, Piratininga se parece cada vez mais com a Coruscant da mitologia contemporânea, com suas luzes se estendendo por todo o horizonte.

Antes de chegar à Van Diemen, no entanto, precisarei de mais uma noite de pouso. Dessa vez, ao menos, terei a oportunidade de ver rostos familiares que há quase uma década naum pouso os olhos. Serei recebido por mui estimada amiga, que conheci durante minhas incursoes por campos daneses, há tanto tempo já que me lembra que tempus fugit.

Como também faz agora o administrador desta central de mensagens.

Hasta luego.

19 outubro 2005

Viagem à Terra de Van Diemen. Dia 0

Graças à mui extensa benesse do Vice-Rei desta Casa Imperial, por meio de ato administrativo de seu mais bondoso colaborador, terei a honra de integrar missão amanuense a terras orientais exóticas e longínquas, tantas léguas a oeste que lá o dia vira noite e a noite vira dia, na desconhecida Terra de Van Diemen, onde nobilíssimos representantes das nações que caçam a longilínea fera dissostichus sp. em águas austrais irão discutir os termos e quantidades da referida caça.

Minha partida ocorrerá nesta quinta ao crepúsculo, dependendo da vontade de Nosso Senhor, na primeira da sucessão de muitas naus que se fazem necessárias para chegar àquelas paragens. A longa duração da empreitada e seus perigos inerentes a tornam material de apreço invulgar a esta estimada publicação, mesmo que tão poucos leitores tenha.

Ainda que as restrições para enviar-lhes notícias do outro lado do mundo sejam muitas, devido à dificuldade de portadores, procurarei trazer detalhes pitorescos e aquarelas vívidas da jornada a qual nosso Vice-Rei viu por bem me enviar.

Não saberia eu dizer quando terei novamente oportunidade de relatar meus garbosos feitos, mas posso adiantar que tomarei nau nesta Capital com destino ao Pacífico, de onde seguirei por rota polar à localidade maori de Tamaki Makau Rau, que o grande Capitão Cook colocou no mapa há muitas gerações. De lá, seguirei em paquete à parte austral da Nova Holanda, meu ponto de partida à Terra de Van Diemen, onde, dizem, vivem demônios e os fantasmas daqueles que outrora partiram em exploração para a Terra Australis Incognita.

Somente lá encontrarei meus companheiros de empreitada, valorosos caçadores da fera demersal e protetores de tudo aquilo que é valoroso, em harmonia com as inexoráveis forças da natureza. Creio, no entanto, que já me alonguei em demasiado nesta introdução, devendo ater-me às diversas e necessárias preparações para a viagem, voltando a relatá-la em nova oportunidade, tão logo quanto possível.