31 julho 2007

Trilha sonora após uma desperdiçada noite insône

chúpame la mente cable
suck my mind
chúpame la mente cable
suck my mind

así que dele
tome su tele
y haga como chele

(Martín Buscaglia)

Adoro chele de cedul, mas não sei quem ou o que é chele* na canção acima ou ainda o que fez com sua TV. Tenho a impressão de que a jogou pela janela. Pelo menos é isso que eu deveria fazer...

***

Como estou em clima de férias, esta edição do Trilha Sonora é dupla, vai aí um trecho de Pobre Papá, dos geniais Strokes uruguaios, El Cuarteto de Nos:

siempre pensé que trabajar
no era moderno
si el trabajo es salud,
que trabajen los enfermos
si el trabajo es salud,
que trabajen los enfermos

*PS 5/9: Segundo a fan-girl a meu lado na apresentação de Buscaglia no dia 2 de setembro na BAFIM, "Chele" é uma espécie de Chacrinha da TV uruguaia, um negociante que, para anunciar seus calçados à venda, os atira ao público.

28 julho 2007

Enrugado


Óia o gordo.

27 julho 2007

Dinheiro público dá no mato

Eu nem sei quem é Vanessa da Mata. Mas acho curioso como estão batendo na menina porque seu DVD recebeu 900 mil doletas da Lei Rouanet. Ela só está usando um recurso disponível, legal e amplamente utilizado. A crítica ao caso dela, porque a obra visa o lucro, se aplica sem tirar nem por a TODA obra artística feita com recursos da Lei Rouanet - praticamente todo o cinema nacional, por exemplo, até os filmes da Xuxa.

O raciocínio se aplica também a praticamente todo e qualquer incentivo governamental dito "desenvolvimentista", "proteção da indústria nascente", etc. É dinheiro público saindo da coletividade para reduzir o risco e aumentar o lucro de pequenos grupos privados amigos do rei. Volte lá no Celso Furtado e procure no índice remissivo "socialização das perdas".

Como bom brasileiro, acho que temos é que bater no peito e defender os aviões da Embraer tanto quanto os DVDs da Vanessa da Mata. E mais, eu também quero meu jabá. Este blog passa a fazer parte da campanha lançada por Serjão comenta do céu:



Ser liberal é uma merda mesmo...


26 julho 2007

Uma notinha surreal

Tenho um notório horror a serviços de atendimento prestados por 0800. Em determinado momento, quando vejo que tudo está perdido, me contento simplesmente em ter a quem xingar, pobre do atendente do outro lado da linha, que não tem culpa do fato de que o manual diante dele foi feito propositalmente para ser tautológico e cansar o cliente. Mas xingar é uma válvula de escape melhor do que esmurrar portas.

Mas há uma sutil diferença entre minha experiência com os 0800 brasileiros e argentinos. Os brasileiros te irritam profundamente ao não oferecer soluções para seus problemas, chegando ao ponto de dizer que o problema simplesmente não existe. Aqui isso também ocorre, mas antes disso - e essa é a parte divertida - o atendente tenta genuinamente te convencer, com aquele jeitão tano tão porteño, de que você simplesmente está errado e que sua consulta é completamente indevida. A última foi o 0800 da Sony, onde o tiozinho afirmava que eu não poderia entrar em contato diretamente com nenhuma das lojas, porque elas não teriam telefone.

Insistem tanto e tão convencidos que eu não me irrito mais a ponto de xingar ninguém. Ao contrário: me divirto, rio às gargalhadas, sofismando ad absurdum e esgrimindo ironias. Um excelente exercício de argumentação, recomendo.

23 julho 2007

Plágio

Dêem uma olhada neste texto aqui, do blog de humor Opinão Popular. Depois leiam este vendido aqui, na Carta Maior. Quem plagiou quem?
é claro para qualquer pessoa com o mínimo de discernimento, os grandes culpados são o neoliberalismo, o capitalismo selvagem e o egoísmo burguês, que são exatamente a mesma coisa.

a ver se com isso eu atraio um pouco da audiência do Tio Rei, que está de férias...

22 julho 2007

So much for monogamy....

Vocês lembram disso aqui?

Se tiver preguiça de clicar, explico: alguns têm mania de atribuir características humanas a animais e vice-versa, na tentativa de criar modelos de comportamento. Um desses modelos inatingíveis, talvez o maior mito da civilização ocidental, é o do amor monogâmico, "personificada" para alguns no exemplo do pingüim.

O pingüim, vale lembrar, é o power animal do Jack.

Qua-quara-qua-qua...parece que também os relacionamentos esfeniscídeos sofrem das tentações da carne. Os bichinhos recorrem até à prostituição!! (Clique aqui para uma versão não acadêmica do texto)

A notícia certamente virá como alívio à consciência de muitos outros além de mim.

18 julho 2007

Nunca antes neste país....

...viajar foi tão perigoso. A frase "relaxa e goza..." atinge uma nova dimensão a partir do triste acidente de ontem. Não foi gracejo, não foi lapso, foi sintoma da incompetência generalizada, sintetizada na frase abaixo, em itálico:
Tragédia anunciada

Ao falar ontem sobre a "evolução" do ministro Guido Mantega, Lula fez a frase que talvez seja a mais simbólica de seu estilo de governar. A mais completa tradução do que se passa nos céus do país há dez meses desde que caiu o avião da Gol.

Veja o que Lula disse:

- Em determinados cargos (...) a gente faz quando pode, e, se não pode, a gente deixa como está para ver como é que fica.

Pois é, é assim que se leva um país. Foi com o governo "deixando como está" e "vendo como é que fica" que uma nova tragédia, esta bem anunciada, resultou em mais de 200 cadáveres.

17 julho 2007

Guerrilheiros relaxando e gozando

Com a consolidação dos blogs como meio de comunicação na Internet, não tardou muito para o mercado publicitário se impor também neste meio. Não estou falando dos Google Ads e afins (que não me rendem nada mesmo...alguém aí se incomoda com os anúncios?), mas do que se convencionou chamar de "marketing viral" ou "marketing de guerrilha"- coisas que parecem engraçadinhas e legais para passar adiante por mail, mas que na verdade foram criadas e divulgadas em primeiro lugar por publicitários.

Quem mais entende do tema provavelmente é Mr. Mason do Cocadaboa, site que já foi dos mais polêmicos do Brasil, mas que anda meio de lado porque Mason justamente consolidou-se como um dos grandes guerrilheiros de marketing do Brasil e agora tem mais o que fazer do que administrar o site (seus críticos chamam ele de "traidor do movimento"). Aparentemente, ele tem uma rixa com o Antonio Tabet do Kibe Loco, talvez o mais acessado site de humor em português, e pelo que entendi é exatamente pelo uso que este último faz de campanhas virais.

Ou vai me dizer que a piada do "Hoy... - Ooooiiii..." não é jabá da empresa de celular detrás desta campanha endossada pelo site? Só não é mais direto que este post sobre uma marca de cerveja...

O Kibe tem milhares de acessos diários, tem mais é que faturar em cima mesmo. Independentemente de terem sido feitos ou chupinhados para uma campanha de marketing, são posts criativos - talvez até mais criativos por isso. Não é tudo publicidade, obviamente, mas a audiência dos posts "inocentes" é também exposta à publicidade, sem que esta seja explícita como tal. A Internet deu uma forma aos publicitários de criar e rastrear o famoso "de boca em boca".

Não estou criticando Tabet, só estou citando isso como exemplo de que, como em todo meio de comunicação de massa, tampouco há inocência e imparcialidade na blogosfera, nem mesmo em sites de humor. Mas é bom ter em mente que ao enviar um link divertido para alguém, você possivelmente está fazendo comercial de graça - você faria isso com algum panfleto na rua?

Toda a enrolação acima para levantar a seguinte hipótese conspiratória. A Peugeot não tinha que tirar do ar o anúncio que tira sarro da Marta Suplicy, pedido do Presidente ou não. E se a retirada do anúncio, logo incluído no YouTube, e a conseqüente polêmica a respeito foram parte da campanha?? Vá lá, é um comercial engraçadinho, mas nem tanto, cairia logo no esquecimento - a polêmica gerou um burburinho muito maior do que teria o anúncio normalmente, em um público com maior poder aquisitivo, o que tem acesso à Internet.

Não duvido que tenha ocorrido o pedido do Presidente, dadas as anteriores manchas de autoritarismo na faixa presidencial, mas aposto algumas fichas que a empresa aceitou de bom grado a oportunidade de ver seu comercial passando em todas as telas de computador do país. Fico imaginando o publicitário fazendo doce quando lhe pedem que retire a campanha do ar, para depois, sozinho na sala, fazer uma dancinha da vitória e abrir aquela garrafa de champanhe guardada...

13 julho 2007

Precisa de uma desculpa para vir a BsAs?

Precisa de uma desculpa para vir a Buenos Aires? Te dou três. Bom, não o faça por mim, nem precisa aceitar minha palavra, não precisa nem visitar. Mas talvez você se convença por estes caras. Lembre-se também disto aqui.

Esta cidade é muito foda!!

A verdade é que não há desculpa para não vir a BsAs....

(...e tem gente que prefere servir na Europa...)

12 julho 2007

Haja corazón!!

Era tudo que eu não queria...

PS pós-partido: Bom, nem foi tão ruim assim...

Siga, siga, siga el baile...
al compás del tamboril....
que seguimos campeones,
somos los hinchas de Brasil!


Fica esperto!

Eu já falei sobre isso antes. Minha geração ficou velha precocemente e a indústria cinematográfica insiste em lembrar-nos disso a todo tempo com filmes baseados em seriados de nossa infância...

...bah, podem continuar explorando minha memória afetiva, eu gosto!




Desgraça de musiquinha que não me sai da cabeça!!

11 julho 2007

Clássico da repartição: Caminhoneiros x Tropa de Choque

Em clima de Copa América, eles estão de volta. A torcida organizada do sindicato dos caminhoneiros bate bumbo à porta da repartição, bem abaixo de minha janela (protegida com jardineiras anti-bomba, herança arquitetônica da ditadura), cantando xenofobicamente siga el baile, siga el baile / al compás del tamboril / que esta noche nos cogemos / a los putos de Brasil.

Só aos putos, por favor.

Será uma manhã interessante, haverá quilombo. Y los niegros de mierda / nos quieren cagar / y los niegros de mierda / nos quieren cagar / Qué quilombo / Qué quilombo voy armar...

Quando cheguei já havia um empurra-empurra entre a militância e tropa de choque da polícia porque esta apagou uma fogueira na pracinha aqui em frente. Parece que intenção da hincha do sindicato é acampar.

A polícia está na porta desde ontem, passando frio. Anda fazendo um frio dos diabos, como vocês sabem. E a tropa de choque está louca para aquecer-se.

UPDATE: Depois de uma longa manhã escutando bumbos no trabalho como se eu remasse em uma galera antiga (nunca digitei de forma tão ritmada...), a hincha do sindicato foi embora, mas sem levar borrachada.

PS: Me encanta escutar a hinchada gritar negros de mierda menos de uma semana depois de ouvir de um diplomata argentino que aqui não há racismo "porque no hay negros". Ha! É quase tão engraçado quanto ouvir que não há racismo no Brasil "porque raça não existe" - como se a inexistência de raças anulasse o preconceito ao invés de deixá-lo ainda mais em evidência, como se fosse necessário declarar-se racista para ser-lo...

09 julho 2007

9 de julio - neve em BsAs!!


Bom, agora não falta nada para o porteño se considerar integrante do primeiro mundo. Talvez um terremoto...
Infelizmente, perdi essa (estava em trânsito). A foto acima é do Clarín.


O frio aumentará o consumo de energia, agravando um quadro de crise cuja existência é pateticamente negada pelo governo. Você congela os preços energéticos, inibindo os investimentos no setor - o que acontece quando a produção ocupa a capacidade ociosa?? Biduzão.

Na verdade, não sei se Señor y Señora K. estão esquentados com o fato, já que a neve é uma evidência visível e palpável do argumento governista: não existe crise energética, é o inverno que é está mais forte. Hmm...isso me soa familiar... Sugestão: que o Ministro De Vido saia a dizer por aí que a neve é sinal de prosperidade, que é prova de que a Argentina está mais próxima dos países desenvolvidos e que há mais casas com aquecedores. Quem se lembra de neoliberal fazendo nevar??

Mas talvez, só talvez, Señor y Señora K. devessem estar preocupados. Quem acredita em mandinga sabe que não se pode negar os sinais divinos: a última vez que nevou em BsAs foi em 1918, quando os Radicais consolidavam seu primeiro ciclo no poder com Yrigoyen, o nome de rua mais complicado entre a Gral. Paz e o Rio da Prata. Talvez seja tudo um complô da oposição...

Ai, Cristo!

Post tardio, mas estava longe, no norte da Argentina (do c@$%lho!!!), relevem:

Ainda o Cristo.

Eu já havia dito. Você seeeempre pode contar com sentimentos nacionalistas para justificar o uso de carne humana como bucha de canhão e para botar azeitona na empada alheia.

Sempre
.

06 julho 2007

Buenos Aires, urgente!!

(para ler em voz alta, no estilo Gil Gomes)

Às 04h15 desta madrugada, em Buenos Aires, capital argentina, teve fim uma tensa, tensa e inusitada, toma de reféns, não longe daqui, na rua Montevideo ao 497, terceiro andar, no inferninho conhecido como Exquisito.

[sonoplastia: pausa dramática]

Acompanhado de outro meliante, tomado de intensa, intensa fúria passional, o ex-presidiário Pedro Javier Blanco tomou como reféns dez mulheres, dez prostitutas que trabalhavam no local.

[sonoplastia: pausa dramática]

O marginal, armado com uma pistola calibre 9mm, declarou-se perdidamente, perdidamente, apaixonado por uma das garotas de programa. Não está claro, não está claro, qual delas. O seqüestrador dizia que queria se casar com a garota, que queria tirá-la da vida de meretrício, e que iria matar todas as reféns se ela se negasse.

O caso está registrado na 3ª DP.

***

Que lindo! Que romântico! Que puta declaração de amor!!!

Merece virar tango:
Como me dolió el corazón
ver la mujer que ya fue mía
de mano en mano por el callejón
por mi culpa y cobardía

Con tanta ternura
esa linda criatura
no lo merece estar perdida

Diós
como me arrepiento
haber lastimado esa persona

si ella me perdona
si me quiere todavía
voy a sacarla de esa vida

si ella me perdona
si me quiere todavía
voy a sacarla de esa vida

03 julho 2007

Cataratas do Iguaçu

Em junho, aproveitando um feriado prolongado, as temperaturas mais amenas e o fato de não terem iniciado ainda as férias escolares, peguei a velha Sony e tomei um dos extorsivos vôos da Aerolíneas para fazer um bate volta naquela que é talvez a grande meca do turismo de massas na América do Sul: Cataratas do Iguaçu. Visite o álbum de fotos no Flickr
***

Foi também a primeira vez em muito tempo que viajei sozinho. Não que seja melhor do que uma viagem acompanhado, mas eu sentia falta dessa coisa mochileira, buscando "single-serving friendships" no albergue para tomar uma cerveja ou rachar transporte (single-serving também pode ser traduzido por "descartável", mas aí não seriam friendships).

Nômades e desterrados são particularemente receptivos a seus pares, ainda que desconhecidos: se em sua terra natal você puxa conversa com alguém que nunca viu antes, as chances disso terminar em uma cervejinha são menores do que entre nômades e desterrados. Não que viajantes independentes sejam mais abertos, eles estão mais abertos a estranhos. Independência pode ser sinônimo de solidão e há pessoas que fogem disso sem se dar conta de que fogem de si mesmas. O que cansa é o papinho padrão "de onde você é-para onde você vai" que se repete sempre...

***

Meu objetivo era só conhecer os parques mesmo, sem pressa. Calculo que mais cedo ou mais tarde terei que ir a Foz a trabalho, então resolvi ficar só por Puerto Iguazú, por pior que seja este cu de pueblo, onde a Argentina já terminou, mas o Brasil ainda não começou (e tampouco está no Paraguai). Fronteiras com acessos terrestres são muito estranhas, você está em uma estrada, passa por um enorme guichê de concreto e de repente, arbitrariamente, você está de volta a seu país, os outdoors e a rádio falam sua língua, mas você, não entende bem porque, se sente duplamente estrangeiro.

Triplamente estrangeiro, se considerar que ali é território guarani, onde se fala guarani. O ônibus mais multicultural do mundo é o que vai da rodoviária até o parque nacional, onde na mesma viagem é possível ouvir inglês, alemão, norueguês, finlandês, chinês, italiano, português, espanhol, árabe e guarani.

Pan 20070616_Cataratas_076-77-78-79

Atribui-se aos guaranis uma lenda breguinha sobre um amor proibido que ofendeu um deus sedento por sacrifício que criou as cataratas para separar e punir o casal, mas o arco-íris os une e o amor vence (céus...que horror...). Com poucas variações, já vi essa mesma lenda atribuída a pelo menos dois povos para explicar outros acidentes naturais. Com um pouco de pesquisa, você encontrará outras lendas supostamente autênticas como mito de origem do lugar. Nada tira da minha cabeça que essas lendas foram inventadas por algum agente de turismo contemporâneo...

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Nos fóruns e sites de turismo que consultei era inevitável a questão "qual lado é melhor?".

A pergunta só se aplica se for uma referência a "qual parque nacional é melhor?". Aí, lamento Embratur, mas tenho que ficar com os argentinos, que colocam à disposição muito mais informação e mais atividades ao visitante, sem cobrar os preços escandinavos que cobram os concessionários turísticos brasileiros. Mas eu não entendo como falam de "lado brasileiro" e "lado argentino" das Cataratas, como se fosse possível cortar a água.

O fato incontestável é que há mais variedade de passeios e vistas no parque argentino, da mesma forma que as passarelas do parque brasileiro permitem uma visão de todo o conjunto que não é possível do outro lado do rio. Se é do Brasil que se vêem as melhores paisagens, não pode ser o lado brasileiro o mais bonito, já que o que se vê é o parque argentino. Por outro lado, o visitante na Argentina não tem o mesmo grau de assombro que se tem do lado brasileiro, porque sempre só se vê apenas o parcial. A questão é tautológica e, como toda tautologia, absolutamente inútil. As Cataratas são uma coisa só, Y-Guazú, indivisíveis, nem sei porque se dão ao trabalho de dar nomes individuais para cada salto.

Já fui (fomos todos) tão bombardeados com imagens das Cataratas que sinceramente achei que não iria me impressionar. Tolo engano. É fantástico. Y-Guazú, Iguaçu, Iguazú, Iguassu...em guarani quer dizer "água pra caralho". Mais água do que você pode imaginar, gotas em suspensão por todo o lado, subindo como fumarola e te envolvendo com um véu branco que altera as cores do ambiente, levando umidade a teus olhos, teu nariz e tua pele, ocupando tudo com um ruído absoluto, tão onipresente que se torna silêncio.

Vá. Em três dias é possível visitar os dois parques com folga (dois dias para o parque argentino). Se você não tiver problemas em acordar cedo, com um pouco de boa vontade dá até para fazer em dois dias. Minha sugestão de programa é a que segue (não é exatamente o que eu fiz). No parque brasileiro, percorra as passarelas sem pressa e deixe para os gringos os passeios pagos. Tome mais tempo no lado argentino, percorra absolutamente tudo, Circuito Inferior, Circuito Superior, Trilha do Macuco, Ilha San Martín (talvez a melhor vista do parque argentino), o passeio de inflável (é muito mais barato aqui). Ignore o "trem ecológico" e caminhe alguns Km até a Garganta do Diabo - você nunca verá tantas borboletas juntas como nessas poças de lama. Cheque o calendário lunar, há passeios noturnos ao parque em noites de lua cheia. Pule o almoço e coma um surubim grelhado com mandioca frita na janta. Se viaja sozinho, busque um albergue para encontrar outros viajantes dispostos a rachar um remis até o parque do outro lado da fronteira. Tome o ônibus do seu lado da fronteira. Se viaja com alguém especial, cometa a extravagância de ficar em um dos hotéis cinco estrelas dentro dos parques. Vá.

***

Em um trecho megalomaníaco do ótimo El Interior, Martín Caparrós diz que teve estúpidas ganas de escupir hacia el salto, de agregar algo: de participar. No meu caso, feri os olhos ao fazer o passeio de inflável até os saltos e confiar demais em meus óculos - as Cataratas escupiran no meu olho. Acabei com uma conjuntivite que nem o Photoshop salvou.

***

Puerto Iguazú é incompreensivelmente feia. Foz pelo menos tem a desculpa de que é uma cidade grande, com todos os problemas de uma cidade grande. Puerto Iguazú não, ela existe em função das Cataratas, é totalmente dependente do turismo, mas não tem nada de pitoresco, suas ruas, casas e prédios não tem a menor preocupação estética. Na noite do centro predominam cachorros vadios e adolescentes de interior bêbados com sua mobiletes, em lugar de turistas com seus cartões de crédito.

A resposta talvez esteja no turismo de massas. Muitíssimos visitantes passam por lá, mas a maioria permanece pouco tempo e está sempre envolvida em cápsulas motorizadas hermeticamente fechadas pelo agente de viagens, mantidos isolados do meio-ambiente que tanto os fascina. Os hotéis, até mesmo alguns albergues, se esforçam em ter toda uma estrutura para manter o visitante confinado, restrito ao trecho hotel-ônibus-parque-ônibus-hotel. Quem fica na cidade são geralmente turistas jovens, que gastam menos.

Não me leve a mal, acho extremamente pedante a distinção que alguns fazem entre "turistas" e "viajantes". Poderia bater mais neste ponto, mas não vou agora. O máximo que eu admito é alguma distinção entre "turismo de massas" e "turista/viajante independente", i.e. aquele que viaja sozinho ou em pequenos grupos e faz sua própria pesquisa, foi atrás de roteiros, transporte, hospedagem e alimentação por sua conta, sem precisar de ajuda de um profissional ou agente. O ponto aqui é simplesmente que a quantidade de turistas não está necessariamente associada com a grana que fica no local, tampouco com a qualidade da atração.

Verdade seja dita, os parques conseguem manejar o volume de turistas muito bem. É inevitável a comparação entre as passarelas para manter os turistas nas trilhas e currais estreitos para conduzir gado, todos em fila indiana. Aquilo realmente deve ser um inferno em alta temporada, uma longa e contínua fila, ainda bem que escapei disso. Mas, por outro lado, se não fosse essa abordagem "turista = gado", os parques provavelmente já estariam destruídos ou fechados, ou seriam inacessíveis para muita gente.

O que me ofende no turismo de massas não é o volume de visitantes, é a pasteurização da visita. Cria-se uma imagem estereotipada que é vendida em embalagens assépticas, um produto descartável que homogeneiza a experiência do visitante. No caso das Cataratas, geralmente associados às palavras "adventure" e "jungle". Depois tem gente que reclama que gringos acham que tomamos cipós para ir ao trabalho. Céus, o que é aquele ônibus no parque brasileiro com "ruídos da selva" nos alto falantes?!?! "Adventure" pacas meu passeio pela trilha sendo rebocado por um carrinho de golf, sentado ao lado de uma sexagenária alemã. Olha que selvaaaaaagem aquele quati buscando um resto de batata frita no lixo!!

***

Quem lê o trecho acima pode até achar que eu não gostei da viagem, mas se enganaria. É realmente um desses lugares que você precisa ver antes de morrer. É hipnotizante contemplar aquele tanto de água caindo, envolvido pela névoa como se você fosse parte delas, por horas ver a mesma coisa sem cansar e notar algo diferente a cada variação da luz ou mudança do vento. "Y-Guazú" é superlativo.

01 julho 2007

Quem disse que o mercado de trabalho para formados em Relações Internacionais é restrito??

Seleção brasileira?

O que é Copa América?!

O evento esportivo do momento é o World Series of Poker (WSOP) em Las Vegas, onde no instante em que escrevo essas linhas Leandro "Brasas" é o chip-leader.

Acompanhe pelo blog dele ou pelo site do WSOP.

Agora ele se chama "Brasas", mas na época da faculdade, na mesa de poker onde ele aprendeu a jogar, lá no postinho da UnB, era "Taz" e "Neckless".

Vai moleque!! Que Teodomiro esteja com você!

UPDATE 02/6 10h30: MESA FINAL!!!
UPDATE 03/6 00h05: Leandro jogou muito e chegou ao quarto lugar no campeonato, levando a bagatela de 190 mil doletas. Todas as mesas de poker do Brasil te aplaudem de pé, moleque.

PS: Acompanhei o campeonato pelos blogs, atualizando a todo tempo, F5, F5, F5, muita gente fazendo o mesmo, conversando na janela de comentários. Parecia a Copa do Mundo de 1958 sendo acompanhada no único radinho da vila, com crianças correndo de um lado para o outro para narrar os lances. Eu adoro a Internet.

Trilha sonora

Porque mesclar está bueno...

Guacamole
(Kevin Johansen
)


Sittin’ on a bencho, waitin’ for the teco guacamole
Carne con frijole’, carne con frijole…
Waitin’ for the sun to shine, hopin’ for the chicken yakisoba
Hope there’s some left over, hope there’s some left over…

Ay, mami, qué está haciendo, dónde va?
Ay, papi, no sé, pero vete ya!
Even when the pompan takin’ on a holey, guacamole…

Samarranch, Havelange, Copa Mundo, UEFA de la FIFA
Just like Queen Latifah, hope she got some reefah
Solitaire, happiness, joie de vivre just’ a like Lola
Hope she’ there sola, hope she’ there sola

Guacamole, Si Señor, Por Favor!

Vamos a comer a lo de Beto, que nos hizo guacamole!
Carne con frijole’, carne con frijole’!
Cuchufrito, habichuela, hot tamale, trucha al escabeche,
Con café con leche, con café con leche…
Chimichurri, zucundún con chequendengue, Caraguatatuba
Y uma caipiruva, y uma caipiruva…
Un poquito de manteca, cuatro cucharada e’ milanesa
Queso con frambuesa, pongan bien la mesa!

Boca Juniors, River Plate, Chacarita, Diego Maradona
Diego no perdona, Diego no perdona
Solitaire, happiness, joie de vivre, just a like a Lola
Hope she there a sola, hope she there a sola…

Guacamole, guacamole, si Señor, por favor!