27 junho 2006

Saudade

Meu pai tem um amigo, seu melhor amigo desde o cursinho pré-vestibular. Hoje eles estão velhinhos e todos os sábados se encontram, só para tirar sarro um do outro, contando as mesmas piadas e as mesmas histórias sempre. É a maior inveja que tenho de meu pai, uma amizade assim.

Mas eu tinha esperança...havia um amigo com quem eu me imaginava velhinho, a gente rindo das mesmas piadas e das mesmas histórias por anos...

Ontem, ele se foi.

Ah, Dió...por quê? Preciso entender para perdoar teu ato desesperado...tua dor devia ser maior ainda do que a teus amigos estão sentindo agora.

Você era tão amado, tão querido. Nossa dor só cresce ao ver que isso não foi suficiente para te impedir. Tua ausência dilacera, porque nos perguntamos se não falhamos com você, se não podíamos ter pelo menos adiado tua decisão, ficar mais tempo contigo...

Eu ia te ligar essa semana, perguntar se eu não havia esquecido uma coisa tonta no apartamento, confirmar tua visita em setembro...por que eu não liguei? Não teria te impedido, provavelmente, mas haveria uma lembrança, um momento a mais, eu poderia ouvir tua risada de novo...

Eu tenho saudade de todo o tempo futuro que você nos negou.

Mesmo sem entender, eu queria me despedir, mas não houve chance...eu precisava me despedir, Dió...abriria mão de entender, se eu pudesse apenas me despedir...

24 junho 2006

Bipolaridade e Mandinga

Em discurso recente, o Presidente Kirchner mencionou o caráter bipolar da personalidade dos argentinos, cuja auto-estima alterna entre períodos de depressão profunda e nostalgia do passado distante e entre uma arrogância que os coloca no topo do mundo.

A Copa do Mundo deixa isso muito evidente. Antes do mundial, a falta de fé era geral e irrestrita, a memória de 2002 ainda a assombrar e, pasmem, todo argentino considerava o Brasil favorito. Desde o 6x0 na extinta Sérvia e Montenegro, no entanto, a moral vem subindo.

Muito rapidamente, essa moral chegou aos estratosféricos limites da bipolaridade mencionada acima. No jogo do Brasil contra o Japão, houve comentarista de TV falando de um tal buraco na lateral direita brasileira, que poderia ser explorado pela seleção argentina na final. Mais modesto o narrador de Alemanha x Suécia que identificava as falhas alemãs que beneficiariam a Argentina nas quartas, muitas horas antes do gol milagroso na prorrogação que classificou a Argentina. Hoje as imagens do Obelisco depois do jogo eram freqüentemente acompanhadas de gritos histéricos de "Já somos campeões!! Que venha o Brasil!!"

É, definitivamente, o estereótipo não o é à toa, a humildade não é um traço característico dos argentinos. Da onde eu venho, no entanto, dizer "Já ganhou!" ou "Estamos tranqüilos" dá um azar dos diabos. É auto-mandinga...

É, argentinos, eu me rendo...não tem mais como vocês perderem...

22 junho 2006

Haja Corazón!!!



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O jogo de ontem foi a coisa mais sonolenta da Copa...meus amigos argentinos pediram perdão por terem me obrigado a assistir aquela desgraça...não sei da onde esse corintiano tirou que foi um jogo bom, deve ser porque o Tevez começou jogando, vai entender...


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Hoje de tarde há um confronto cósmico, desses de criar um racha no espaço tempo, como quando as Facas Ginzu tentam cortar as Meias Vivarina: Zagallo, o maior sortudo da história em Copas do Mundo, enfrenta Zico, o maior pé-frio que já esteve em um mundial.

Zico é o Zagallo-bizarro. Zagallo é tão sortudo que Pepe, o dono absoluto da ponta-esquerda em 58 e 62, se contundia só de ouvir falar em Copa. Zico foi a desgraça que foi, nunca perdeu penalti, só quando importava de verdade. Quem vencerá a rinha? Será que o poder azarento do pé do Zico se diluirá entre as duas seleções ou se concentrará no Japão?

Tchan-tchan-tchan-tchan...


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"Ronaldo é gordo" e "Ronaldo é banco" têm 13 letras...e se Robinho não passar a ser titular, "Parreira burro" também...

PS-pós-15-gols-do-Ronaldo: "Eu não sei nada de futebol" também tem 13 letras

19 junho 2006

Da universalidade do futebol

Muitas linhas já foram escritas explicando o porquê do futebol ter se tornado o esporte mais popular do mundo, a maioria dissertando sobre as qualidades democráticas e acessíveis do esporte bretão ou sobre o fato da criatividade poder se impor sobre o rigor físico, etc.

Mas é talvez mais impressionante como o comportamento dos espectadores é universal, como 22 marmanjos correndo atrás de uma bola causam reações semelhantes em pessoas de culturas diferentes.

Aqui, como no Brasil, mulheres têm uma dificuldade inata de entender o que é um impedimento. Feministas, podem xingar, mas entre vocês mulheres só minha mãe (que é a maior Maria-chuteira) sabe o que é um impedimento. Outro traço comum: tanto argentinas como brasileiras têm a mania de confundir habilidade futebolística com atributos de beleza. Kaká é o melhor porque é lindo. Mas por alguma razão bizarra, até o Tevez fica bonito em campo.

Aqui, como no Brasil, não há vida inteligente na televisão futebolística. Levanto as mãos aos céus por assistir uma Copa do Mundo sem Galvão Bueno e Cléber Machado, mas os locutores e comentaristas daqui não ficam muito atrás. É verdade que são locutores que torcem escancaradamente contra o Brasil, mas ainda são preferíveis ao Galvão Bueno. Pelo menos, não há os redudantes e uber-estúpidos comentaristas de arbitragem.

Aqui, como no Brasil, nesta época também os maiores pernas-de-pau se tornam sumidades em conhecimento futebolístico. Todo taxista é um técnico de seleção em potencial. O humor de todos os indivíduos de uma nação está estreitamente vinculado ao desempenho dos 11 que provaram não ser perna-de-pau. Projetamos neles todas nossas aspirações. Por pelo menos um mês a cada quatro anos há 11 escolhidos que encarnam aquilo que todo garoto quer ser quando crescer. Esta propaganda aqui reflete bem esse espírito. "Façam por aqueles que não chegaram lá".

Comprovando essa última tese: Argentina 6 x 0 Sérvia e Montenegro (que massacre...preocupante, o Brasil que jogou contra a Croácia não encara esse time, mas felizmente o time que derrotou a Austrália me dá mais confiança). Desde a goleada argentina, a cidade está mais feliz, os porteiros mais falantes, as pessoas se cumprimentam na rua, falam do futuro com sorrisos, há poucos sinais do pessimismo característico dos porteños pelo ar. Este mês, tudo depende dos 11 que chegaram lá. Tanto aqui como no Brasil.

PS: Provocação: a alegria dos argentinos é mais do que justificada...afinal, independente dos resultados da próxima rodada, a campanha deles neste mundial já é melhor do que em 2002...já podem se dar por satisfeitos...

18 junho 2006

Mordido

Hoje, Dia dos Pais aqui na Argentina, Uínsto me mordeu.

Claramente está disputando território comigo. O bichinho anda agressivo desde sua chegada, talvez em parte por estar se acostumando a um ambiente novo, talvez em parte porque passou por uma dose considerável de stress e mudanças grandes em um período curto de tempo, justamente em sua formação na chegada à idade adulta, o que provavelmente o deixou um tanto desajustado...

Independente de explicações da psicologia canina, minha reação à mordida foi curiosa: fiquei frustado. Uma frustração paterna, uma sensação horrível de que falhei em sua criação...e, ao mesmo tempo, fiquei decepcionado com o comportamento dele...Céus, é só um cachorro, cachorros fazem o que cachorros fazem...vai entender minha reação...

Diante disso, não posso deixar de me perguntar...se apenas um cachorro é capaz de gerar esse tipo de reação, como é que há irresponsáveis no mundo que têm filhos?!? Como alguém pode querer um fardo desses?!? Só para passar adiante o legado de nossa miséria?! Isso simplesmente não entra na minha cabeça...

...aquele investimento em uma vasectomia parece cada dia mais atraente...

PS 20/6: Coincidentemente, este post veio ao mesmo tempo de uma discussão entre blogs de gente grande, o LLL e o Biajoni. Clique nos links para ver os posts deles. Não vou entrar nessa discussão, nem tenho a pretensão de achar que meu post teve algo a ver com isso, mas obviamente concordo com Tio Alex, com o acréscimo do perfeito comentário ecológico ao post original de Biajoni, de autoria da Malla, minha mais fiel leitora (que anda meio brava pelos comentários futebolístico-machistas de meu outro post). Acho engraçado que a manifestação da vontade de não ter filhos provoque reações tão apaixonadas em quem teve filhos, por opção ou não. Será que somos um lembrete do que eles estão perdendo? Se somos, qual o fuzuê, afinal, não são os procriadores um lembrete de coisas que nós, os não procriadores, estamos perdendo também? Cada um que arque com os custos de sua decisão...não existe liberdade de escolha sem responsabilidade...

14 junho 2006

Momento quase-Thoreauniano

Finalmente, depois de acampado por três meses no hotel e no apartamento, chega minha mudança (na verdade, até que foi rápido, considerando que tudo foi empacotado há quase dois meses em Brasília e partiu em um container saindo de Fortaleza).

...E fiquei feliz ao constatar que todas minhas posses materiais mal conseguem encher uma van...

...um dia eu chego lá, Henry.

13 junho 2006

Atención...

...perras, hay un nuevo macho alfa en la ciudad...



PS pós BrasilxCroácia: estou considerando seriamente mudar o nome do bichinho para "Ronaldo"...

12 junho 2006

Dia dos namorados...

E eu aqui sozinho...com frio....

Bom, tem gente passando por coisa pior....


A fila anda, crianças....e como anda...

Via Kibeloco

11 junho 2006

"Vento fraco é pra quem sabe, vento forte é para quem pode!!!"

E como nem só de futebol vive este blog, vivas para a vitória do Brasil 1 na oitava perna da Volvo Ocean Race, no último dia 9. O trajeto em volta do Reino Unido até Rotterdam foi atípico, com irritantes calmarias, mas com uma emocionante chegada cabeça a cabeça (apenas pouco mais de 3 minutos entre o primeiro e o segundo).

O Brasil 1 está agora em terceiro lugar no geral e precisa apenas terminar as duas próximas etapas - a regata em Rotterdam e a perna até Gothenburg - para garantir essa posição no pódio final, com ainda alguma (pouca) possibilidade de ultrapassar os Piratas do Caribe e chegar em segundo lugar. O ABN AMRO One já é campeão por antecipação.

Um feito impressionante, considerando que é a primeira vez que a equipe brasileira compete e lembrando dos problemas no mastro e no casco nas pernas anteriores. Apesar das dificuldades, o barco timoneado por Torben Grael teve um desempenho muito regular, o que lhe levou à atual posição. Mas nada me tira da cabeça que a vitória do Brasil 1 em uma perna de ventos ausentes se deve à experiência que Grael adquiriu no Lago Paranoá =)

10 junho 2006

Abrem-se as cortinas do espetáculo!

Começou o maior espetáculo da Terra!! Provavelmente nunca estive tão ansioso por uma Copa, mas nem é pelo favoritismo do Brasil, é o contexto. A rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina dá chance para um clima de sacaneação mútua irresistível.

Já sei que lo voy a pasar re mal se continuar a provocar meus colegas argentinos, mas é mais forte que eu...Já me ameaçaram de ser amarrado ao obelisco com a amarelinha para servir de alvo aos locais. De qualquer forma, pelas minhas contas estou perdido aconteça o que acontecer. Se o Brasil ganha, me batem. Se o Brasil perde, me sacaneam. Se a Argentina ganha, me sacaneam. Se a Argentina perde, me batem. Então, enquanto isso, vou me divertindo às custas da tal rivalidade, ouvindo inevitáveis referências ao gol de Cannigia em 1990, cutucando eles a cada oportunidade com o Penta.

Hoje, por exemplo. Torci pela Argentina, claro, até levei uma garrafa de cachaça como sinal de meus mais sinceros desejos de sorte para eles. De verdade. Mas no gol da Costa de Marfim, não pude resistir a soltar um sorriso sacana e dizer entre os dentes um "Che, que mierda..." nada sincero, só para ver a reação raivosa dos locais.

No fim das contas, a única coisa para a qual estou torcendo de verdade é que Brasil e Argentina não se cruzem, porque aí eu temo pela minha segurança. Venha o que vier, eu continuo a me divertir e a hinchar por Argentina em troca de comida e bebida. Hoje comi um asado excelente no primeiro tempo e o mate circulou por todo o segundo (é amargo, é ruim, mas dá para se acostumar). Nota: não tentar botar cachaça no mate de novo.

09 junho 2006

Nerd-geriatria

(Este é especial para a Bera-chan, que está no Japão.)

Quem não se lembra? Só não fazia idéia de que já tinha 40 anos....não se assuste com os caracteres orientais e não deixe de clicar em Teaser.

Via Melhores do Mundo

05 junho 2006

Entrando no clima da Copa

Tá chegando a hora!!! E para entrar no clima, uma carta aberta a nossas namoradas, esposas, amigas, amigas coloridas, ficantes e pretendentes. Troque Argentina por Brasil que dá tudo na mesma.
Mi amor:

1) Del 9 de junio al 9 de julio, leé la sección deportiva del Mundial para que tengas tema de conversación. Si no lo hacés, no te extrañe de que no te de bola.
2) Durante el Mundial la tele es mía, a todas horas, sin excepción. El control... ni lo mires y menos se te ocurra tocarlo.
3) Si tenés que pasar frente a la tele durante un partido no me importa, siempre y cuando lo hagas gateando y sin distraerme.
4) Durante los partidos estoy sordo y ciego. No esperes que te oiga, que abra la puerta, conteste el teléfono o levante al nene que se cayó de la planta alta....... Nada.
5) Sería bueno que siempre tenga cervezas en la heladera, bocaditos en abundancia y le sonrías a mis amigos que llegan a ver el fútbol. En agradecimiento, te dejaré ver tele de 6 a 6.30 de la mañana (siempre y cuando no haya en ninguno de los 83 canales la repetición de algún partido).
6) Por favor, si me ves molesto porque Argentina va perdiendo no me digas "no es para tanto" o "en el siguiente seguro ganamos": harás que me moleste más.
7) Podés sentarte a ver un partido conmigo y podés hablarme en el entretiempo, pero sólo en los comerciales. Tampoco abuses,....... dije UN partido.
8) Las repeticiones de los goles son muy importantes. No importa si ya los ví o no: los quiero ver de nuevo, muchas veces.
9) Que no se le ocurra a ninguna de tus amigotas bautizar a su hijo, cumplir años, hacer una primera comunión ni llegar a morirse durante el mundial... porque:
a) No iré.
b) No iré.
c) No iré.
d) No iré.
10) Si un amigo nos invita un domingo a ver el fútbol (¡qué gran invitación!), iremos sin duda.
11) Los resúmenes de la jornada mundialista durante la noche son tan importantes como los partidos mismos; ni se te ocurra pensar en decir "Pero si eso ya lo viste, ¿por qué no cambias?".
12) Es posible que durante el tiempo que dure el Mundial no me bañe ni me afeite y en consecuencia alrededor mio huela a jaula de oso. Recuerda que vos a veces olés a pescado y yo no digo nada.
13) Costa de Marfil, Trinidad y Tobago, y Serbia y Montenegro no son tiendas de ropa como Gath & Chavez o El Corte Inglés. Son países cuyas selecciones juegan el Mundial y cuyos partidos tambien me interesa ver aunque sea la primera vez que escuches hablar de ellos.
14) Te voy adelantando que: “Drogba" NO es el nombre de un nuevo alcaloide; "Tierry Henrry" NO es un perrfume; "Wyne Roony" NO es el dueño de Rintintín ni "Heinze" es una marca de Ketchup. Cuando escuches algún nombre o palabra que desconozcas no tendré ningún problema en explicarte su significado siempre y cuando lo hayas anotado en alguna página de tu cuaderno de recetas y me lo consultes despúes de 60 días de haber finalizado el mundial.
15) Finalmente, ahórrate expresiones como “¡Qué bueno que el Mundial es cada 4 años!” porque estoy inmunizado contra palabras necias. Porque además, luego viene la Champions, la Copa América, El Apertura, El Clausura, Liga Española, El Catenaccio, La liga Inglesa, la Libertadores, el Sub 20, la Sudamericana, el Sub 17, etc, etc, etc…
16) De llegar Argentina a ganar el Mundial: Desapareceré durante dos días, tiempo suficiente para empedarme con mis amigos y festejar. Al volver a casa, tendré derecho a disponer nuevamente del TV durante 30 días para volver a revivir cada segundo de tremendo logro.
17) De quedar eliminada Argentina: Tendrás a disposición el control y la TV durante unos 60 días. Tiempo de duelo suficiente. (Obviamente después de la finalización del Mundial; ya que una vez eliminados voy a hacer fuerza hasta el final por el equipo más débil que quede.)

OK?, ¿Entendido?, ¿Cappicci?, Do you understand?, Isquiri voche Naniastka?


PS: Essa "carta aberta" recebi por email de uma amiga argentina, mas parece que a piada é antiga, talvez nem seja originária desta Copa, e já há versão brasileira circulando. A pergunta é: quem traduziu de quem? Ou os dois traduziram de uma outra versão??

Pelos olhos do adversário

Não é só no Brasil que a rivalidade futebolística entre os dois países é usada para alavancar a publicidade, como fez o Guaraná Antárctica com o Maradona. Vi a propaganda abaixo, do jornal esportivo Olé, ontem no cinema (a história-genial-mas-mal-executada Quase dois irmãos) e morri de rir.

Uma década de visitas a Florianópolis tornou os argentinos muito receptivos à cultura brasileira, muito mais do que nós somos a eles. Esse video dá uma idéia dos estereótipos que os argentinos têm da gente no Brasil e eu achei hilário ver a si mesmo por esses olhos.



E aproveitando o tema, divido esta outra propaganda relacionada com a Copa do Mundo, de um dos patrocinadores da seleção local. Para entender, tem que lembrar de um hábito bem bacana da torcida argentina que substitui os fogos de artifício.

04 junho 2006

Grandes Momentos do Turismo Porteño Surreal

Renato do Dois é blog em visita a BsAs, a trabalho, já conhecedor da cidade e devidamente introduzido ao bife de chorizo. Sábado frio e chuvoso, nada propício para fotos e turismo, mas resolvemos sair pela Callao em direção ao centro depois de um café-da-manhã (momento CAD: uma delicatessen escondida na Recoleta que nem cardápio tem, mas é ótima...) às 3 da tarde (não me perguntem...).

Plaza de Mayo, mais frio, mais chuva. Seguimos pela Avenida de Mayo atravessando a 9 de Julio seguindo o precioso guia da YPF em direção à Plaza del Congreso. No caminho, Teatro Avenida.
- No hay función hoy, pero sí un acto político...
Entramos, um pouco para ver o teatro, um pouco para espantar um pouco do frio. O lugar estava lotado, só conseguimos entrar no "Paraíso", os lugares populares próximos ao lustre, de onde os amantes do teatro com menos posses se empoleiram para ver os espetáculos. O Avenida me lembrou uma versão menor do Teatro Amazonas, a Ópera de Manaus, com sua platéia vertical e seu estilo "quero ser francês".

No lugar, muita gente aplaudindo de quando em quando uma mulher monotônica que falava em propostas. Tinha gente que claramente não estava interessada e lia a edição local da Caras. Ouvia-se um ou outro bebê chorão pelo teatro. Baixou a senhora do púlpito, subiu outra para apresentar o relatório sobre economia. Jovem, recebeu uns assobios debochados de seus compañeros na platéia. E os compañeros aplaudiam com gosto cada vez que a menina falava em estatizar tudo que foi privatizado.

Surreal. Estávamos no Congresso Nacional do Partido Socialista, no momento em que fechavam o programa para a próxima temporada de lucha. Não precisamos ouvir a Internacional, denunciou o símbolo da rosa. Verdade que não foi lá muito diferente de qualquer assembléia que vi antes na universidade, a mesma ladainha de sempre, com a exceção de que os socialistas argentinos sabem se vestir.

Renato, que é comuna e odeia a Veja, estava emocionado. Arranquei o menino de lá quando ele estava para puxar o coro El pueblo, unido, jamás será vencido.

01 junho 2006

Travessia polar brasileira

Até onde tenho conhecimento, a lista de brasileiros que esteve no Pólo Sul é restrita a:

1 - Professor Rubens Junqueira Vilella: em 1962, integrando o programa antártico norte-americano;
2 - Professor A.C. Rocha Campos: por duas vezes, em 1981 e 1985, salvo engano. Uma como pesquisador e a outra acompanhando o
3 - Embaixador Luiz Filipe de Macedo Soares: então Conselheiro e chefe da minha saudosa Divisão no Merré, por ocasião de um seminário na Geleira Beardmore organizado no âmbito do Tratado da Antártica, em 1985;
4 - Julio Fiadi: em expedição particular em 2001. Que eu saiba, Fiadi é o único brasileiro a ter pisado nos dois pólos. Acompanhou Amyr Klink às Geórgia do Sul uma vez também.

Com exceção de Fiadi, que chegou por via aérea até o paralelo 89º Sul e seguiu o resto de esqui, todos os outros foram diretamente à Estação Amundsen-Scott de avião.

A quinta pessoa dessa lista é o Professor Jefferson Cardia Simões, que em 2004 acompanhou uma perna da Expedição Científica Transantártica Internacional (ITASE) organizada pelo Chile.

A grande diferença é que ele se deslocou por 2.400Km, ida e volta, entre a Estação Patriot Hills e o Pólo Sul em um comboio puxado por um trator polar, recolhendo testemunhos de gelo (colunas de gelo para análise de partículas que servem para pesquisas sobre mudança climática). Na minha opinião é uma diferença qualitativa que o torna o primeiro brasileiro a ter chegado ao pólo, não simplesmente estado lá.

O feito não teve lá muita repercussão na imprensa, infelizmente - pelo menos não a repercussão devida. A presença brasileira na Antártica e as pesquisas no âmbito do Programa Antártico Brasileiro estão muito aquém do potencial. Mais importante, é somente por meio da pesquisa científica que o Brasil tem como participar efetivamente em assuntos antárticos. Os temas discutidos no âmbito do Tratado da Antártica surgem primeiro na comunidade científica. Se não for dado o valor devido ao Programa Antártico Brasileiro ficaremos à margem de questões internacionais importantes que ultrapassam o significado de esta ou aquela pesquisa.

Ciente disso e com olho na divulgação necessária do tema para atrair apoio para a participação do Brasil no Ano Polar Internacional, o Professor Simões colocou no ar um site relatando toda sua expedição, com muitas fotos e vídeos. Não achei a navegação das mais amigáveis, mas está muito interessante. É o embrião de uma possível travessia polar exclusivamente brasileira, o início de uma presença brasileira no continente, além das ilhas da Península Antártica. Vai lá: www.ultimafronteira.com.br.