21 janeiro 2006

Ponto Nemo

Faz pouco tempo, li a respeito de um ponto específico no Pacífico Sul, 47°30' de latitude Sul, 120°00' longitude Oeste, chamado Ponto Nemo. É o lugar mais distante de qualquer pedaço de terra do planeta, alguns milhares de quilômetros entre o Chile, a Nova Zelândia e a Antártica. Nem mesmo uma ilhazinha qualquer por perto.

Quando um navegador solitário passa por lá, está, em tese, mais próximo dos astronautas na Estação Espacial Internacional do que de qualquer outro ser humano. Está totalmente isolado. Isolado, sem ninguém por perto, mas sozinho?

Quando eu saí de casa aos 16 anos para fazer intercâmbio estudantil e me sentia sozinho, encontrava consolo em Amyr Klink atravessando o Atlântico em sua lâmpada flutuante:

Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão. Um estado interior que não depende da distância nem do isolamento, um vazio que invade as pessoas e que a simples companhia ou presença humana não podem preencher, solidão foi a única coisa que eu não senti, depois de partir. Nunca. Em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos de coisas e pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só.
Vou além. Não só Ponto Nemo não é um local solitário, mas justamente por ser tão isolado é um lugar onde se pode encontrar a mais completa liberdade. Explico, com a ajuda de Kerouac e Thoreau.

Kerouac invejava o vagabundo errante, sem vínculos, sem posses materiais, sempre na estrada, mas sem destino definido, vivendo um dia de cada vez. Esse desprendimento seria a forma mais pura de liberdade.

Thoreau fez isso sem precisar sair do lugar, encontrou a liberdade na vida simples, na frugalidade de viver apenas com o que suas próprias mãos produzissem. Dava bom dia para os vizinhos de Walden somente quando lhe desse na telha.

Klink, Kerouac e Thoreau, juntos, são meu ideal de liberdade. Como Thoreau, não dar satisfação a quem quer que seja e depender só de si mesmo. O vagabundo de Kerouac se basta, não precisa de mais ningúem, só precisa da estrada para seguir o caminho que quiser. E, como Klink, não se sentir só na estrada, porque sempre há para quem voltar. Ainda que se esteja no Ponto Nemo.

Dez anos depois de ter saído de casa, cheguei lá, devagarinho. Encontrei meu Ponto Nemo e estou me sentindo ótimo.

2 comentaram:

Lucia Malla disse...

Ponto Nemo, esse eu não conhecia. Interessantíssimo. O Amyr Klink é um grande filósofo da vida. Talvez um dos caras mais inteligentes que o Brasil tem na atualidade, pela sua postura empreendedora e obstinação.

Anônimo disse...

O ponto nemo é laranja com listrinhas brancas?