03 janeiro 2006

De minhas origens 2: Máximas da Velha Bisa

Velha Isabel, minha bisavó. Morreu em junho de 2004 com quase 94 anos, tomava três cervejas por dia até os 90. A longevidade não era explicada só pelo álcool, mas também por uma frase recitada como mantra, um encantamento repetido a cada copo levantado, em cada reunião familiar, em cada aniversário: "De hoje a um ano!!"

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Sobre a perda de sua virgindade, lá quando tinha 15 anos, o que acabou lhe rendendo uma gravidez não planejada que eu viria muitos anos depois chamar de vó. Meu pai, muito filho da puta, se aproveitando de um pileque da Velha Bisa, fazendo perguntas indiscretas:

"Foi com o vô, vó?"
"Foi"
"Onde é que foi, vó?"
"Ora, filho, foi no chão mesmo!"
"No chão, vó ?!"
"É, filho....eu não queria, mas ele pediu com tanto jeito..."

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Perto da morte, a velha internada na Santa Casa, alternando momentos de delírio com lucidez. Doidona, pira com o Lexotan, chama pelos mortos e pelos vivos, diz que vai para a sala "aguar as prantas", xinga as enfermeiras em momentos de filme "O Exorcista". Ao mesmo tempo tem uma pressão 12 por 8 e força suficiente nas pernas para impedir o trabalho da fisioterapeuta.

Há quatro dias sem cagar, a médica receitou um supositório para a velha. Vêm duas enfermeiras, colocam a velha de lado, tiram o fraldão, dobram a perna dela com algum esforço para fazer a introdução, quando diz a Isabel:

"Ô moça, cuidado aí, hein!!"

Versão ampliada de um texto publicado em 04/06/2004 no meu outro, já finado, blog.

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