14 fevereiro 2006

Dia 3. Chegada.

Garota, eu ESTOU na Antártica.
 
A Estação Comandante Ferraz tem, desde esta temporada, uma antena para transmissão em banda larga, o que possibilita ligações para o Brasil, VoIP, e uma rede Wi-Fi que chega até o Ary Rongel quando este está fundeado na Baía do Almirantado, de onde envio estas linhas.
 
Considerando que Punta Arenas é uma cidadezinha no fim do mundo, até que sua segunda feira é bem agitada. Depois do pôr-do-sol às 22h, pub-hopping, pisco-sour e empanaditas. Muitos mochileiros e pesquisadores de programas antárticos pela rua. À tarde, segui as orientações de uma vendedora de souvenirs e fui atrás de um antigo buque inglês que encalhou no (largo) Estreito de Magalhães (dãããã). Acabei indo parar em uma área nada charmosa da cidade, local bem pobre, completamente fora dos mapas turísticos. Peguei um táxi na volta, tarifa fixa 300 pesos. Qual não foi minha surpresa quando o motorista parou em uma esquina para pegar mais passageiros. Aí me dei conta que não tinha visto sequer um ônibus na rua: todo o transporte coletivo em Punta são táxis-lotações.
 
Alvorada às 07h00 para decolar somente às 11h. Dia cheio na Estação Chilena Presidente Frei, três aviões chegando. Duas horas e meia de vôo sobre o oceano austral, pousamos. Insano de vontade de fazer xixi, quase não consigo aproveitar o desembarque (o banheiro químico do Hércules foi desmontado). Muita pedra e muita lama, uma neblina insistente e uma neve fininha (slush, chamavam na DK), daquelas que derretem assim que encostam em algum lugar, só servem para deixar a roupa molhada. Temperatura por volta de 0, sensação térmica puxando para os -10 graus, devido ao vento  (entre 10 e 15 nós) e à névoa. Essas condições perduraram por todo o dia.
 
Fomos até a "praia", vestimos as roupas especiais para transporte aquático (um homem sobrevive até cinco minutos nessa água sem roupas especiais), embarcamos nos zodiacs e seguimos para o Ary Rongel escoltados por duas aves (comodoros, creio. Mas podiam ser marrecos também que eu não saberia dizer) voando bem pertinho, à altura de nossas cabeças.
 
Fomos muito bem recebidos a bordo pelo Comandante Parente e o Imediato Costa Nunes, estou muito bem instalado em um camarote em frente à Praça de Armas (onde os oficiais rancham). O navio joga bastante, mas eu, que enjôo até em rede, estou tranqüilo graças às minhas doses diárias de Vertix. Salve o Ricardo que me apresentou ao Vertix, Dramin nunca mais!
 
O Ary Rongel está equipado com todas as comodidades para longos períodos isolados (ie, TV, DVD, som, etc) e o ambiente é mais informal do que eu imaginava. Vou evitar o clichê "família", mas dá para sentir a camaradagem do pessoal da Operação Antártica, gente que vem para cá ano após ano - o velho e bom conhecido bicho-da-viagem, provavelmente.
 
Nesse exato instante estão terminando o desembarque do pessoal que vai ficar em Ferraz, eu permaneço no navio até a próxima oportunidade de desembarque. Enquanto isso, passo bastante tempo na ponte de comando, onde tem a melhor vista, tirando fotos e babando na geleira, a estação lá longe, 60 containers verdes. A luz está uma bosta e as imagens, idem, mas não consigo deixar de apertar o botão da máquina.
 
Até a próxima.

2 comentaram:

Emerson Novais Lopes disse...

Dá até vontade de parar de fazer um blog! Depois que um amigo posta notícias da Antártida, o que é que nós, pobres mortais, podemos escrever de igual interesse??? Assim é covardia! Parabéns pela conquista, fio, você merece!!!

Anônimo disse...

Caramba, hoje em dia é possível alimentar um blog desde a Antártica! O brave new world! É possível ser um explorador deitado na rede mesmo lá na Punta y más allá... Vai fotografando e poste as fotos, se der!