09 fevereiro 2007

Do papel de inimigos

Eu fico impressionado como há gente que tem necessidade de ver as relações internacionais apenas como um jogo de soma zero. Bando de viúvas da Guerra Fria, precisam justificar suas ações em função da existência de um inimigo...Há dias a imprensa vem batendo o bumbo sobre uma tal parceria estratégica dos EUA com o Brasil no âmbito dos biocombustíveis para conter Chávez.

Claro que "alternativa ao petróleo" é igual a "enfraquecimento de Chávez" que é igual a "Tio Bush fica feliz". Mas há vários milhõe$ de razões para justificar, em termos absolutos, as vantagens, tanto para Brasil como Estados Unidos, de uma cooperação em biocombustíveis. Se somarmos os benefícios ambientais, então, há muito mais. Por que diabos as pessoas insistem em ver nisso uma manobra para confrontar Chávez?? Quisera Chávez ter essa importância toda... Ou talvez seja o pessoal da Carta Comunal que desejaria que Chávez tivesse essa importância toda. On marche et on merde sobre o que Chávez pensa do etanol.

O mesmo ocorre com os que dizem que a integração sul-americana é anti-americana, para fazer o gancho com outro tema aqui da repartição na pauta jornalística. Igualmente babaca é afirmar que a integração é uma forma de resistência ao "império". Seja qual for o viés, essas afirmações são equivalentes a menosprezar a importância de nossos vizinhos, como se não houvesse benefícios concretos suficientes para justificar a integração perante a sociedade. É como se nossas ações não tivessem uma razão de ser em si mesmas.

Que não me venham dizer que esse é um velho dilema das relações internacionais, ganhos absolutos versus ganhos relativos, blablabla. Nosso complexo de inferioridade é assim tão grande que precisamos basear nossa identidade em função de oposições simplistas?

Pensando bem, é uma visão bastante confortável.... Se meus atos são justificados pela oposição a um suposto inimigo, meu inimigo é responsável por meus atos, não eu. Se não posso ser responsabilizado, posso dizer e fazer a bobagem que quiser, porque no fim das contas todo o mal será culpa de meu inimigo. É confortável e ainda tem o bônus de deixar minha consciência completamente limpa - mas em total servidão.

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