23 agosto 2008

Getting by. Momento trilha sonora

What would you think if I sang out of tune
Would you stand up and walk out on me?
Lend me your ears and I'll sing you a song
And I'll try not to sing out of key
Oh I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends

What do I do when my love is away?
(Does it worry you to be alone?)
How do I feel by the end of the day?
(Are you sad because you're on your own?)
No I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends

(obrigado, crianças)

18 agosto 2008

Luto

O Gordo morreu no último sábado. Uma insólita parada cardíaca durante um exame veterinário de rotina, aparentemente causada por stress (e predisposição da raça). Tinha três anos.

Sinto culpa. Sinto ausência.

01 agosto 2008

De Buenos Aires a Rio Grande

A foto do post anterior foi tirada com meu celular pouco antes de partir de Buenos Aires em uma das "clínicas oceánicas" de Ernesto Saikin, uma espécie de versão individual argentina da Família Schürmann - após diagnosticado com duas úlceras por stress, largou seus três empregos e passou a viver em um veleiro, o New Life, e saiu viajando por 7 anos. De volta, vive hoje no "New Life continúa", um Pandora 36 reforçado, escrevendo, organizando travessias e viagens charter em Angra. Mais ou menos o que quero ser quando crescer.

Sete pessoas, eu inclusive, acharam que não tinham nada melhor para fazer neste inverno do que compor a tripulação de uma dessas travessias, uma oportunidade para aprender mais sobre vela, navegação noturna, manejar o GPS (aparelhinho maravilhoso que "te deixa burro, muito burro demais") e adquirir experiência. Foram excelentes companheiros de viagem e fico feliz de poder dizer que, depois de passar uma semana com eles trancado em um espaço pequeno, confinado, sem banhos regulares (só em porto), por incrível que pareça, nos fizemos amigos.

A travessia foi intensa, mas não foi particularmente divertida, foi MUITO incômoda. O que complicou nossa vida foi que todo o caminho foi feito com vento contrário - o que contradisse a meteorologia, à qual o capitão se aferrou com fé para não mudar o curso programado. Isso nos obrigou a seguir com motor quase todo o tempo, mesmo quando podíamos abrir as velas, quando o indicado seria fazer um bordo bem largo, afastando-se da costa, o que teria atrasado nossa chegada, mas teria feito a viagem mais cômoda. Com velas, o barco balança, mas é mais estável, com motor ele avança, mas joga mais: nunca achei que podia vomitar tanto.

Só de pensar em sair do cockpit e entrar na cabine já me embrulhava o estômago, chega um ponto em que é um alívio a chegada do Raul. Você acaba desenvolvendo métodos para ficar em bons termos com ele, como um tripulante a mais, a minha revelou ser assobiar, uma espécia de técnica de respiração não yogue.

No total foram 5 dias de travessia, com uma escala em Punta del Este de dia e meio. Ao longo do caminho, nos fizeram companhia albatrozes (los cejas negras), petréis, gaivotas, pen duicks, toninhas, um ou outro pingüim perdido e lobos marinhos, inclusive os preguiçosos e mendicantes lobos de Punta, que aguardam pacientemente os restos dos peixes que são limpos no cais.

E estrelas. Nunca pensei que existissem tantas estrelas. Navegar de noite é maravilhoso, usar as estrelas não exige nenhum conhecimento astronômico: apega-se a uma ou umas poucas como ponto de referência e de quando em vez se corrige o rumo pela bússola ou o GPS. Quando foi a última vez que você ficou horas olhando para as estrelas?

Depois da escala em Punta, pegamos mal tempo justo nos bancos da costa do Rio Grande do Sul - um trecho bem perigoso, a baixa profundidade aumenta as ondas. Chegamos a ficar sem o piloto automático (que nos ajudava a manter o curso) devido a um pico na rede elétrica causado por uma ida inoportuna ao banheiro. Abusaram dele e o motor falhou por preocupantes minutos - confesso que, de meu molhado beliche, cheguei a sentir alívio por deixar de ouvir o motor, mas aquele não era o momento, não tão perto dos bancos da costa.

Chovia MUITO, o mal tempo começou justo na minha guarda noturna e reduzir velas foi difícil - desenvolvi a capacidade de girar a catraca enquanto vomitava. Quem disse que conseguia dormir depois de terminada a guarda? Preferi ficar no cockpit, procurando luzes que indicassem a proximidade de outras embarcações. Quando pude dormir, completamente encharcado, após ter limpado o estômago por uma última vez, me sentia dentro de uma coqueteleira: o barco jogava muito, fiquei praticamente 2 dias inteiros sem conseguir manter nada dentro do estômago.

Não exageremos, não foi uma situação onde se podia temer por nossa vida, o barco e a tripulação se portaram muito bem. Mas foi o momento em que eu pensei que carajo estoy haciendo acá!?. Tecnicamente, não chegou a ser uma tempestade, foi mais a rebarba de uma frente fria - na Escala Beaufort, que chega até 12, foi um vento de força 4-5, ventos de 30 nós, ondas de até 2 metros. Suficiente para atestar a frase de minha bisavó "com o mar não se brinca".

Foi duro. Ao mesmo tempo, foi de uma beleza espetacular. Com os olhos acostumados à escuridão, os raios nos cegavam completamente por longos segundos. A fosforecência varria o convés, a espuma das ondas era de um branco que chegava a brilhar, tinha um aspecto fantasmagórico que era bonito, apesar de aterrador.

Há experiências que são melhores lembradas do que vividas, esta foi certamente uma delas, o engraçado de atividades como a vela é que, por pior que sejam, você está pronto para repetir, tão logo o corpo descansou. Mais uma dose, é claro que estou afim...por que a gente é assim?
***

Chegamos no dia seguinte pela tarde, com bastante alívio, ao porto de Rio Grande (onde eu vi a P53, um monstro impressionante que quase me faz acreditar que o "a gente" na propaganda da Petrobrás me inclui), amarramos ao cais do Museu Oceanográfico da FURG, um agradável ancoradouro, na Lagoa dos Patos.

E agora estou em Porto Alegre, assobiando...

No sé si la luna está sobre Porto Alegre
O si Porto Alegre está sobre la luna
Nunca estuve tan perdido en mi vida
Y así me gusta, me gusta así.

No sé si habrá un amor en cada puerto
O un puerto en cada uno de mis amores
Donde anclar un pobre barco, casi hundido
Y así nos gusta, nos gusta así.

No sé si la luna esta sobre Porto Alegre
O si están al lado, una de la otra
Hoy un sentimiento extraño me provoca
Tenerte cerca, lejos de mí.