28 janeiro 2006

Suuusssééçú - "me exclua tb, e adicione ele"

Dica antiga do Cid (via Blue Bus) que só tive oportunidade de ouvir agora. De mijar de rir, em breve nas paradas de sucesso.

Se você, como eu, faz questão de não entrar no Orkut, esta musiquinha vai servir como a justificativa definitiva.

Clique aqui e aumente o volume.

UPDATE 01/02: Ontem uma matéria sobre essa música fechou o jornal da Ana Paula Padrão. O autor é um pós-adolescente de Curitiba, com um tosco estúdio em casa. Fiquei decepcionado ao verificar que a música não surgiu espontaneamente de um momento de "dor-de-cotovelo-vou-me-vingar-dessa-vadia", mas deliberadamente para promover a carreira proto-sertaneja do rapaz. Não se pode confiar mais em ninguém mesmo...

27 janeiro 2006

Auditoria

Opa, opa, em algum momento nessa noite o hit-counter bateu nos 3.000 - e olha que baixei um cookie para que minhas próprias visitas sejam ignoradas.

Pago uma cerveja para meu 3.000° leitor. Se for leitora, pago o café da manhã... Veja aqui se foi você e se identifique na caixa de comentários.

Isso significa que minha meia dúzia de leitores passou por aqui 500 vezes cada um desde novembro de 2004, uma vez a cada dois dias mais ou menos - povo desocupado....

26 janeiro 2006

Valor de mercado

Em determinada época da puberdade santista, a diversão é passear na zona com os primos mais velhos que acabaram de tirar carta. Isso mesmo, passear na zona, a ZBN (Zona de Baixo Meretrício), no porto...."pá vê as tia". Só ver mesmo, porque nesse momento da puberdade a mesada não dá nem para pagar um cafuné...

"Aê, tia, quanto é o programa?"
"É cinqüenta, querido..."
"CINQÜENTA !?! ....tá caro, tia!"
"Vai passear, moleque...."
"Tá caro, tia!"
"Cinqüenta."
"E por cinco.....o que que você faz?"
"Enfio um dedo no seu CU."
"Pô, tia.... e por dez?"
"Enfio dois!"

25 janeiro 2006

Como é que pode?!?!?

Mãe, se você tivesse me ensinado assim, talvez meu armário fosse tão organizado quanto você gostaria...

(via De Gustibus)

23 janeiro 2006

A Concepção II

Eu vi, eu vi!! Eu vi Rosanne Holland em uma pizzaria da Asa Norte ontem, como se mera mortal fosse!

Que puxa!

...suspiro...

(pra entender este post você tem que ler esse aqui)

21 janeiro 2006

Ponto Nemo

Faz pouco tempo, li a respeito de um ponto específico no Pacífico Sul, 47°30' de latitude Sul, 120°00' longitude Oeste, chamado Ponto Nemo. É o lugar mais distante de qualquer pedaço de terra do planeta, alguns milhares de quilômetros entre o Chile, a Nova Zelândia e a Antártica. Nem mesmo uma ilhazinha qualquer por perto.

Quando um navegador solitário passa por lá, está, em tese, mais próximo dos astronautas na Estação Espacial Internacional do que de qualquer outro ser humano. Está totalmente isolado. Isolado, sem ninguém por perto, mas sozinho?

Quando eu saí de casa aos 16 anos para fazer intercâmbio estudantil e me sentia sozinho, encontrava consolo em Amyr Klink atravessando o Atlântico em sua lâmpada flutuante:

Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão. Um estado interior que não depende da distância nem do isolamento, um vazio que invade as pessoas e que a simples companhia ou presença humana não podem preencher, solidão foi a única coisa que eu não senti, depois de partir. Nunca. Em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos de coisas e pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só.
Vou além. Não só Ponto Nemo não é um local solitário, mas justamente por ser tão isolado é um lugar onde se pode encontrar a mais completa liberdade. Explico, com a ajuda de Kerouac e Thoreau.

Kerouac invejava o vagabundo errante, sem vínculos, sem posses materiais, sempre na estrada, mas sem destino definido, vivendo um dia de cada vez. Esse desprendimento seria a forma mais pura de liberdade.

Thoreau fez isso sem precisar sair do lugar, encontrou a liberdade na vida simples, na frugalidade de viver apenas com o que suas próprias mãos produzissem. Dava bom dia para os vizinhos de Walden somente quando lhe desse na telha.

Klink, Kerouac e Thoreau, juntos, são meu ideal de liberdade. Como Thoreau, não dar satisfação a quem quer que seja e depender só de si mesmo. O vagabundo de Kerouac se basta, não precisa de mais ningúem, só precisa da estrada para seguir o caminho que quiser. E, como Klink, não se sentir só na estrada, porque sempre há para quem voltar. Ainda que se esteja no Ponto Nemo.

Dez anos depois de ter saído de casa, cheguei lá, devagarinho. Encontrei meu Ponto Nemo e estou me sentindo ótimo.

20 janeiro 2006

Porque hoje é sexta-feira....










Laerte, não me processe...

Lost in translation (outra de alemão)

(leia em voz alta, caprichando no sotaque, facilita)

Meu velho tem um amigo alemão que veio para o Brasil ainda adolescente, deixou a família para trás em um país em reconstrução, pagou a passagem lavando o convés do navio e veio fazer a América sem um puto no bolso e sem falar português. Veio, viu e venceu. Mas no caminho até o terceiro "v" deixou algumas histórias hilárias que são relembradas freqüentemente por meu velho para requentar conversas etílicas.

Reza a lenda que, preso no buraco negro burocrático ao chegar no Brasil, teve logo sua primeira lição de português provida pelos funcionários da seqüência de guichês pelos quais teve que peregrinar. - "Aasbf'lo soe? Nooe ah ki, eh ali!" - "???" - "Ali" - "Peotahuie, 'leienuuetls ali!". Lá pelo quinto guichê ele deduziu o significado de "ali": o balcão seguinte, o próximo barnabé, a esperança de atendimento.

O português ainda prega peças no amigo germânico de meu velho, que faz questão de manter o sotaque, tão forte que é quase caricato - eu sempre suspeitei que ele fala um português castiço, mas mantém "aquéia sutaqui rastada e fohte" de propósito...

Quando a inflação brasileira fazia com que o dinheiro na carteira fosse roído mais rapidamente do que as traças conseguiriam e o cheque e a correção monetária eram as únicas armas da classe média na labuta diária para manutenção de seu padrão de vida, o alemão amigo do meu velho extraviou seu talão de cheques, o que, em uma época pré-automação bancária, era algo que dava muita dor de cabeça.

Chega o alemão na boca do caixa. "Pô favô, eu pê'di minha cheque". "Pois não, senhor. Quando o senhor pediu seu cheque?". "Foi no cua'ta-fêra". "Um momento que vou consultar o cadastro". Uma consulta rápida a uma gaveta fichário depois. "Perdão, senhor. Aqui consta que o senhor pediu seu cheque na sexta-feira". "Non, non....foi no cua'ta-fêra". "Há algum engano, senhor. Aqui diz que foi na sexta-feira". "O senhôrra qué sabê mais du que eu?!? FOI NO CUA'TA-FÊRA!!!!". "Não, senhor, foi na sexta-feira. O senhor recebeu seu talão de cheques?". "Pôta méda, má é clarro que ricibi". "Recebeu?".

"É clarro que ricibi, carraio, SENON NON TINHA PE'DIDO!!"

18 janeiro 2006

Diálogo regionalista

Adoro regionalismos.....participei do seguinte diálogo recentemente:

- Ô! Então...aí eu fui lá pro bar e encontrei meu gado ...
- Seu gado?!?
- É, meu gadin' ...
- Gadin' ... ?
- É, coiso....É assim que o pessoal chama as meninas com quem tá de rolo lá em Goiânia...
- Gadin' ?!?!
- É, uai....chamar de vaca seria muito grosseiro....

17 janeiro 2006

La Marche de l'empereur (continued)

Continuação de post anterior

Assisti a versão dublada em português (a única sessão então começando). Antônio Fagundes e Patrícia Pillar até passam, afinal de contas, fazer a voz de pingüins não apresenta os problemas típicos da dublagem, como mexer os lábios sem emitir sons ou acabar com a "interpretação" dos bichinhos. Agora, quando entra o filhote em cena na voz do tal Matheus Perissé, com aquela voz-esganiçada-de-pré-adolescente-da-Zona-Sul-iniciando-a-puberdade ... putz, irritante...
Eu tava vendo a hora chegar do pingüim dizer "óôauêaí ó, xou um pingüinzinho ixperrrrto" ou começar a cantar uma música do DVD da Xuxa...

O recurso de utilizar diálogos entre os "protagonistas" ao invés de uma narração em off é interessante e, como já apontaram em outro lugar, tem aquele didatismo que só é possível quando não se sabe que se está aprendendo, o que tira o peso da categoria documentário. Mas a verdade é que achei alguns trechos bem piegas....talvez reflexo da tradução do francês ? A conferir a versão original. Me pergunto se o mesmo ocorre na voz sóbria do Morgan Freeman, mas aí só comprando o DVD.

Seja como for, é filme para se ver até sem som. Escolham uma sala com a tela bem grande, repito. As imagens são lindas, fantásticas...pode reparar quando você for ao cinema, de tanto em tanto você ouve um "Ooohhh!" em algum canto da sala. Os olhos da geração acostumada a filmes cujos cenários são quase exclusivamente feitos em computação gráfica podem legitimamente duvidar da veracidade daquelas paisagens fantasmagóricas do deserto de gelo que é a Antártica.

A pergunta feita no post anterior, por que c@&#$%* abandonaram o título original??, foi respondida neste artigo da Folha: o trailer chegou a anunciar A Marcha do Imperador, mas "os distribuidores mudaram o nome para facilitar a compreensão pelo público". Isso que é subestimar a platéia....um cartaz escrito "A Marcha do Imperador" com um pingüim bem visível, maior do que os do rótulo da cerveja...hmmmm...será que é um filme de guerra?

Libelo conservador

O filme chamou atenção da mídia também porque teria se tornado uma espécie de "libelo conservador", exaltando valores familiares, a fidelidade, a monogamia, o triunfo do amor e da vida sobre todas as adversidades....alguns até mesmo alegaram que seria evidência da chamada Teoria do Design Inteligente (já falei sobre isso antes).

Cada um, realmente, vê o que quer...pombas, são pingüins!!! No grande esquema das coisas, não são lá muito diferentes de galinhas....não é porque, ao contrário das galinhas, são fofinhos e parecem um tiozinho baixinho vestindo casaca e andando engraçado que você pode sair por aí fazendo analogias com seres humanos! Mesmo que você insista em atribuir valores humanos aos bichinhos, por que é que o comportamento deles deveria ser qualquer parâmetro para o nosso?! Como disse um amigo meu, você acha que o pingüim teve alguma escolha?

Agora, achar que o Pingüim Imperador é evidência do tal Design Inteligente é realmente engraçado. Vejamos. O bicho é de uma perfeição hidrodinâmica inversamente proporcional à sua capacidade de locomoção terrestre. Em determinada época do ano, marcha por vários quilômetros andando como um bêbado ou escorregando de barriga só para dar uma trepada. Ao contrário de todas, todas mesmo, as espécies de aves e mamíferos antárticos, fica por lá no inverno (deve gostar do escurinho) - o que não se faz por sexo....Aí a fêmea bota um ovo, passa o pacote para o macho e volta para a água para comer. O macho fica lá, com o ovo entre as pernas. Mas como as pernas são curtinhas, para evitar o contato do ovo com o chão congelado, o pingüim fica literalmente com a cloaca no gelo esperando o filhote nascer, até que a fêmea volta e dá uma golfadinha para alimentar o bichinho. A partir daí eles se revezam, marchando, pescando e esquentando o filhote, até que ele se torne grande o suficiente para se virar. Quando crescer, ao invés de pegar uma corrente marítima qualquer e ir parar em Ipanema, o pingüinzinho repetirá o ciclo.

Sério, o que há de inteligente nisso? Isso é qualquer coisa, menos inteligente. O ser superior responsável pelo design do Pingüim Imperador certamente andou matando algumas aulas. Ou, vai ver, Deus é realmente um cara muito sacana, de todas as espécies do planeta, ele escolheu se divertir às custas do coitado do Pingüim Imperador (dele e do Ornitorrinco).

É isso, vou criar a Teoria do Design Sacana e iniciar um movimento para que todas as crianças do Brasil aprendam que há alguém lá fora cujo único propósito é sacanear a gente (se bem que acho que os professores pseudo-marxistas de minha juventude já faziam isso...).

13 janeiro 2006

La Marche de l'empereur

We must admire them: if only because they are much nicer than ourselves!
Apsley Cherry-Garrard, sobre pingüins,
em The worst journey in the world


Estréia A Marcha dos Pingüins, de Luc Jacquet, o documentário mais visto nos EUA desde Fahrenhei 9/11, que incidentalmente é também o filme francês mais visto no mercado norte-americano da história, ultrapassando Amelie Poulin e O Quinto Elemento.

(Não consigo deixar de dizer esse último detalhe com um sorriso sacana nos lábios, pensando em Goudard & Cia.)

A Marcha... foi um desses fenômenos estranhos que acontecem no cinema de vez em quando, um filme conseguir grande bilheteria só na base do boca-a-boca, para surpresa de todos, inclusive o diretor e os produtores. Acompanho notícias sobre a Antártica no Google News e a película monopolizou meu leitor de RSS no ano que passou. Há quem considere mais do que um excelente documentário sobre vida animal, seria um conto sobre perseverança, valores familiares, etc. Tem quem diga que de documentário não tem nada e que tornar os pingüins antropoformes (dá-lhe, Houaiss!) é só pieguice... A ver. Eu assistiria por dever do ofício, considerando a divisão onde trabalho e minha obsessão antártica, mas estou sinceramente ansioso para ir ao cinema - as imagens do trailer são realmente breathtaking, escolham uma tela grande.

Na carona do sucesso no mercado norte-americano (provavelmente nem teria sido lançado aqui se não fosse por isso), a distribuidora fez uma campanha respeitável para o lançamento mundial, estréia em grande circuito hoje (já passou no FIC Brasília 2005, mas eu perdi) e já há versão ilustrada nas livrarias.

Mas o fato de estar sendo lançado no Brasil a partir da versão americana e não do original francês deu origem a um pequeno detalhe que eu achei desrespeitoso ao espectador. Por que c@&#$%* abandonaram o título original, A Marcha do Imperador ?? Convenhamos, é infinitamente melhor do que ...dos Pingüins. O que só confirma a tese de que os funcionários que traduzem os títulos dos filmes (ou pior, incluem aqueles subtítulos ridículos e desnecessários) são uns idiotas.

Aproveitem que Brasília é dos únicos lugares que exibem a versão legendada, ao invés da dublagem de Antônio Fagundes e Patrícia Pillar. Resta saber se legendaram a versão em inglês, dublada por Morgan Freeman, ao invés da original em francês, com um tal Charles Berling...

Stay tuned, voltarei a este post depois de ver o filme.

PS: Sim, haverá sessão conjunta seguida de uma derrubada de pingüins no Bar Brasília em data e horário a serem oportunamente agendados.

11 janeiro 2006

Família....família....cachorro, gato, galinha...

Minha "buffer zone" de 1.000 Km de distância do parente mais próximo está desativada. Meus velhos estão em BSB. Há menos de 24h, mas já estão me deixando doido, revirando o apartamento todo, jogando tralhas fora sem me perguntar, "arrumando" minhas coisas, querendo "arrumar" minha vida.

Confesso, irei explorar a mão de obra paterna para dar uma ajeitada no apê e matar saudades da comidinha da mamãe, mas não seria talvez a insanidade um preço alto demais a pagar por isso?

***

Não me vejo fazendo esse tipo de coisa, usar alguns dias de férias trancado "arrumando" o apartamento de outra pessoa e gostando de tudo (!!), ainda mais se o apartamento for em Brasília (BSB é ótima para se viver, mas não serve para passar férias). Nem pagando.

Cada demonstração abnegada de carinho e dedicação dessas que meus velhos fazem só me convence mais de que não quero ter filhos. Estou certo de que não conseguiria fazer a mesma coisa por outra pessoa, mesmo que ela compartilhe metade dos meus cromossomos.

É...acho bom meus velhos fazerem pressão no meu irmão. Ou se apegarem bem a meu cachorro para direcionar o instinto paternal/maternal que iria para os netos. Estou considerando seriamente a possibilidade de investir em uma vasectomia.

PS: É, é egoísmo mesmo, e daí?! Get that judgmental face off my blog...

06 janeiro 2006

De minhas origens 4: O Efeito Borboleta

Eu gosto da idéia de que estou no controle de meu destino. Não que eu possa fazer qualquer coisa ou mesmo tudo que eu quero, há muito mais no mundo que foge completamente a meu controle, mas gosto da idéia de que o que sou é conseqüência de minhas próprias escolhas, para o bem ou para o mal, e que, portanto, em última instância sou o único responsável por onde e como me encontro. Livre-arbítrio é isso aí, uma responsabilidade da porra...

Mas de vez em quando eu tenho que me render a evidências de que talvez a parcela de minha vida sob meu controle seja muito, muito, muito pequena para fazer qualquer diferença. Fatos importantes têm uma causa última em eventos muito, muito, muito remotos e aparentemente inocentes, dos quais ninguém jamais poderia inferir suas conseqüências no longo prazo. Como a historinha da Teoria do Caos, uma borboleta bate as asas aqui e chove em Pequim. A idéia de conseguir ver essas relações de causalidade se aproxima da onisciência, o que em última instância seria paralisante - imagine se você pudesse calcular absolutamente todas as conseqüências de cada um de seus atos, você os cometeria mesmo assim? Seja lá qual for sua resposta, conseguiria dormir de noite?

Por exemplo, a profissão que exerço é resultado da faculdade que cursei. Nem todo mundo que cursou essa faculdade fez a mesma escolha profissional, mas há uma relação direta entre minha graduação e o concurso que prestei. Essas decisões determinam o fato de eu morar em Brasília e determinarão os lugares onde viverei no futuro próximo. Tomei essas decisões consciente de tais, e outras, conseqüências, mas sei que seria um ser completamente diferente se tivesse permanecido em Santos, por exemplo. Provavelmente feliz, mas totalmente ignorante de meu alter-ego candango, da mesma forma que não consigo imaginar como seria hoje meu alter-ego santista.

Porém, essas escolhas acabaram também por determinar uma parcela considerável de meu círculo de amigos, relacionamentos pessoais e profissionais, enfim, se eu não tivesse escolhido a faculdade e a profissão que escolhi, hoje eu estaria falando, saindo, beijando, bebendo e comendo com outras pessoas. De repente, todo meu destino, cada momento do meu dia-a-dia, é resultado de uma tarde preguiçosa e indecisa lendo o Guia do Estudante.

Mas podemos ir mais longe.

A escolha daquela faculdade em particular somente tornou-se uma possibilidade real porque eu tinha domínio de uma língua estrangeira - a esmagadora maioria da bibliografia do curso era, ainda é, em inglês. Comecei a aprender inglês, no Pink&Blue, antes mesmo deste tornar-se Freedom, na mesma época em que fui alfabetizado (fui alfabetizado duas vezes, nas duas línguas, na verdade).

Tanta precocidade, obviamente, não foi escolha minha, foi decisão de meu velho. Uma parcela considerável de meu destino, portanto, é resultado do dia em que meu velho pegou seu filho remelento no colo e disse para ele "Amanhã, você vai começar a aprender inglês" - eu provavelmente sequer tinha consciência da existência de outras línguas - "Por que, papai?" - "Porque é importante, filho".

Vamos levar esse raciocínio às causas últimas.

O que eu só vim a saber muito tempo depois é que eu não fui colocado em uma escola de inglês "porque é importante". A grande frustração da vida de meu velho é o fato de que ele não fala outra língua - fui levado a aprender inglês a fim de sanar um pouco essa frustração. Pais fazem isso, projetam nos filhos suas falhas e frustrações e tentam criá-los de forma que não as repitam - quase sempre dá errado, mas pais fazem isso.

E a frustração de meu pai decorre de um único evento que se passou no Guarujá.

Meu tio foi o primeiro membro da família a viajar para o exterior. Arranhava o alemão e foi mandado pela empresa para a Deutschlândia. No vôo de volta, sentou-se ao lado de uma jovem alemã que vinha para o Brasil sozinha morar com uns parentes e não sabia absolutamente nada de português. Essa menina se perdeu no aeroporto e, solidário, meu tio a ajudou a achar seus familiares, que ficaram extremamente gratos. A demonstração dessa gratidão veio em um convite para passar um dia na casa de veraneio da família alemã, no Guarujá.

O Guarujá então era o balneário da elite paulista, a patuléia se banhava em Santos. Hoje a elite seguiu para o Litoral Norte, Guarujá é sinônimo de farofada e ninguém tem coragem de se banhar em Santos.

Meu tio chamou meu velho, que tinha carro. Pegaram o fusquinha (cuja buzina soava como "Acorda, Maria Bonita") com suas então respectivas namoradas, ambas filhas do Seu Américo, e tocaram para o Guarujá. Estacionaram debaixo de um Chapéu de Sol, bem longe da enorme e intimidadora casa dos alemães, que tinha de tudo: churrasqueira, piscina, mais quartos do que meu velho podia contar, e até mesmo um campinho de futebol.

Tava a alemãozada toda lá, inclusive a menina perdida. Os alemães foram muito gentis, receberam muito bem os quatro. A conversa rolava animada, com um único porém: meu tio era o único que falava alemão.

"Wie geht's?"
"Mir geht's gut, danke sehr! Das buch ist auf der Tisch!"
"Ach so!"


E meu velho foi se sentindo pequenininho, com uma pontinha de vergonha de não poder participar da conversa, ainda que nunca tivesse tido oportunidade de aprender uma língua estrangeira. Então, a pontinha de vergonha virou humilhação quando o patriarca alemão disse com pouco sotaque:

"Que falta de educação, estamos aqui falando alemão, vocês não falam alemão...desculpem-nos... Vamos falar inglês, assim todo mundo entende"

Meu velho se sentiu um merda. Queria enfiar a cabeça na areia, pensou em se jogar na piscina, saiu de perto da alemãozada, tirou suas sandálias Havaianas e foi bater bola sozinho no campinho. Poucas embaixadinhas depois, para tornar o cenário ainda mais ridículo e humilhante, o velho pisou em um enorme monte de bosta dos rottweilers que cuidavam da segurança do patrimônio teutônico. Foi a gota, ele se mandou, puto da vida, ofendido com a humilhação que ele mesmo, sem querer, se impôs.

Naquele dia, embaixo de um Chapéu de Sol no Guarujá, cujas folhas mais macias foram usadas para tirar os últimos resquícios de cocô de cachorro de entre seus dedos, meu velho fez um juramento solene ao crepúsculo. Ainda que fosse tarde demais para ele, jamais seus filhos passariam por isso. Não, seus filhos seriam poliglotas, aprenderiam inglês, conquistariam o mundo depois, e nunca, nunca teriam que se preocupar com merda de rottweiler entre seus dedos.

Meu destino foi selado naquele fim de tarde. O Efeito Borboleta. Tudo que sou, cada instante de meu cotidiano hoje é, de certa forma, conseqüência daquele instante, fruto do fato de meu pai ter pisado na merda. Sou resultado de um monte de bosta.

05 janeiro 2006

A tira mais triste da história

Com meu Calvin & Hobbes completo a caminho da Amazon pelo correio, eu quase chorei ao ler essa tirinha aqui....

Que felizmente é apócrifa, uma homenagem até respeitosa dependendo do ponto de vista. Se você não quiser desembolsar 250 pilas para ter todo o Calvin, visite:

Depósito do Calvin

PS 07/01
: Chegou ontem The Complete Calvin & Hobbes. Vale cada centavo. A edição é fantástica, o acabamento é maravilhoso, muito melhor do que eu tinha imaginado. Para ler de joelhos.

04 janeiro 2006

Fenômenos da Internet II

Essa piada de loira está circulando a rede de forma espantosa. É das coisas mais engraçadas que já vi, podia ser uma loira portuguesa. Vai lá.

Você entende a piada rapidinho, não acha graça, mas depois fica viciado, querendo saber até onde vai, como se achasse a ponta de um novelo e seguisse o fio só para ver onde vai dar. "Is it worse to not figure it out or figure it out right away...and keep going anyway?". De blog em blog cheguei até um post de julho de 2003 e a piada começou a fazer círculos, aí eu parei para trabalhar. Se blogueiros desocupados como eu continuarem a se linkar dessa forma, a coisa pode tomar proporções épicas, uma comprovação da interconectividade que a internet gera, a prova da teoria dos seis graus de separação. Não é engraçado de fazer rir, é de certa forma até assustador.

Fenômenos da Internet I

Você visita o site e se pergunta: porque é que EU fui para a universidade e nunca pensei nisso antes ??!!

Não deixe de visitar o FAQ para entender a iniciativa. Mais do que genial, é única: quem quer que tente copiá-lo não terá o mesmo sucesso porque a graça do negócio está em sua originalidade. Esse cara é um gênio, a universidade certamente vai emburrecer o menino, ele tem muito mais a ganhar fora dela...

PS: Me ocorreu algo que pode ser ainda perversamente melhor. E se for tudo um hoax bem elaborado? Quer dizer, e se ele não vendeu todos aqueles blocos de pixels para publicidade?? Note que muitos anúncios são do tipo de empresa que normalmente faz publicidade via spam, quão difícil seria forjar um anúncio desses? Quão difícil seria forjar os pageviews dele? E se foi tudo calculado e forjado para chamar atenção do público e, principalmente, da mídia para o "último" e derradeiro bloco de pixels, que ele agora colocou à leilão no E-bay, ultrapassando já os US$ 32.300,00 ?!? Ele já foi entrevistado pela BBC, pela CNN, entre muitos outros e talvez anunciar naquele último pedacinho da página realmente valha a pena com tanta repercussão. Podemos estar diante de uma das melhores jogadas de marketing da história...

UPDATE 06/01: O leilão já passou os US$ 150.000,00 !!

De minhas origens 3: A Fábula de Bibiano

O grande divisor intergerações de Santos foi o bonde. Existem duas faixas etárias na cidade: os que viveram a época dos bondes, os que não viveram a época dos bondes. "Da época do bonde", é uma expressão que divide a cidade em duas.

Santos chegou a ter uma das melhores malhas metropolitanas do Brasil, administrada por uma empresa inglesa, como muitos outros serviços públicos o eram na época. Elétricos, em carros de madeira invariavelmente conduzidos por imigrantes portugueses de quepe e farda cáqui, fechados ou abertos, os bondes circularam até os anos 60, quando foram substituídos por pouco charmosos ônibus a diesel.

Hoje existe apenas uma linha turística, (re)inaugurada faz poucos anos, mas até minha infância ainda era necessário tomar cuidado com os trilhos do bonde ao atravessar a rua, mesmo que tivessem já sido praticamente engolidos pela camada de asfalto sobre os antigos paralelepípedos. Creio que nos anos 80 circulou uma linha turística na avenida da praia, mas isso pode ser efeito da memória coletiva da cidade nas lembranças de minha infância.

Algumas das melhores histórias da cidade são da geração do bonde e têm os veículos como cenário. Meu velho até hoje recita sem dificuldades o versinho que havia em uma propaganda da época, onde se via uma garbosa loira em um escandaloso biquíni; que deve ter sido farto material para as fantasias de sua puberdade, mas que hoje provavelmente só faria rir.

"Veja ilustre passageiro/o belo tipo faceiro/que o senhor tem a seu lado/e no entanto, acredite,/quase morreu de bronquite/salvou-o o Rhum Creosotado!"

Meu velho era esperto, malandro que só. Quando voltava da escola, viajava no estribo (i.e., o apoio lateral do carro), enganava o cobrador português, e com isso economizava o dinheiro exato para comer um pastel na esquina de casa. Até o dia que sua madrinha subiu no mesmo bonde. "Bença, madrinha". "Deus te abençoe, meu filho". O português dedurou meu velho. "Aquél' muleque é seu 'filhado? Poish él' anda a viajar no shtribo!!".

Naquela noite houve surra. Meu avô bateu de ripa de cerca em meu velho, que estava se arrumando para uma festa da escola e vestia o "uniforme de gala". Antes mesmo de apanhar, só de ouvir meu avô gritar por ele, meu velho já tinha se mijado todo e arruinado a fardinha ridícula que tinha que usar nos eventos oficiais do colégio. Depois da surra meu avô mandou meu velho se limpar e ainda o obrigou a ir na festa. Pelo menos, conta meu velho, ele então tinha assunto para iniciar conversa com as meninas...

Mas a melhor do bonde não é do meu velho, é do velho do meu tio, o Seu Bibiano. Seu Bibiano morava no morro do São Bento, onde também viviam muitas lavadeiras que faziam serviço para senhoras da sociedade santista. Seu Bibiano conta que o bonde que pegava de casa para o trabalho ia cheio de lavadeiras a entregar o serviço para a clientela. Iam elas, gorduchas, bochechudas, alegres, lenços nas cabeças em que apoiavam enormes trouxas de roupas. O carro ia perfumado de sabão de coco, alegre com o murmurejo das lavadeiras, uma espécie de coro involuntário que tornava o caminho para o trabalho mais aprazível.

Certa feita, o bonde já partia quando surgiu do outro lado da rua uma lavadeira em frenética carreira para alcançar a condução. Uma senhora gorducha corria com tamancos de madeira em uma rua de paralelepípedos enquanto equilibrava uma trouxa de roupas na cabeça, uma mão segurando a trouxa, a outra levantando o vestido. O plóc-plóc-plóc das tamancas chamou a atenção de todos os passageiros. O bonde começava a andar e a lavadeira acompanhava pelo lado esquerdo, o lado do trânsito : não podia entrar devido a uma cancela de madeira que ficava abaixada do lado do trânsito, centralizava a saída pelo lado da calçada, o que evitava a evasão de divisas. Para revolta geral, o cobrador não levantou a cancela e ordenou a lavadeira a dar a volta, o que ela fez com alguns plóc-plócs a mais, apesar de quase ter perdido uma tamanca subindo no bonde em movimento.

Algumas paradas depois, a cena se repete. O bonde se põe a caminho quando uma passageira surge em frenética carreira com o objetivo de alcançar a condução, também pelo lado do trânsito, impedido pela cancela de madeira. Porém, dessa vez, trata-se do som de saltos altos, pléc-pléc-pléc, mais agudos porque a amplitude dos movimentos das pernas era limitada por uma saia justa, o que aumentava a freqüência dos pléc-pléc-plécs. Preenchendo a saia, uma fornida e faceira moça, de cintura fina e ancas largas, daquelas que poderiam figurar em um reclame do Rhum Creosotado. Porém, dessa vez, o cobrador não só se dispõe a levantar a cancela de madeira, como também estende a mão para a moça e a auxilia a entrar no bonde...

Nem La Fontaine surgiria com uma frase que resumisse melhor a moral dessa história, mas Seu Bibiano jura que ouviu: "É...p'ra ela que é nova, levantas o pau!"

Reedição de um texto publicado em 04/06/2004 no meu outro, já finado, blog.

03 janeiro 2006

De minhas origens 2: Máximas da Velha Bisa

Velha Isabel, minha bisavó. Morreu em junho de 2004 com quase 94 anos, tomava três cervejas por dia até os 90. A longevidade não era explicada só pelo álcool, mas também por uma frase recitada como mantra, um encantamento repetido a cada copo levantado, em cada reunião familiar, em cada aniversário: "De hoje a um ano!!"

***

Sobre a perda de sua virgindade, lá quando tinha 15 anos, o que acabou lhe rendendo uma gravidez não planejada que eu viria muitos anos depois chamar de vó. Meu pai, muito filho da puta, se aproveitando de um pileque da Velha Bisa, fazendo perguntas indiscretas:

"Foi com o vô, vó?"
"Foi"
"Onde é que foi, vó?"
"Ora, filho, foi no chão mesmo!"
"No chão, vó ?!"
"É, filho....eu não queria, mas ele pediu com tanto jeito..."

***

Perto da morte, a velha internada na Santa Casa, alternando momentos de delírio com lucidez. Doidona, pira com o Lexotan, chama pelos mortos e pelos vivos, diz que vai para a sala "aguar as prantas", xinga as enfermeiras em momentos de filme "O Exorcista". Ao mesmo tempo tem uma pressão 12 por 8 e força suficiente nas pernas para impedir o trabalho da fisioterapeuta.

Há quatro dias sem cagar, a médica receitou um supositório para a velha. Vêm duas enfermeiras, colocam a velha de lado, tiram o fraldão, dobram a perna dela com algum esforço para fazer a introdução, quando diz a Isabel:

"Ô moça, cuidado aí, hein!!"

Versão ampliada de um texto publicado em 04/06/2004 no meu outro, já finado, blog.

De minhas origens

Na era pré-container, "avarias" era a forma como eram registradas as mercadorias desviadas do cais para o mercado negro que supostamente teriam se quebrado ao descarregar. Impressionante como dava "avaria" no turno noturno das docas, quando meu avô trabalhava. Por razões desconhecidas, as "avarias" ocorriam com freqüência maior em carregamentos de bebidas. Meu velho se emociona até hoje quando conta a primeira vez que tomou um Anis del Mono, em um Natal de sua infância - uma guloseima nova. Era uma das "avarias" de meu avô, que ele trouxe para animar aquele Natal, o que deu origem a uma das poucas tradições natalinas de minha família.

Dava tanta "avaria" que o velho do meu velho conseguiu reunir o capital inicial para largar o emprego e abrir um boteco em uma esquina perto do porto, no que é hoje o final da Avenida Pedro Lessa, lá pelos idos de 1952. Meu velho tinha menos de seis anos e a família morava no andar de cima do bar. O empreendimento do meu avô foi financiado com "avarias" para sustentar o alcoolismo de seus antigos colegas portuários.

Como o dinheiro do bar era pouco e a inadimplência alta, meus avós logo tiveram que apelar para métodos menos ortodoxos para complementar o caixa. Meu avô passou a abrigar um posto avançado do jogo do bicho em uma mesa discreta no caminho do banheiro, em troca de pequena comissão. Minha avó provavelmente era uma das razões do caixa baixo, pois ela também costumava dar "avarias" no estoque do bar para aplacar sua viciada sede, mas logo achou uma forma de compensar o prejuízo.

Alguns jovens freqüentemente passavam no bar a caminho do cais, deixavam um café na pendura e ainda pediam um trocado para minha avó. Ela emprestava, sabendo que o dinheiro seria usado para comprar maconha, mas como ao fim do dia os moleques voltavam com o dinheiro mais alguns camarões frescos de presente para o jantar, uma forma de juros, a velha de meu velho não via muito problema.

Um belo dia, um freguês aparece no bar com um vaso grande e uma planta que a velha de meu velho nunca tinha visto no jardim. "Sabe o que é isso, Dona Guiomar? É maconha...". Imbuída do espírito capitalista, ela resolveu abandonar a operação de financiamento. Trocou a pendura que o cliente tinha no bar pela plantinha e passou a fornecer diretamente a mercadoria, cortando assim intermediários e contribuindo para a maior eficácia da circulação de bens daquela região, em benefício, obviamente, dos consumidores. O preço caiu, a qualidade subiu, os negócios prosperaram...isso acabou levando ao fechamento do bar, mas esse assunto é tabu na família e as circunstâncias precisas do fim do empreendimento não chegaram aos ouvidos de minha geração.


Reedição de um texto publicado em 30/04/2004 no meu outro, já finado, blog. Historinha baseada em fatos reais, com exceção da minha vó ter sido traficante de drogas.

02 janeiro 2006

Eu adoro a internet II ...

....onde mais eu poderia ouvir a nata do Pop-Ska coreano???

"Tteot-ta geu-nyeo!! (There she is!!)", da banda Witches, direto do www.sambakza.net.



Se você não entendeu, a letra está aqui.

Lúcia, se você achar este CD para mim eu vou te amar para sempre.


Já tinha feito menção a essa banda em meu finado primeiro blog, que surpreendentemente ainda está no ar. Nos próximos dias vou reeditar algum material de lá.

Das coisas mais perversamente engraçadas que já li....

...eu adoro a internet. Onde mais eu teria oportunidade de ler isto? (via LLL)

Das coisas mais perversamente engraçadas que já li. Se é obra de ficção, o estilo é hilariantemente sério. Se não é ficção, é de assombrar a diversidade humana nesse aspecto.

Deu todo um novo significado à minha planejada viagem para Fernando de Noronha... :)


Disclaimer dirigido à minha leitora bióloga que ama cetáceos: calma, calma, não estou falando sério sobre Noronha. Você não achará graça nenhuma no link.